domingo, 8 de setembro de 2019

A Rainha D. Beatriz e a sua Casa. Vanda Lisa L. Menino. «… Cristóvão Rodrigues Acenheiro que redigiu a Chronicas dos Senhores Reis de Portugal, no ano de 1535, publicada pela primeira vez em 1824, pela Academia Real das Ciências de Lisboa…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia a Vanda Lisa Lourenço Menino

«(…) De um modo geral, em todas as crónicas, a soberana está presente em alguns momentos importantes do reinado de seu marido, mas trata-se, essencialmente, de referências dispersas e quase sempre associadas à sua função pública de mulher do monarca reinante, olvidando-se as notícias ligadas às suas actividades próprias. Como vimos, em alguns textos cronísticos apenas se regista um simples apontamento que recorda dona Beatriz como mãe e avó. Esta referência remete-nos para a posição que a rainha ocupava numa dimensão familiar e dinástica, num momento em que a história das mulheres se encontrava, quase sempre, subalternizada face à história dos príncipes e dos monarcas reinantes. Dispensamo-nos de falar da cronística portuguesa posterior a Fernão Lopes porque, de um modo geral, ela limitou-se a seguir a Crónica de 1419, assim como os acrescentos de Rui Pina, nas Crónicas dos Sete Primeiros Reis de Portugal. Este silêncio pode estar relacionado com o facto de a Coroa portuguesa revelar, no inicio da Época Moderna, um maior interesse em exaltar a história dos reis mais próximos, em detrimento dos reis da primeira dinastia. No entanto, gostaríamos de destacar, por um lado, Cristóvão Rodrigues Acenheiro que redigiu a Chronicas dos Senhores Reis de Portugal, no ano de 1535, publicada pela primeira vez em 1824, pela Academia Real das Ciências de Lisboa, na Colecção Inéditos de História de Portugal, tomo V. A sua Crónica abarca o período compreendido entre o conde Henrique e João III. Porém, os seus relatos limitam-se a resumos e extractos de crónicas anteriores, restringindo-se a uma narração sucessiva dos factos régios. Um outro cronista que gostaríamos de destacar foi Duarte Nunes Leão (1530-1608), que se notabilizou por reformular as antigas crónicas do reino, iniciando a sua narrativa com o conde Henrique. Era seu objectivo declarado escrever uma história de Portugal depurada de erros e falsas versões (Duarte Nunes declara que se fundou em matérias históricas para se abalançar à obra de revisão que era digna da memória histórica dos primeiros reis. Coligiu informes novos; consultou as crónicas de Espanha; analisou documentos da chancelaria; verificou cartórios notariais e códices dos mosteiros; estudou problemas canónicos).
Assim, podemos afirmar que, ao nível da cronística, muitos dos nossos autores limitaram-se a tecer elogios sobre esta consorte que seria dotada de grande piedade, temor a Deus e outras virtudes. Nas crónicas existem, como já referimos, dois episódios que são sempre narrados e associados à rainha e nos quais surge sempre como mediadora da paz. Com o objectivo de colocar termo à guerra que eclodiu em 1336 entre Portugal e Castela, encontrou-se, em Badajoz, com o rei Afonso XI de Castela, seu sobrinho e genro; no entanto, e como já mencionámos, este encontro não teve o desejado sucesso. O segundo episódio está relacionado com a revolta que Pedro moveu contra seu pai em 1355 devido ao assassinato de dona Inês de Castro. A rainha teve neste trágico momento uma acção decisiva para o restabelecimento da paz entre o marido e o filho, ao conseguir que as partes em conflito alcançassem um acordo que foi estabelecido em Canaveses. A maioria dos cronistas reconhece apenas estes dois actos de maior relevo e importância na vida desta rainha.
No século XVII, e sob a égide do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, foi escrita a primeira tentativa de uma história nacional completa e já afastada dos modelos da crónica medieval, a Monarquia Lusitana. Nesta obra, redigida totalmente em língua portuguesa, a exaltação do passado e a apologia nacional são pontos fundamentais. Recorde-se que nesta época o bilinguismo peninsular aceitava que as temáticas nacionais fossem compostas no idioma do país vizinho. Foi assim que, no final do século XVII, em 1672, frei Francisco Brandão, monge cisterciense de Alcobaça, publicou a Sexta Parte da Monarquia Lusitana, referente ao reinado de Dinis I, e o beneditino frei Rafael Jesus publicou a Sétima Parte desta importante obra da nossa historiografia, em 1683, na qual se ocupou de todo o reinado de Afonso IV. O ponto de partida para estas duas partes foi a crónica de Rui Pina, à qual devemos associar informações coligidas pelos respectivos autores, ao nível da leitura documental. No entanto, esta era muitas vezes efectuada sem aplicação da crítica histórica. O trabalho de frei Rafael Jesus é, por um lado, o menos erudito nas palavras e, por outro, o menos rico de informação, porque o autor se baseou, quase exclusivamente, na Crónica de Rui Pina e não procurou documentação nova nem tratou de corrigir as inexactidões do cronista de Quinhentos. Na Monarquia Lusitana encontramos mais informação referente à infanta Beatriz na Sexta Parte, ou seja, no livro dedicado ao reinado de Dinis I, do que na Sétima Parte, que relata o reinado de Afonso IV, no qual dona Beatriz é rainha de Portugal». In Vanda Lisa L. Menino, A Rainha D. Beatriz e a sua Casa (1293-1359), Tese de Doutoramento em História, Universidade Nova de Lisboa, FCSHumanas, 2012, Wikipedia.

Cortesia de UNL/FCSH/JDACT