segunda-feira, 28 de agosto de 2017

O Baile de Máscaras. Joanna Taylor. «Ando pelos corredores estreitos e descubro o meu vendedor favorito. É um homem velho com uma roupa mal-amanhada feita de retalhos»

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«(…) Kitty deve estar na taberna de gin. Ainda não suporto vê-la lá. Por isso caminho até ao mercado de aves, a algumas ruas de distância. Piccadilly, onde arrendámos o nosso quarto, tem passeios de um bom tamanho, o que significa que nós, mulheres da rua, podemos manter os nossos sapatos limpos sem termos de pagar por uma liteira. A nossa zona não é tão elegante como Mayfair, onde mrs. Wilkes tem a sua famosa casa. Mas a rua atrai um fluxo decente de aristocratas mais jovens, à procura de qualquer diversão que o dinheiro lhes possa proporcionar. A noite cai e os vendedores aglomeram-se na rua para anunciar os seus produtos. Raparigas com cestas de fruta ou de camarão à cabeça andam por ali. Homens empurram carroças com quinquilharia para vender às gentes embriagadas da cidade. O mercado das aves está a fechar quando eu chego, e os vendedores cobrem as gaiolas maiores com panos. As gaiolas mais pequenas para venda ainda estão penduradas num varal, ou dispostas no chão de terra. Há gaiolas de vime em forma de lágrima, criações caóticas de arame e o ocasional aviário elaboradamente trabalhado. Gaiolas ainda mais estranhas abrigam os próprios pássaros.
Ando pelos corredores estreitos e descubro o meu vendedor favorito. É um homem velho com uma roupa mal-amanhada feita de retalhos. Mas os seus olhos azuis são felizes, como se ele não se desse conta do ambiente baixo que o rodeia. Bom dia para ti, Queenie, cumprimenta ele, tirando um boné imaginário e sorrindo. Queenie foi um apelido que me fora dado porque alguns clientes da taberna de gin achavam que eu me comportava como uma rainha. É geralmente usado como insulto. Mas não me importo que o homem dos pássaros o utilize. Acho que ele lhe dá um significado diferente. Vens comprar um pássaro?, pergunta. Eu aceno com a cabeça. As suas velhas mãos já procuram uma ave na grande gaiola das aves. Vejo os seus dedos vermelhuscos moverem-se a toda a velocidade e apanharem um estorninho. Tira o pássaro assustado pela abertura com todo o cuidado, fecha a gaiola e apresenta-mo num movimento hábil. Gostas deste amiguinho?, pergunta, segurando o estorninho, que pipila. Examino a criatura que o homem dos pássaros prende com uma delicadeza notável. Aceno com a cabeça em concordância e sorrio. Vai juntar-se aos outros? Pergunta o homem dos pássaros, com uma piscadela de olho». In Joanna Taylor, O Baile de Máscaras, 2015, Edições ASA II, 2016, ISBN 978-989-233-518-6.

Cortesia de EASA/JDACT