«Já longe iam os anos em que ainda vigorava a concepção de Ptolomeu sobre o oceano Índico como um mar fechado, um lago gigante cercado de terra, com a ponta sul de Africa falsamente ligada a uma hipotética terra alongada desde o sul da Ásia. olhando para o canto superior direito do mapa de Henricus Martellus de 1490-1491, pode ver-se representada uma ilha de dimensões enormes, baptizada pelo autor como Cipango (Japão). Há, no entanto, um problema em relação a esta ilha de Cipango, se for considerada como uma representação do Japão: está situada muito longe das costas da então Catai, a China, em pleno oceano, a mais de meia distância da Ásia para a Europa.
O mapa mostra um grande oceano a
leste da Ásia, o Pacífico, como se este estivesse fundido com o Atlântico e, no
meio dos dois, uma estranha ilha cujo formato e localização não pode ser o
verdadeiro Japão. Se o fosse, teria de estar muito mais próximo da Ásia. Na
verdade, a ilha de Cipango do mapa de Henricus Martellus está a apenas um terço
de distância da Europa e a mais de dois terços da Ásia.
Em resumo, por mais que se tente
forçar a comparação, as coordenadas geográficas deste território não podem ser
as mesmas do verdadeiro Japão. Se seguirmos a escala de longitude desenhada no
friso inferior do mapa de Henricus Martellus, transpondo os valores para a
escala moderna que tem o meridiano de Greenwich como o ponto de partida e de
chegada, 0/360 graus, verificamos que a Cipango está situada entre os 75 e os
80 graus de longitude oeste, em relação à Europa Ocidental.
Considerando a escala das
latitudes à direita, bem como as linhas do Trópico de Câncer e do Equador,
vemos que a grande ilha de Cipango está posicionada na direção noroeste-sueste,
sensivelmente entre os 15 e os 30 graus de latitude norte.
Cruzando as duas
coordenadas, longitude e latitude, somos forçados a concluir que o território
chamado Cipango é, nada mais nada menos, do que... a Florida.
Olhando agora para um planisfério
moderno, podemos imediatamente verificar que as coordenadas da península
americana da Florida são as seguintes:
- Entre 25 e 30 graus de latitude
norte;
- Entre 78 e 80 graus de
longitude oeste;
Tamanha semelhança entre o
posicionamento da Cipango de Henricus Martellus e da Florida dos mapas modernos
não pode ser pura coincidência. Mas há mais características comparáveis entre
os dois territórios. Desde logo, o formato e o contorno das costas são
surpreendentemente idênticos.
Para uma detalhada visualização
destas semelhanças, pedimos agora ao leitor para ampliar a imagem de Cipango do
mapa de 1490. A melhor ferramenta informática para o fazer está disponível num
artigo publicado no sítio da National Geographic Magazine, intitulado A 500
year old map used by Columbus reveals its secrets, acessível através do seguinte
link: https://www.nationalgeographic.com/culture/article/columbus-map-discovery-secrets-newwold
Uma vez no artigo, peço ao leitor
que, quando chegar à frase: …you can play around with an interactive map
created by one of Van Duzer's colleagues, clique na palavra here.
O leitor acede imediatamente ao mapa interactivo de Henricus Martellus de
1490-1491., que é fruto de uma investigação aprofundada de Chet Van Duzer,
professor universitário e investigador da Biblioteca do Congresso dos EUA, e da
sua equipa. Graças a esse trabalho, é possível ampliar ou reduzir as partes do
mapa que se desejar.
Ora, quando se amplia o
território de Cipango, a imagem que se obtém é a que se pode observar na página
24 deste livro. Como facilmente se verifica, são surpreendentes as semelhanças
entre o mapa desenhado há mais de meio milénio por Henricus Martellus e a actual
imagem da Florida no Google Maps. Estas semelhanças entre os dois mapas
existiriam contra todas as probabilidades se ambos não fossem duas
representações do mesmo território e das mesmas costas situadas no mesmo mar
das Caraíbas». In José Gomes Ferreira, O Segredo da Descoberta Portuguesa das
Américas, Oficina do Livro, chancela LrYa, 2022, ISBN 978-989-661-557-4.
Cortesia de OdoLivro/JDACT
JDACT, José Gomes Ferreira, História, Conhecimento, Caso de Estudo, Literatura,