sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Tomar. Thomar Revisited. José Augusto França. «… que o sítio de Tomar se verifica ser ponto de cruzamento de acreditadas forças telúricas, caras aos Templários, e encontrar-se na linha que, em relação ao meridiano de Paris, forma um ângulo de 34º…»

Inscrição de Gualdim Pais em Sta Maria do Olival
jdact

Sítio e história
«(…) O concelho de hoje, inserido entre os de Ourém e de Ferreira do Zêzere, a norte, da Barquinha, a sul, de Abrantes, a leste, com o rio Zêzere em fronteira, e de Torres Novas, a oeste, tem uns 25 quilómetros de norte a sul e uns 20 de leste a oeste, em suas maiores distâncias. Rio e cabeço fronteiro foram certamente razões que determinaram Gualdim Pais a escolher o sítio para nele finalmente sediar a Ordem dos Templários, de que era 4.º ou 6.º mestre nacional, conforme a contagem, após ter sido comendador dela em Braga, e de nas suas hostes se ter batido na Palestina, durante cinco ou nove anos (discute-se o prazo), rico-homem de Entre-Douro-e-Minho, da nobre estirpe dos Ramirões, criado junto do próprio rei, ao que se julga, e por ele armado cavaleiro em Ourique, como se julga também. A opção de Tomar veio depois de o Mestre ter recebido as ruínas do castelo de Ceras (Castrum Caesaris, se supõe), junto à ribeira deste nome e, depois, do lugar de Alviobeira, a duas léguas para norte-nordeste. Impunha-se fundar ali, ou por ali, um forte castelo que, com outros em vizinhança, na Cardiga ou no ilhéu de Almourol, defendesse o acesso de Coimbra, pelo vale que subia de Santarém: seria ele em Ceras ou em Tomar, considerado seu território, por razões exactas que se ignoram, mas nas quais o rio muito provavelmente terá influído. Outras não deixam, todavia, de ser evocadas, de muito diferente categoria, ligadas à vida lendária do Templo. E seria assim que o sítio de Tomar se verifica ser ponto de cruzamento de acreditadas forças telúricas, caras aos Templários, e encontrar-se na linha que, em relação ao meridiano de Paris, forma um ângulo de 34º, significativo nos esquemas das construções da Ordem, correspondendo à diagonal da relação 2/3 que se observa na constelação de Gémeos, signo templário por excelência. E, mais, podem achar outros pesquisadores que, no seu saber esotérico, os cavaleiros do Templo se fixaram no paralelo equidistante dos lados norte e sul, do país calculado entre limites naturais que haviam de ser verificados pela História, gerando assim um duplo quadrado que está de acordo com o tema templário da duplicação que dois cavaleiros montados no mesmo cavalo logo significam, no seu emblema...
Ruínas que houvesse no alto escolhido, ou perto dele, que deixaram vestígios arqueológicos nas novas construções, elas foram remodeladas com três longas cintas de muralhas atorreadas que havemos de ver. A construção iniciou-se em 1160, no 1.º dia de Março (conforme reza lápide no sítio conservada), no ano seguinte à doação régia que ressalvou importantes direitos espirituais da Ordem, em situação de Nullius Diocesis, isto é, com directa sujeição ao papa, que seria bispo de suas terras, e foi Adriano IV e depois Urbano III, Inocêncio III e Honório III, em verificações sucessivas, até 1217. Foi esse acerto objecto de difícil trato com o bispo de Lisboa, logo em 1159, que exigia ali jurisdição sua, sobre aquela que a Santarém já tinha pertencido e que logo em 1147 o rei Afonso Henriques passara ao Templo. A autoridade lograda (e que só seria eclesiasticamente anulada em 1882) permitiu a Gualdim Pais, com seu talento administrativo, povoar rapidamente as terras que o castelo protegia, com gente vinda do Norte do país novo, dando aos seus habitantes um foral logo em 1162, inspirado no de Coimbra, e completado, doze anos depois, com definições jurídicas de carácter criminal, ao mesmo tempo que fazia edificar a Igreja de Sta. Maria do Olival, ou de Tomar, provavelmente aproveitando ruínas beneditinas; seria ela bailia, casa capitular e panteão dos mestres templários, na outra margem do rio, em antigo sítio de Sellium que fez dar à igreja também o nome popular de Sta. Maria do Selho, pelos séculos XII e XIII.
Mas, em 1190, Iacub ben Iuçuf Almançor, o último ilustre rei marroquino da Hispânia, da dinastia dos Almóadas, veio à Península repor os seus direitos de conquista, destruiu arredores de Lisboa e de Santarém, avançou sobre Leiria e cercou Tomar com 900 homens de armas, como informa uma lápide de leitura corrigida, no castelo. Mas não conseguiu vencer a resistência do duro velho, (A. Herculano) Gualdim Pais e dos seus cavaleiros que os vilões ajudaram, e retirou, enfim, com o exército desencorajado e doente, com inumeráveis perdas de homens e animais, e com esperanças perdidas de poder reapoderar-se da antiga Lusitânia. A resistência de Tomar, ponto-chave sobre Coimbra, assume assim um papel militar importantíssimo na consolidação do país afonsino, evitando atrasos ou retrocessos na sua história. Almançor morreria nove anos mais tarde, o mestre templário cinco. A sua biografia está resumida numa extensa lápide trazida para um muro do castelo, da fortaleza templária de Almourol». In José-Augusto França, Tomar, Thomar Revisited, Editorial Presença, Lisboa, 1994, ISBN 972-23-1846-2.

Cortesia de Editorial Presença/JDACT