segunda-feira, 30 de setembro de 2019

O Mistério das Catedrais. Interpretação Esotérica. Fulcanelli. «Se a matéria não estiver corrompida e mortificada, diz essa obra, não podereis extrair os nossos elementos e os nossos princípios; e para vos ajudar nessa dificuldade dar-vos-ei sinais para a conhecerdes»

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Paris
«(…) Mas esta negrura que o artista aguarda com ansiedade, cuja aparição vem satisfazer os seus votos e enchê-lo de alegria, não se manifesta apenas durante a cocção. O pássaro negro aparece em diversas ocasiões e essa frequência permite aos autores lançar a confusão na ordem das operações.
Segundo Le Breton, quatro putrefações na Obra filosófica. A primeira, na primeira separação; a segunda, na primeira conjunção; a terceira, na segunda conjunção, que se faz entre a água pesada e o seu sal; a quarta, finalmente, na fixação do enxofre. Em cada uma destas putrefações produz-se a negrura. Tornou-se, portanto, fácil aos nossos velhos mestres cobrir o arcano com um véu espesso, misturando as qualidades específicas das diversas substâncias no decorrer das quatro operações que patenteiam a cor negra. Desta maneira, é muito trabalhoso separá-las e distinguir nitidamente o que pertence a cada uma delas. Eis algumas citações que poderão esclarecer o investigador e permitir-lhe reconhecer o seu caminho neste tenebroso labirinto:

Na segunda operação, escreve o Cavaleiro Desconhecido o artista prudente fixa a alma geral do mundo no ouro comum e torna pura a alma terrestre e imóvel; nessa dita operação, a putrefacção, que eles chamam a Cabeça do Corvo, é muito longa; esta é seguida de uma terceira multiplicação, juntando a matéria filosófica ou a alma geral do mundo.

Há aqui, claramente indicadas, duas operações sucessivas, cuja primeira termina, começando a segunda após a aparição da coloração negra, o que não é o caso da cocção. Um precioso manuscrito anónimo do século XVIII fala assim dessa primeira putrefacção, que não se deve confundir com as outras:

Se a matéria não estiver corrompida e mortificada, diz essa obra, não podereis extrair os nossos elementos e os nossos princípios; e para vos ajudar nessa dificuldade dar-vos-ei sinais para a conhecerdes. Alguns Filósofos também o observaram; Morien diz que é necessário que se note alguma acidez e que tenha um odor de sepulcro; Filaleto diz que é necessário que ela tenha a aparência de olhos de peixe, ou seja, de pequenas bolhas à superfície, e que pareça que espuma; porque é um sinal de que a matéria fermenta e borbulha. Esta fermentação é muito longa e é preciso ter grande paciência, porque se faz pelo nosso fogo secreto, que é o único agente que pode abrir, sublimar e putrificar.

Mas de todas estas descrições as que se referem ao Corvo (ou cor negra) da cozedura são, de longe, as mais numerosas e as mais consultadas porque englobam todos os caracteres das outras operações. Bernardo, o Trevisano, exprime-se desta maneira: notai então que quando o nosso composto começa a estar embebido da nossa água permanente então todo o composto se converte numa espécie de resina fundida e fica todo enegrecido como carvão. E ao chegar a esse ponto o nosso composto é chamado resina negra, sal queimado, chumbo fundido, latão não puro, Magnésia e Melro de João. Porque nessa altura vê-se uma nuvem negra, flutuando na região média do vaso, de bela e suave maneira, ser elevada acima do vaso e no fundo deste está a matéria fundida, semelhante a resina, que ficará totalmente dissolvida. Dessa nuvem fala Jacques do burgo S. Saturnin, dizendo: ó bendita nuvem que voas pela nossa redoma! Lá está o eclipse do sol de que fala Raymond». In Fulcanelli, 1926, Le Mystère des Cathédrales, 1964, O Mistério das Catedrais, Interpretação Esotérica dos símbolos herméticos, Edições 70, 1975, Lisboa, Colecção Esfinge.

Cortesia de E70/JDACT