«Eles não têm absolutamente nada em comum. Lady Reyna é uma mulher virtuosa e erudita, que preferia morrer a quebrar uma promessa ou voto. Ian de Guilford é um sensual mercenário, um cavaleiro errante cujo temperamento fogoso lhe valeu a alcunha de Senhor das Mil Noites. Ela não conhecia a sua fama quando, fazendo-se passar por cortesã, transpôs as linhas inimigas com um plano desesperado para salvar o seu povo. Agora que está frente a frente com o guerreiro a cujos encantos, diz-se, é impossível resistir, Reyna apercebe-se de que subestimou o seu inimigo. Ele está decidido a tudo para subjugar a sua virtude. A bem do seu povo, ela não pode ceder... e a sua audácia leva-a a fazer algo com que nunca sonhou: pôr em jogo o seu coração».
Fronteira
Escocesa, 1357
É
importante que ele beba o vinho todo antes de tentar despir-vos. A instrução era somente a última de uma
litania de avisos que Reyna ouvira enquanto avançava às apalpadelas pelo túnel
cavernoso. Apertou a mão grossa da mulher maternal que a acompanhava. Farei tudo como planeado. Parecem um bando de
rufias e este cerco deve ser entediante. Ele deve ficar satisfeito por poder
distrair-se. À maior parte dos homens, só lhes interessa uma distração, minha
filha. É esse o perigo, não é? Não vos
preocupeis com isso.
A
escuridão total do túnel aterrorizava Reyna, que por isso se apressava, com uma
mão segura na de Alice e a outra na parede. Sons ressoavam através da pedra que
ela tocava. Sapadores escavavam o seu próprio túnel não muito longe deste. Ao
longo dos meses, ela viera até esta saída secreta, de archote na mão, e
pusera-se à escuta, a averiguar os progressos deles. A princípio não se
preocupara, porque chegaria seguramente ajuda antes de eles completarem o seu
trabalho. Não era um exército grande, o que cercava a casa-torre, e uma pequena
hoste, tanto de Harclow como de Clivedale, conseguiria facilmente levantar o
cerco. Mas não lhes chegara auxílio nenhum e agora seria uma questão de dias
até os sapadores alcançarem a muralha exterior. Ainda mais preocupante era uma
segunda escavação, que avançava no lado sul da fortaleza.
As
mulheres depararam com um cotovelo apertado, à direita. Um fiapo de luz
infiltrava-se pela abertura estreita, escavada por trás de uma formação rochosa
que a ocultava. Arbustos espessos providenciavam uma camuflagem adicional, e só
alguém que examinasse cuidadosamente todo o terreno tinha alguma hipótese de a
encontrar. Este exército não o fizera até então, e Reyna sorria com a ironia
daquelas escavações todas quando a poterna se encontrava a escassos passos de
distância. De manhã já sabereis se fui bem-sucedida, Alice. Ficai de vigia na
torre e alertai sir Thomas e Reginald. Reyna pegou no cesto que Alice
transportava e tentou aparentar coragem e calma. Vou primeiro à minha mãe, e de
lá para Edimburgo. Mando avisar-vos quando já estiver em segurança e podereis
vir ter comigo». In Madeline Hunter, Mil Noites de Paixão, 2002, Edições ASA, 2012, ISBN
978-989-231-672-7.
Cortesia de EASA/JDACT
JDACT, Madeline Hunter, Literatura, Idade Média,