terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Simbologia e esoterismo em Iniciação. Fernando Pessoa. Gisele Lemos «O corpo é a sombra das vestes que encobrem teu ser profundo. Vem a noite, que é a morte, e a sombra acabou sem ser, vaes na noite só recorte, egual a ti sem querer»

Cortesia de wikipedia

Repetição

«Fernando Pessoa participou de várias ordens ocultas como a Ordo Templi Orientis (fundada na Alemanha em 1902), estudou astrologia, cabala e alquimia como pode ser observado em inúmeros escritos de seu espólio; trocou correspondências com Aliester Crowley, ex-membro da Aurora Dourada (sociedade secreta fundada em 1888 na Inglaterra) e criador da doutrina Thelema. Sendo assim, introduzirei o assunto através de uma citação do próprio Fernando Pessoa, que merece destaque e uma pequena explicação: Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho esse extremamente perigoso, em todos os sentidos; o caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm. O primeiro caminho citado por Fernando é o da magia, incluindo tanto o espiritismo quanto a bruxaria. O espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas relações. Já á bruxaria é a arte de se harmonizar e interferir na natureza, considerada a manifestação suprema dos antigos deuses, inclui tanto as cerimónias sazonais, quanto os ritos em honra aos deuses. Os bruxos também se dedicam aos oráculos, feitiços, sortilégios, encantamentos e à fabricação de amuletos.
O segundo caminho para citado o oculto é o místico, ou seja, o da contemplação e crença no sobrenatural. E em terceiro, o alquímico que é o mais refinado pois trabalha no plano real para ter efeito no plano etéreo; a transmutação dos elementos químicos é apenas o intermediário para a transmutação e elevação da alma, como se lê em Iniciação à alquimia de Alberto Magno: A principal finalidade do trabalho dos alquimistas era a regeneração, o renascimento da alma humana natural e sua directa aliança com a força vital da Natureza  Após este esclarecimento e devido ao carácter plural e multifacetado tanto da Ordo Templi Orientis (O.T.O.) quanto da Thelema, justifica-se a utilização de exemplos e explicações retiradas de diversas culturas e doutrinas para fundamentar a presente análise do poema.

Iniciação
«Não dormes sob os cyprestes
pois não há somno no mundo.
………………………
O corpo é a sombra das vestes
que encobrem teu ser profundo.

Vem a noite, que é a morte,
e a sombra acabou sem ser,
vaes na noite só recorte,
egual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro
tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no hombro,
com o pouco que te tapa.

Então Archanjos da Estrada
despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada;
tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,
os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
mas vês que são teus eguaes.
……………………….
A sombra das tuas vestes
ficou entre nós na Sorte.
Não ‘stás morto, entre cyprestes.
………………………..
Neophyto, não há morte».

Este poema é, como o título indica, um caminho iniciático. O narrador fala sobre o não dormir de um iniciante sob o cipreste pois no mundo não há sono, o mundo não dorme, ele está eternamente em constante modificação e movimento, e ele como parte integrante desse mundo dinâmico também possui sua essência e não deve dormir pois o sono é uma espécie de morte. O cipreste é uma árvore símbolo da vida por causa da sua longevidade e a sua verdura persistente; representa as virtudes espirituais porque tem muito bom odor e é considerado símbolo de santidade. Por representar a vida, ela foi considerada uma árvore funerária em todo o mediterrâneo pois evoca a imortalidade e a ressurreição. Assim, o iniciante não pode dormir (morte simbólica) sob o símbolo da vida. O corpo é a sombra das vestes que encobrem o teu ser profundo. As vestes são símbolo exterior da actividade espiritual, a forma visível do homem interior. Muitas ordens secretas têm as vestes como um dos utensílios ritualísticos, como é o caso da maçonaria. Pessoa escreveu num documento que se encontra no seu espólio as palavras Throne Robe Sword, ou seja, trono, veste, espada: elementos rituais, simbólicos, de uma iniciação maçónica repleta de cabalismo e alquimia». In Gisele Cardoso Lemos, Simbologia e esoterismo em Iniciação de Fernando Pessoa, Wikipédia.

Cortesia de Wikipédia/JDACT