sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Tratado dos Feitos de Vasco da Gama e de seus filhos na Índia. Diogo do Couto. «Não pode ele ser confundido de modo algum com a “Vida e feitos de D. Vasco da Gama, descobridor da Índia, e dos mais, fidalgos daquela família que militaram na Índia”, da autoria de Francisco de Andrade»

Nau do primeiro quartel do séc. XVI, pormenor de Vida e Martírio de Santa Auta
jdact

«Uma introdução à leitura da obra inédita de Diogo do Couto sob o título, repare-se nos elementos principais que o compõem Tratado de todas as cousas socedidas ao valeroso capitão DomVasco da Gama primeiro Conde da Vidigueira: Almirante do mar da India: no descobrimento, e conquistas dos Mares e Terras do Oriente: e de todas as vezes que ha India passou, e das Cousas que Socederão nella a todos seus filhos aconselha que, antes do mais, a submetamos à crítica externa.
Assim, temos conhecimento da mesma haver sido referenciada por Diogo Barbosa Machado, pelo que decidimos inserir nesta publicação a Notícia dos Authores, que Escreveram de Diogo do Couto E Catalogo das Obras que Compos, extrahidas da Bibliottheca de Diogo Barbosa Machado, transcrita, aliás, na Parte Primeira, Década IV, da Asia, de Diogo do Couto, Lisboa, na Regia Officina Typografica, Anno MDCCLXXVIII, pp. XX-XXVI. Concretamente, quer o título, quer o plano da obra (duas Partes, a primeira com 28 capítulos e a segunda com 30), quer ainda a alusão a que o referido Tratado foi feito em Goa a 16 de Novembro de 1599, data de uma carta em que Couto o dirige ou dedica a Francisco da Gama, conde da Vidigueira, vice-rei e bisneto do descobridor da Índia, constituem indicadores, em nosso entender, suficientes para conferir identidade própria ao documento que agora divulgamos.
Por sua vez, Francisco Pereira, ao publicar em 1898 (Lisboa, Imprensa Nacional) o Tratado composto por Miguel de Castanhoso sob o título Dos Feitos de D. Christovam da Gama, uma das contribuições da Sociedade de Geografia de Lisboa para precisamente assinalar e Quarto Centenário do Descobrimento da India, escreve:
  • ‘No Manuscrito B-6-14 da Bibliotheca Nacional de Lisboa, attribuido a Diogo do Couto, referem-se os successos de D. Vasco da Gama e de seus filhos no Oriente. Este manuscripto é um livro de papel de 207 folhas de 0m, 29 x0,21m, encadernado, escripto com tres letras differentes do seculo XVIII. Tem por titulo: Tratado de todas as cousas socedidas ao valeroso capitião Dom Vasco da Gama primeiro conde da Vidigueira: Almirante do Mar da India no descobrimento, e conquistas dos Mares, e Terras do Oriente: e de todas as vezes que ha India passou, e das cousas que socederam nella a todos seus filhos. Dirigido a D. Francisco da Gama conde da Vidigueira Almirante do mar Indico, e visorrei da India. Por Diogo do Couto Cronista e Guarda mor da Torre do Tombo da India. A dedicatória é datada de Goa de 16 de Novembro de 1599. O tratado compõe-se de duas partes; na primeira contam-se os sucessos de D. Vasco da Gama nas suas três viagens á India; na segunda referem-se os feitos de seus filhos D. Estevam, D. Paulo, D. Christovam e D. Pedro da Silva no Oriente. A narração é idêntica á das Decadas da Asia de Barros e de Couto, umas vezes abreviada, e outras reproduzida verbalmente’.
Entre 1898 e 198O, data da publicação da 3.ª edição (Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora) de O Soldado Prático, de Diogo do Couto, com texto restituído, prefácio e notas por M. Rodrigues Lapa, o verbete do Tratado foi alterado e passou a andar deslocado. Mas, é melhor citarmos a Nota da página 13 da referida edição de O Soldado Prático:
  • ‘À última hora encontrámos na Biblioteca Nacional de Lisboa um manuscrito de Couto (nº 462), cujo verbere andava lamentavelmente deslocado do catálogo do Fundo Geral. É o Tratado de todas as cousas sucedidas ao valeroso capitão D. Vasco da Gama… no descobrimento e conquista dos mares e terras do Oriente. É, em suma, a crónica dos feitos de Vasco da Gama e de seus filhos, encomendada a Couto pelo vice-rei Francisco da Gama e terminada em Goa, a 16 de Novembro de 1599’.
Aliás, na folha de rosto do manuscrito que transcrevemos estão insertas ambas as cotas: B-6-14 e n.º 462.
Não pode ele ser confundido de modo algum, portanto, por exemplo, com a Vida e feitos de D. Vasco da Gama, descobridor da Índia, e dos mais, fidalgos daquela família que militaram na Índia, da autoria de Francisco de Andrade, embora, como lembrava António Coimbra Martins, em artigo publicado em 1981 (Paris, Fundação Calouste Gulbenkian), nos ‘Arquivos do Centro Cultural Português’, XVI, pp. 283-85, sob o título ‘Quem Na Estirpe Seu Se Chama…’ ‘l'un et l'autre demeurent inédits’». In Diogo do Couto, Tratado dos Feitos de Vasco da Gama e de seus filhos na Índia, organização de José Azevedo Silva e João Marinho Santos, Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras, Edições Cosmos, Porto, 1998, ISBN 972-762-081-7.


continua
Cortesia da FL da U. de Coimbra/JDACT