Razão mistérica
a Leonardo
Coimbra, filósofo do Mistério
«Os poemas dão a forma exacta
da alegria criadora da Origem
e os argumentos dão a presença
vaga
da dor redentora da existência,
só na exuberância inventiva e
imaculada
da graça
se reúnem em excelsa comunhão
o mundo espiritual e o mundo
material
dessa babel de palavras.
Poesia e filosofia encontram-se
na tarefa sublime
de procurar o coração da
realidade
e do alto da montanha
que o esforço reflexivo permitiu
escalar
um rasto de luz espiritual
inunda a vida.
Calam-se as vozes intolerantes
da crítica e da ambição
e as almas
encantadas pela presença do
Mistério
apontam para o destino glorioso
do Paraíso.
Trata-se da audaciosa e humilde
preparação para o voo abismal da
Morte
em que o brilho das flores é mais
vivo e forte
e o cheiro do bosque mais
intenso.
Na poesia
damos o salto imprudente
da alteridade imanente
das relações precárias e
dolorosas
para a alteridade transcendente
das relações eternas e felizes.
A harmonia do Universo
conquista-se na liberdade
criativa
da águia e do condor
e não na necessidade cronológica
da vida biológica e do movimento
astral,
Porque as flores silvestres
que nascem dessa ordem natural
nunca sabem de que terra são
e de que cor se faz o festim
com
os pássaros».
Poema
de Samuel Dimas,
in ‘Nova Águia’
JDACT