quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Guimarães. D. Constança de Noronha: Parte IV. «Reivindicado pela Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, o jacente de D. Constança de Noronha regressou a esta igreja conventual onde, por sua vontade, quis ser sepultada. A Rainha Santa. ...Uma lenda. A presença da Rainha Santa Isabel no claustro franciscano de Guimarães tem livre curso pelo país inteiro»

Fotografia de Fernando J. Teixeira
Cortesiadevotguimaraes

Com a devida vénia a Belmiro Jordão e Fernando José Teixeira.

«Ao meio-dia do dia 1 de Outubro de 1938, a estátua jacente de D. Constança de Noronha foi retirada do local onde se encontrava, atrás do retábulo da igreja, e conduzida a título precário para o Museu de Alberto Sampaio.. Sugeriu A. L. de Carvalho que, após o seu restauro, recebesse a capela do Paço dos Duques de Bragança e pedra do sepulcro da santa duquesa, e havia certa lógica na sugestão porque ela aí tinha morado e aí falecera. Então, como ele sublinhou, “das janelas góticas que iluminam este recinto, dos vitrais que revestirão estas janelas, uma luz suavíssima, espiritualizada, talvez que nos ajude a recordar aquela Alta Dona que, no dizer das crónicas, morrera, por suas liriais virtudes, “em cheiro de santidade”.

Tal não aconteceu. Reivindicado pela Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, o jacente de D. Constança de Noronha regressou a esta igreja conventual onde, por sua vontade, quis ser sepultada. Cheguei a pensar que seria interessante colocar ao pé da estátua jacente uma placa onde fosse gravada a epígrafe atrás transcrita; mas desisti para não faltar à verdade: a epígrafe, em latim, diria que D. Constança de Noronha, descendente de Reis, e mulher do Duque, Dom Afonso, jazia escondida neste tumulo, ora, se é verdade que ela jaz escondida, a verdade é que não se esconde debaixo dessa pedra». In Fernando José Teixeira, Agenda Franciscana, Venerável Ordem Terceira de São Francisco, Guimarães, 2007.

Escultura em pedra da Rainha Santa, fotografia de Fernando J. Teixeira
Cortesiadevotguimaraes

A Rainha Santa. Uma lenda
O artigo de António Lino publicado na revista «Brigantia» sob o título “O Convento de S. Francisco de Guimarães: o Convento de S. Francisco de Bragança” abre com estas palavras:
  • “O Convento de S. Francisco de Guimarães traz-nos à lembrança o provérbio: «filho és, pai serás…», as lutas em 1322 entre o Rei D. Dinis e seu filho o Infante D. Afonso (futuro Rei D. Afonso IV), e em 1355 entre este Rei D. Afonso IV e seu filho o Infante D. Pedro (futuro Rei D. Pedro I), em seguida à tragédia da Morte de Inês de Castro, lutas a que a Rainha Santa Isabel pôs termo, em Guimarães, no claustro do Convento de S. Francisco”.
A lenda, porque de lenda se trata, da presença da Rainha Santa Isabel no claustro franciscano de Guimarães tem livre curso pelo país inteiro, porque já a ouvi repetida na boca de alguns guias turísticos que demandam a nossa igreja.
Lenda?... Porquê?... Por uma razão, uma só, que arruma esta história para o domínio da fantasia - em 1355, quando supostamente fez as pazes entre o seu filho, D. Afonso IV, e o seu neto, o infante D. Pedro, a rainha santa já não era do número dos vivos, pois jazia sepultada na igreja do mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, desde 1336.

Escultura em madeira da Rainha Santa, fotografia de Fernando J. Teixeira
Cortesiadevotguimaraes

Deve, no entanto, dizer-se, em abono da verdade, que não foi António Lino quem inventou esta lenda, pois já a encontramos em 1937 num opúsculo que A. L. de Carvalho dedicou ao Castelo de Guimarães. Denunciei a lenda no livro que escrevi em 2001, onde, depois de transcrever as palavras do cronista Rui de Pina que descrevem a reacção do infante D. Pedro ao saber da morte de Inês de Castro, citei as palavras cheias de dramático lirismo que A. L. de Carvalho acrescentou: “este Príncipe alucinado pela sua dor, cabeça em fogo, coração em chama, olhar em braza, declara guerra feroz e de extermínio a El-rei seu pai. A onda revolta dos seus partidários brame, rola, engrossa, levando na sua frente o amargurado Príncipe D. Pedro. Seu velho pai, acicatado pelas maldições da arraia-miúda, entre em Guimarães, barricando-se por detrás das suas altas e grossas muralhas». In Agenda Franciscana.

Cortesia de VOT de S. Francisco/JDACT