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Alquimia e Magia
Alquimia e Hermetismo
«É muito rica a reflexão de Pessoa sobre a Alquimia (dada a conhecer em grande
parte por Yvette Centeno. A partir dos livros existentes na sua biblioteca, na
sua maioria de origem inglesa (Waite, Mathers) esperar-se-ia uma interpretação exclusivamente
"espiritual" ou "psíquica" da alquimia, aliás de
acordo com as concepções da "Golden
Dawn" e da sua equivalente Crowleiana A:. A:. e mesmo da O.T.O. ("Ordo
Templi Orientis" que Crowley chefiou e transformou); a propósito,
convém dizer que a rosacruciana e cabalística Ordem Hermética da Aurora Dourada
"Golden Dawn") foi
criada em 1888 por W. W. Wescott, […] e que influência terá tido em Pessoa, muito provavelmente, por via a
sua organização da A:. A:. (Astrum Agentum, que designa Àquela Eterna Ordem que Paul Foster Case
e Kenneth Mackenzie chamavam de “Invisível
e Verdadeira Ordem” e que Karl von Eckartshausen entitulou de "Igreja Interna" ou "comunidade de luz").
NOTA: A Alquimia é uma sabedoria tradicional
(ciência ou arte sagrada) que aspira à transmutação dos corpos por meio da sua
espiritualização, com a concomitante corporificação do espírito. Tem uma faceta
laboratorial, a histórica, em que se pretende a transmutação dos metais "imperfeitos"
em ouro, por meio do pó transmutatório, e a elaboração do Elixir da Longa Vida, ambos resultantes da Pedra Filosofal, a meta suprema
da Obra
Alquímica. A Alquimia, mesmo na sua dimensão física,
laboratorial, tem, pelas suas técnicas e pelo seu simbolismo, uma dimensão
sagrada, "espiritual", que parece difícil separar da sua dimensão
"material". O psicólogo
Carl-Gustav Jung acentuou, na sua vasta
obra, a dimensão psíquica e espiritual da alquimia.
De facto, esta interpretação da alquimia, claramente na
perspectiva do rosacrucianismo da Golden Dawn, existe em Pessoa. Por exemplo, ao referir os quatro estados da Grande Obra
alquímica, na qual, segundo ele, se verifica ‘a transmatação do inferior no Superior, sem alteração...’, Pessoa
refere que os quatro processos da Obra, são:
- 1) Putrefacção (…);
- 2) Branqueamento, a purificação do eu inferior que se segue à putrefacção (...) branqueamento (que) significa a emergência do eu superior e verdadeiro, depois de se ter afastado pela putrefacção o eu inferior e falso;
- 3) gradação (...) conhecimento gradual do Eu superior. Esta é a verdadeira iniciação, a obtenção gradual do conhecimento e da Conversação do Santo Anjo da Guarda;
- 4) Rubificação, realização completa.
Reforçando esta interpretação, ele refere noutro texto que
na putrefacção, ‘o iniciado tem que morrer para si mesmo, ou, antes, que morrer-se’.
Então, para o Poeta, a alquimia é, nesta perspectiva, ‘a transmutação do próprio homem’,
mas a essência e o segredo desta operação realiza-se ‘por meio do contacto com os
símbolos magicamente carregados’. E em consonância com isto, o "contacto" íntimo com os símbolos e
os mitos, onde escreve Pessoa:
- ‘Um mito pode não ser verdade, mas ser verdadeiro (...) Nisto, em que um mito pode ser Verdade, está uma das chaves da Alta M.(agia) A alquimia está nisto’.
Ora, este último parágrafo, que refere o contacto com os símbolos magicamente
carregados e, com os mitos, quer sejam verdadeiros, ou verdade, vai
estabelecer a ponte para a interpretação, por parte de pessoa, da alquimia
laboratorial, que ele conhecia, pelo menos, através do Tratado português do
século XVIII, Ennoea, ou a Aplicação do Entendimento sobre a Pedra Filosofal,
de Anselmo Caetano Munhoz e Castelo Branco, livro que pertencia à sua
biblioteca». In José
Manuel Anes, Fernando Pessoa e os Mundos Esotéricos, Ésquilo 2008, ISBN
978-989-8092-27-4.
Cortesia de Ésquilo/JDACT