As Fontes
«A fonte fundamental para o estudo de Viriato é Apiano, que nasceu em Alexandria mas
viveu em Roma no século II d.C. A sua obra baseia-se na de Políbio, historiador
contemporâneo e ligado à casa dos Cipiões por laços de amizade. Políbio
é um bom conhecedor de assuntos militares e portanto revela grande
objectividade ao falar da guerra lusitana, salientando a má condução da mesma
por parte de Roma, e a grande coragem e habilidade militar e guerreira de Viriato.
Outra fonte fundamental é Diodoro de Sicília, que embora se
baseie em Posidónio, que certamente usou Políbio, segue, contudo, uma
outra via relativamente aos detalhes da descrição das matérias em questão,
nomeadamente pela análise minuciosa e reflexão acerca da culpabilidade
política. Posidónio adultera a exposição dos factos para favorecer as
suas amizades: por exemplo, quando atribui a culpa do assassinato de Viriato não a Cepião mas aos
seus assassinos materiais.
Ambas as descrições se apoiam no conhecimento directo e são
especialmente relevantes. A descrição de Políbio conserva-se em Estrabão,
e a de Posidónio em Diodoro.
Temos acesso à versão oficial romana da guerra pelos Annales
de Tito Lívio, dos quais, infelizmente, apenas se conservam resumos e
algumas referências nos seus comentadores Floro e Orósio. Para além de dados
isolados que podemos encontrar em alguns autores clássicos, como Justino,
Eutrópio, Veleio Patérculo, Cícero, Aurélio Vítor, Frontino ou Sílio
Itálico, temos acesso a uma versão independente em Dião Cássio, que escreveu
em grego no século II da nossa era.
Consequentemente, para o estudo de Viriato apenas podemos recorrer a
fontes da parte dos romanos, ou seja, dos seus inimigos políticos. Na tradição
oral ibérico-lusitana, ou nalguma escrita desconhecida, não há nada sobre a sua
pessoa e se alguma coisa houvesse, teria sido, certamente, modificada e manipulada
pelos romanos.
Tela do mestre Carlos Alberto Santos
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Nome e Origem
Habitualmente, o nome Viriato
escreve-se apenas com um t, embora
também apareça com th, Viriatho,
grafia derivada do nome em grego Oúriathos, de que se encontram
múltiplas variantes; variantes da versão latina, pelo contrário, são raríssimas
e devem-se, sobretudo, a corrupções.
O nome Viriato deriva do
ibérico viria, que significa pulseira, uma abreviatura do celta viriola.
Nada tem a ver com o termo latino vires ‘homem’, ‘varão’, como
alguns gramáticos sustentaram, e a derivação a partir desse termo latino é pura
ficção. Viriato corresponde,
portanto, ao termo latino Torquatus, que teria o mesmo
significado. O nome é mais céltico do que ibérico como provam os topónimos e
inscrições que foram encontrados nas províncias do Danúbio, da Gália Cisalpina
e na Provença, e é frequente na Lusitânia Setentrional e Meridional, onde havia população celta.
Segundo Estrabão e Diodoro, os celtas gostavam muito de pulseiras de ouro
e de prata. As estátuas dos guerreiros galaico-lusitanos aparecem com estes
adornos. Em Portugal, também foram encontradas, com frequência, esculturas de
figuras com pulseiras.
No que se refere ao seu local de nascimento, ou seja, à sua pátria,
devemos partir do que nos é dito por Schulten, igualmente adoptado pela
historiografia posterior. Schulten escreveu o seguinte:
- ‘Viriato é originário da Lusitânia Ocidental que confina com o Oceano, e mais precisamente da montanha. A sua pátria parece ter sido a Serra da Estrela, que domina a região situada entre o Tejo e o Douro. A Lusitânia propriamente dita, o Mons Herminius, era desde há muito o local onde se concentrava a guerrilha lusitana que nestes desfiladeiros selvagens continuava a resistir a César Ainda hoje vive nesta região uma raça livre e selvagem com as suas ovelhas e cabras, no meio da solidão e das privações’.
Schulten fundamenta as suas afirmações em Diodoro de Sicília que
atribui a Viriato uma origem
lusitana, mais concretamente, que nascera na parte ocidental do território,
perto do Oceano. Na realidade, todas as fontes antigas aceitam o carácter
lusitano de Viriato. Mas nem todos admitiam que Viriato fosse de origem
lusitana». In Maurício Pastor Muñoz, Viriato La Lucha por La Liberdad, Viriato, A
Luta pela Liberdade, Alderabán, Ediciones,SL, 2000, Ésquilo, Lisboa, 2003, ISBN
972-8605-23-4.
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