sábado, 26 de agosto de 2017

As Grandes Sociedades Secretas. Davis V. Barrett. «Um motivo para a desconfiança dos cristãos evangélicos em relação à Maçonaria, ao Rosacrucianismo e outras formas esotéricas de crença religiosa»

jdact

«(…)
Entre o Tigre e o Eufrates
À 1uz da repressão política e religiosa de finais do século XX, talvez seja estranho recordar que o berço da civilização se situou no actual Iraque, na zona fértil entre os rios Tigre e Eufrates, e as cidades de Bagdade, a norte, e Baçorá, no topo do golfo Pérsico. Os Sumérios viveram à volta do Eufrates austral há mais de 6000 anos; os Acádios, o nome dado à raça semítica que se instalou na Suméria e na Acádia, especificamente a Babilónia, há 5000 anos. Estes povos dispunham de agricultura, de cidades e de uma sociedade sofisticada, com religião e sacerdócio organizados, e ergueram templos, os zigurates. As mitologias suméria, babilónica e assíria estão na base da mitologia da tribo de Abraão, Isaac e Jacob, de onde viria a desenvolver-se a religião judaica e, mais tarde, o Cristianismo. Já se provou que muitos dos mitos hebraicos remontam a versões babilónicas e sumérias muito anteriores a eles.
O Islão, que também reconhece os patriarcas e os profetas judaicos, desenvolveu-se, no início do século VII, naquela que é agora a costa sudoeste da Arábia Saudita e espalhou-se rapidamente, chegando aos actuais Iraque e Irão poucos anos depois da morte de Maomé, havendo uma grande influência persa sobre essa religião nos seus primeiros dias. Note-se que aqueles que hoje são conhecidos como Acádios se deslocaram para a Suméria, assimilando gradualmente os Sumérios sem os desalojar eles levaram a sua língua, embora tenham adoptado a escrita cuneiforme suméria. No entanto, continuaram a usar a língua suméria, e não a sua, para os rituais religiosos, acabando os segredos sacerdotais por passar a ser ditos na língua dos deuses, ficando ocultos do povo. Não nos cabe esboçar aqui todos os mitos mesopotâmicos, sumérios, babilónicos/acadianos e assírios, mas muitos são ainda hoje conhecidos: o mito da Criação e o mito do Dilúvio, a par das suas versões bíblicas, a descida de Inanna, ou Ishtar, ao Submundo, o mito de Gilgamesh, entre outros.
Um motivo para a desconfiança dos cristãos evangélicos em relação à Maçonaria, ao Rosacrucianismo e outras formas esotéricas de crença religiosa prende-se com a insistência por parte dos evangélicos na verdade literal e no carácter único das histórias bíblicas, e com a sua aceitação, bem como de outros mitos não bíblicos equivalentes, como sendo alegóricos e de igual valor, por parte dos movimentos esotéricos mais liberais. Todos os panteões (para usar o termo grego) apresentam relações familiares entre deuses, por vezes com famílias rivais, e regra geral com rivalidades no seio das famílias. Os deuses discutem, enganam, lutam e matam-se entre si, assemelhando-se aos humanos neste aspecto. Os mitos das disputas entre deuses, como Durnuzi e Enkimdu na mitologia suméria, ou entre homens, como Caim e Abel na mitologia hebraica, reflectem, amiúde, alterações sociais verificadas nos povos, como, por exemplo (nestes dois casos), a mudança de um estilo de vida nómada e de pastoreio para uma vida fixa e agrícola. Outros conflitos entre os deuses poderão ser as recordações populares de batalhas pela supremacia entre diferentes cidades, diferentes culturas, diferentes povos. Desde há muito que se observou que nos países celtas, quando um novo povo chegava e controlava os povos originais, regra geral, mais primitivos e próximos da terra, e com uma relação com os espíritos telúricos que era invejada e temida pelos recém-chegados, estes acabavam por se tornar as pessoas pequenas, na memória popular dos invasores.

Zoroastrismo
O Zoroastrismo, segundo o sacerdote persa Zoroastro ou Zaratustra, pode gabar-se de ser a primeira religião monoteísta de grande dimensão, com urna profunda influência sobre as Religiões do Livro (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) que a seguiram. (As crenças destas religiões num Deus único, céu e inferno, ressurreição dos mortos, julgamento final e vitória final do bem contra o mal derivam do Zoroastrismo). Viria a tornar-se a religião oficial do Império Persa, mantendo-se forte até às invasões muçulmanas do século VII.
Zaratustra, que terá vivido por volta de 660-583 a. C., ou possivelmente em 1000 ou até 1400 a. C., reformou o complexo politeísmo da Pérsia (actual Irão), pejado de rituais e sacrifícios, declarando a existência de um Deus único, Ahura Mazda, o Sábio; todos os outros deuses venerados pelos persas eram meros assistentes e servos do ser supremo. A pureza de Ahura Mazda era representada pela pureza do fogo, e os zoroastrianos rezavam junto de uma chama. Recordemos que o Deus judaico Aquele Que É falou a Moisés a partir de uma sarça ardente, e que muitos movimentos religiosos esotéricos actuais, incluindo os rosa-cruzes e a Igreja Universal e Triunfante inspirada por Aquele Que É, representam Deus, e a presença divina no interior do homem, como sendo uma chama». In David V. Barrett, As Grandes Sociedades Secretas, 1997, 2007, Clube do Autor, 2016, ISBN 978-989-724-333-2.

Cortesia de CdoAutor/JDACT