Identificação de ‘Gatuz’
«O sobrenome de Vicente Martins está presente em nossos dias
na herdade da ‘Torre do Curvo’, situada a noroeste do Monte do Alvarenga, não
longe do local onde a Ribeira de Tira-Calças desemboca na Ribeira Velha. Para
nordeste, situa-se a herdade da ‘Torre de Frade’.
NOTA: Carta Militar de
Portugal, pelo Serviço Cartográfico do Exército, na escala l: 25 000. A herdade
da Torre do Curvo situa-se a sudoeste da foz da Ribeira de Tira-Calças, a cerca
de 38º 55' 15" de latitude Norte e 1º 45’, de longitude Leste de
Lisboa. A herdade da Torre do Frade localiza-se a nordeste da mesma foz, a
cerca de 38º 55' 57" de latitude Norte e lº 45' 12" de longitude Leste de Lisboa.
- Ainda no século XIV, mas em data um pouco mais distante de nós, uma contenda entre o convento de Alcobaça e Estêvão Gonçalves, cavaleiro, vizinho de Vila Viçosa, por si e como representante de Sancha Anes, sua mulher, relacionou-se igualmente, com a área geográfica de que nos estamos a ocupar.
Jhoane, abade de Alcobaça, e o seu convento consideravam-se legítimos
proprietários de uma erdade que ha en termho d'Eluas en logo que chamam
Gatuz e, por tal, diziam que Estêvão Gonçalves Ihe tomara e tijnha
tomada per força hüa gram peça d[esse] erdamento d’Alcobaça.
Levada a questão perante um juiz, foi por este aceite a sugestão
de Estêvão Gonçalves de se deslocar ao local e achar, por homens-bons, a
verdade. Assim aconteceu. Contudo, antes que se acabasse ‘de filhar enquiriçom’, as
partes entraram em acordo. Propôs-se neste a divisão da herdade em duas,
tomando por limite comum ‘hüu rybeiro que uem dantre duas cabeças que
estam na dicta erdade per hu uay o camjnho d'Eluas pera Alcaraujça e como uaj o
dicto rybeiro affondo dantre as dictas cabeças entrar en Gatuz’.
Ficaria ‘a dicta Ordem com a dicta erdade des o dicto rybeiro
contra os penedos de Gatuz e o dicto caualeiro e sa molher com a outra [sic]
erdade des o dicto rybeiro contra Ueiros’.
- Julgado assim por sentença, do acto lavrou instrumento, aos ‘dez dias de Janeiro Era de mil e trezentos e sateenta e doos anos, ou seja em 1332, o tabelião de Elvas Estêvão Domingues, que apôs nele o seu sinal.
O mosteiro de Alcobaça já no século XIII possuía vários bens
no termo de Elvas. Em 1277 (Abril, 15), o abade de Alcobaça, Pedro, e o seu
convento, representado por fr. Durando, ao tempo celareiro, receberam de um tal
Estêvão Gonçalves, ‘pretori de Turribus
Nouis’, e de sua mulher, Estefânia Martins, as terras que estes tinham em
Torres Novas e emprazaram ao casal, sob condições de tempo, vida e reversão
para o convento, alguns dos bens que os alcobacenses tinham em Elvas, entre os
quais ‘unum herdamentum quod iacz in termino predicte villa de Elbis in loco
qui dicitur Gatuz (ou seja, uma herdade que jaz no termo da precitada
vila de Elvas, no lugar que chamam Gatuz. E acrescenta a carta: ‘quod
herdamentum fuit Petri Remondj’ (isto é, cuja herdade foi de Pedro
Reimonde).
NOTA: Este antigo possuidor será, segundo cremos, o
alcaide e sesmeiro de Elvas que em Abril de 1241 testemunhou a doação de um
herdamento no lugar de Monte Longo, junto à estrada de Arronches, no termo de
Elvas, ao mosteiro de Alcobaça, assim como a respectiva tomada de posse. Dos
actos foram lavrados documentos cujos originais se conservam no Arquivo
Nacional, em Lisboa.
Fica, assim, provado que ‘Gatuz’ é topónimo português
anterior a 1277, isto é, já existia mais de oitenta e seis anos antes de Vasco
Esteves fazer testamento. É, pois, sem dúvida, anterior ao seu nascimento». In
Mário Alberto Nunes Costa, Vasco Esteves de Gatuz e o seu Túmulo Trecentista em
Estremoz, Academia Portuguesa da Historia, 1993, ISBN 972-624-094-8.
continua
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