sábado, 11 de novembro de 2023

Dona Teresa. Isabel Stilwell. «Teresa, com o corpo esguio, a pele imaculada, os olhos verdes realçados por pestanas longas, não demoraria muito a saber usar a beleza a seu favor»

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Três Irmãs na Corte de Leão (1086-1094

S. Pedro de Montes, Bierzo, Abril de 1086

«Teresa pareceu ler-lhe os pensamentos, e repetiu-lhe o que Ximena tantas vezes lhes dizia: Levanta a cabeça quando andas. És filha do imperador das Espanhas e da senhora do Bierzo. Nunca te esqueças disso. Atravessaram o arco no muro da horta do Mosteiro de S. Pedro de Montes e entraram pela porta de acesso às cozinhas, uma porta pesada de madeira que rodava com ruído nos gonzos, sempre aberta para que os irmãos menores pudessem ir deitar os restos aos porcos e às galinhas, e aos pobres...

A correr em bicos de pés, procurando não dar nas vistas, as irmãs subiram à torre alta, do lado esquerdo da igreja, onde a senhora do Bierzo se hospedava em S. Pedro de Montes. A ama recebeu-as aos gritos, agarrando Teresa pela gola da capa e abanando-a furiosa: Não vos tinha dito que hoje não havia saídas? E dona Teresa, o que faz outra vez com essa espada, não sabe que só a pode usar durante as lições?

As infantas nem tentaram protestar, deixando-se enfiar na tina de água morna, onde a criada as lavou com sabão de azeite e cinzas, até quase lhes arrancar a pele. Menina Teresa, deixe essas mãos de molho, ouviu? Olhe para essas unhas?! Teresa, com os olhos a arder do sabão, ainda respigou. A ama inspirou fundo. Não podia dizer que não sabia a quem a infanta saía, tanto o pai como a mãe só faziam o que queriam. Teresa, com o corpo esguio, a pele imaculada, os olhos verdes realçados por pestanas longas, não demoraria muito a saber usar a beleza a seu favor. A determinação faria o resto. E se estivesse caladinha e fizesse como a sua irmã, que já está vestida e pronta?

Elvira deixava que a criada lhe deitasse umas pingas de limão no cabelo para o tornar mais sedoso e fácil de pentear. Vestida com uma camisa de linho, coberta por uma túnica de burel, presa acima do ombro direito por um alfinete de pedras preciosas, os sapatos de bico de um couro de cordeiro fino, estava linda. Teresa lançou-lhe um olhar misto de inveja e orgulho. Ama, achas que o meu pai vai gostar mais dela?, perguntou, baixando a voz. A ama enrolou-a na toalha para a secar, beijando-a de fugida. Aquela sua menina era sol e lua, trovão e brisa. Afagou-lhe os cabelos com ternura, se a soubessem levar seria leal até à morte.

Teresa e Elvira, desçam com cuidado, sem tropeçar, recomendou uma das damas da mãe. Elvira suspirou impaciente. Porque diziam sempre Teresa e Elvira, e não Elvira e Teresa? Não valia de nada ter nascido um ano antes, ser a primogénita de Afonso VI, se a deixavam sempre para segundo lugar, ou para terceiro, se contasse com a irmã Urraca...

Os cânticos dos frades nas vésperas ecoavam nas paredes de pedra do mosteiro a gratidão pelos dons recebidos nesse dia agora que o Sol dava lugar ao brilho de Vénus, neste mosteiro escondido na serra mas que, nos últimos anos, crescera ao ponto de se tornar num dos mais importantes do Bierzo». In Isabel Stilwell, Dona Teresa, Livros Horizonte, 2021, ISBN 978-972-242-003-7

Cortesia de LHorizonte/JDACT

JDACT, Isabel Stilwell, História, Conhecimento, Literatura, O Saber,