domingo, 13 de agosto de 2017

Steve Jobs. Walter Isaacson. «O pai de Jobs havia ensinado que os microfones precisavam sempre de um amplificador eletrónico. Então, corri para casa e disse a meu pai que ele estava errado»

Cortesia da wikipedia e jdact

«As pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são aquelas que o mudam». In Pense diferente, Apple, 1997

Infância. Abandonado e escolhido. A adopção
«(…) Era misterioso e hightech e fazia com que morar ali fosse muito empolgante. Na esteira das indústrias de defesa surgiu uma economia florescente baseada em tecnologia. As suas raízes remontavam a 1938, quando Dave Packard e a esposa se mudaram para um apartamento em Palo Alto que tinha um galpão onde o seu amigo Bill Hewlett logo se enfiou. Na garagem, um apêndice que se mostraria útil e se tornaria um ícone do vale, eles fuçaram até fazer o seu primeiro produto, um oscilador de áudio. Na década de 1950, a Hewlett-Packard era uma empresa em rápida expansão que fazia instrumentos técnicos. Felizmente, havia um local próximo para empreendedores cujas garagens haviam ficado pequenas. Numa medida que ajudaria a transformar a área no berço da revolução tecnológica, o director de engenharia da Universidade Stanford, Frederick Terman, criou um parque industrial de 280 hectares no terreno da universidade para empresas privadas que poderiam comercializar as ideias de seus alunos.
O seu primeiro inquilino foi a Varian Associates, onde Clara Jobs trabalhava. Terman veio com essa grande ideia que fez mais do que qualquer outra coisa para que a indústria de tecnologia crescesse aqui, disse Jobs. Quando Jobs tinha dez anos, a hp já tinha 9 mil empregados e era uma empresa de primeira linha, onde todos os engenheiros que procuravam estabilidade financeira queriam trabalhar. A tecnologia mais importante para o crescimento da região foi, naturalmente, a dos semicondutores. William Shockley, um dos inventores do transistor nos Laboratórios Bell, em Nova Jersey, mudou-se para Mountain View e, em 1956, abriu uma empresa para construir transistores usando silício, em vez do germânio, mais caro, que era então comumente usado. Mas Shockley tornou-se cada vez mais errático e abandonou o seu projecto de transistor de silício, o que levou oito dos seus engenheiros, com destaque para Robert Noyce e Gordon Moore, a sair da empresa e criar a Fairchild Semiconductor. Esta empresa chegou a ter 12 mil empregados, mas fragmentou-se em 1968, quando Noyce perdeu uma luta de poder para se tornar presidente executivo. Ele chamou Gordon Moore e fundaram uma empresa que se tornou conhecida como Integrated Electronics Corporation, que eles inteligentemente abreviaram para Intel. O terceiro empregado deles foi Andrew Grove, que faria a empresa crescer na década de 1980, deslocando o seu foco de chips de memória para microprocessadores. Dali a poucos anos, haveria mais de cinquenta empresas na área fabricando semicondutores. O crescimento exponencial dessa indústria estava correlacionado com o famoso fenómeno descoberto por Moore: em 1965, ele desenhou um gráfico da velocidade de circuitos integrados, com base no número de transistores que poderiam ser colocados num chip, e mostrou que ela dobrava a cada dois anos, uma trajectória que se podia esperar que continuaria. Isso foi reafirmado em 1971, quando a Intel foi capaz de gravar uma unidade de processamento central completa num único chip, o Intel 4004, que eles chamaram de microprocessador.
A Lei de Moore tem se mantido geralmente válida até hoje, e sua projecção confiável de desempenho para preço possibilitou que duas gerações de jovens empresários, entre eles Steve Jobs e Bill Gates, criassem projecções de custos para os seus produtos voltados para o futuro. A indústria de chips deu à região um novo nome quando Don Hoefler, colunista do semanário de negócios Electronic News, iniciou em Janeiro de 1971 uma série intitulada Vale do Silício EUA. Os 65 quilómetros do vale de Santa Clara, que se estende de South San Francisco a San Jose, passando por Palo Alto, Mountain View e Sunnyvale, têm como espinha comercial El Camino Real. Essa estrada outrora ligava 21 igrejas missionárias da Califórnia e é agora uma avenida movimentada que liga empresas e novos empreendimentos que respondem por um terço do investimento de capital de risco nos Estados Unidos a cada ano. Ao crescer, fui inspirado pela história do lugar, disse Jobs. Eu quis ser parte daquilo. Como a maioria das crianças, ele foi influenciado pelas paixões dos adultos ao seu redor. A maioria dos pais do bairro fazia coisas realmente legais, como células fotoelétricas, pilhas e radares, contou Jobs. Cresci admirando essas coisas e perguntando às pessoas sobre elas. O mais importante desses vizinhos, Larry Lang, morava sete casas adiante. Ele foi meu modelo do que um engenheiro da hp deveria ser: um grande radioamador, uma pessoa da pesada em eletrónica, lembrou. Ele me trazia coisas para brincar. Enquanto caminhávamos até à antiga casa de Lang, Jobs apontou para a entrada de automóvel. Ele pegou um microfone de carbono, uma bateria e um alto-falante e pôs nesta entrada. Me fez falar ao microfone de carbono e amplificou no alto-falante. O pai de Jobs havia ensinado que os microfones precisavam sempre de um amplificador eletrónico. Então, corri para casa e disse a meu pai que ele estava errado». In Walter Isaacson, Steve Jobs (Edição 1), tradução de Berilo Vargas, Denise Bottmann, Pedro Soares, Editora Companhia das Letras, Wikipedia, iOS Books, LegiLibro, 2011, ISBN 978-853-591-971-4.

Cortesia ECdasLetras/JDACT