«As
pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são
aquelas que o mudam».
In
Pense diferente, Apple, 1997
Infância. Abandonado e escolhido. A
adopção
«(…) Era misterioso e hightech e
fazia com que morar ali fosse muito empolgante. Na esteira das indústrias de
defesa surgiu uma economia florescente baseada em tecnologia. As suas raízes
remontavam a 1938, quando Dave Packard e a esposa se mudaram para um
apartamento em Palo Alto que tinha um galpão onde o seu amigo Bill Hewlett logo
se enfiou. Na garagem, um apêndice que se mostraria útil e se tornaria um ícone
do vale, eles fuçaram até fazer o seu primeiro produto, um oscilador de áudio.
Na década de 1950, a Hewlett-Packard era uma empresa em rápida expansão que
fazia instrumentos técnicos. Felizmente, havia um local próximo para
empreendedores cujas garagens haviam ficado pequenas. Numa medida que ajudaria
a transformar a área no berço da revolução tecnológica, o director de
engenharia da Universidade Stanford, Frederick Terman, criou um parque
industrial de 280 hectares no terreno da universidade para empresas privadas
que poderiam comercializar as ideias de seus alunos.
O seu primeiro inquilino foi a
Varian Associates, onde Clara Jobs trabalhava. Terman veio com essa grande
ideia que fez mais do que qualquer outra coisa para que a indústria de
tecnologia crescesse aqui, disse Jobs. Quando Jobs tinha dez anos, a hp já
tinha 9 mil empregados e era uma empresa de primeira linha, onde todos os
engenheiros que procuravam estabilidade financeira queriam trabalhar. A
tecnologia mais importante para o crescimento da região foi, naturalmente, a
dos semicondutores. William Shockley, um dos inventores do transistor
nos Laboratórios Bell, em Nova Jersey, mudou-se para Mountain View e, em 1956,
abriu uma empresa para construir transistores usando silício, em vez do
germânio, mais caro, que era então comumente usado. Mas Shockley tornou-se cada
vez mais errático e abandonou o seu projecto de transistor de silício, o que levou
oito dos seus engenheiros, com destaque para Robert Noyce e Gordon Moore, a
sair da empresa e criar a Fairchild Semiconductor. Esta empresa chegou a ter 12
mil empregados, mas fragmentou-se em 1968, quando Noyce perdeu uma luta de
poder para se tornar presidente executivo. Ele chamou Gordon Moore e fundaram
uma empresa que se tornou conhecida como Integrated Electronics Corporation,
que eles inteligentemente abreviaram para Intel. O terceiro empregado deles foi
Andrew Grove, que faria a empresa crescer na década de 1980, deslocando o seu
foco de chips de memória para microprocessadores. Dali a poucos anos, haveria
mais de cinquenta empresas na área fabricando semicondutores. O crescimento
exponencial dessa indústria estava correlacionado com o famoso fenómeno
descoberto por Moore: em 1965, ele desenhou um gráfico da velocidade de
circuitos integrados, com base no número de transistores que poderiam ser
colocados num chip, e mostrou que ela dobrava a cada dois anos, uma trajectória
que se podia esperar que continuaria. Isso foi reafirmado em 1971, quando a
Intel foi capaz de gravar uma unidade de processamento central completa num
único chip, o Intel 4004, que eles chamaram de microprocessador.
A Lei de Moore tem se mantido
geralmente válida até hoje, e sua projecção confiável de desempenho para preço
possibilitou que duas gerações de jovens empresários, entre eles Steve Jobs e
Bill Gates, criassem projecções de custos para os seus produtos voltados para o
futuro. A indústria de chips deu à região um novo nome quando Don Hoefler,
colunista do semanário de negócios Electronic
News, iniciou em Janeiro de 1971 uma série intitulada Vale do Silício
EUA. Os 65 quilómetros do vale de Santa Clara, que se estende de South San
Francisco a San Jose, passando por Palo Alto, Mountain View e Sunnyvale, têm
como espinha comercial El Camino Real. Essa estrada outrora ligava 21 igrejas
missionárias da Califórnia e é agora uma avenida movimentada que liga empresas
e novos empreendimentos que respondem por um terço do investimento de capital
de risco nos Estados Unidos a cada ano. Ao crescer, fui inspirado pela história
do lugar, disse Jobs. Eu quis ser parte daquilo. Como a maioria das crianças,
ele foi influenciado pelas paixões dos adultos ao seu redor. A maioria dos pais
do bairro fazia coisas realmente legais, como células fotoelétricas, pilhas e
radares, contou Jobs. Cresci admirando essas coisas e perguntando às pessoas
sobre elas. O mais importante desses vizinhos, Larry Lang, morava sete casas adiante.
Ele foi meu modelo do que um engenheiro da hp deveria ser: um grande
radioamador, uma pessoa da pesada em eletrónica, lembrou. Ele me trazia coisas
para brincar. Enquanto caminhávamos até à antiga casa de Lang, Jobs apontou
para a entrada de automóvel. Ele pegou um microfone de carbono, uma bateria e
um alto-falante e pôs nesta entrada. Me fez falar ao microfone de carbono e
amplificou no alto-falante. O pai de Jobs havia ensinado que os microfones
precisavam sempre de um amplificador eletrónico. Então, corri para casa e disse
a meu pai que ele estava errado». In Walter Isaacson, Steve Jobs (Edição 1),
tradução de Berilo Vargas, Denise Bottmann, Pedro Soares, Editora Companhia das
Letras, Wikipedia, iOS Books, LegiLibro, 2011, ISBN 978-853-591-971-4.
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