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de wikipedia e jdact
O
Banquete dos Sábios
«(…) Quantos milhares julgas que são?, perguntou
Ptolomeu dirigindo-se a André (referindo-se aos judeus, não aos rolos). E este,
prontamente, pois nada indiferente à questão: pouco mais de 100 mil. Pede pouco
o bom Aristeu!, comentou Ptolomeu com ironia, dispondo-se por outro lado ao
consentimento, em vista da disposição favorável dos seus dois fidelíssimos. Os
prisioneiros foram libertados sob indemnização, paga aos senhores pelo banco
real. E foram contemplados não só os prisioneiros capturados pelo Sóter na
campanha da Síria, mas todos os judeus já antes residentes ou deportados para o
Egipto antes ou depois dessa campanha. E nossa convicção, determinava o édito
de libertação, que estes foram reduzidos à escravidão contra a vontade do nosso
pai e contra qualquer conveniência, apenas pelo descomedimento da soldadesca. Dessa
forma, a providência evitava censurar a conduta do soberano anterior.
A libertação dos judeus deportados foi, para
Ptolomeu, como que uma credencial junto a Eleazar, sumo-sacerdote de Jerusalém.
Restituímos a liberdade a mais de 100 mil judeus, anuncia ele na mensagem em
que solicita o envio de tradutores especializados; os mais válidos recrutamos
para o exército; os aptos a tomarem lugar ao nosso lado, demonstrando-se dignos
da confiança que se exige em homens da corte, colocamo-los na burocracia. Resolvemos
fazer algo de bom a esses e a todos os outros judeus, prosseguia, nas diversas
partes do mundo, e a todos os que virão depois, e por isso decidimos mandar
traduzir a vossa lei do hebraico para o grego, para que tenha lugar na nossa
biblioteca ao lado dos outros livros do rei. Eleazar respondeu com entusiasmo à
oferta do rei, augurando bons votos a ele e à rainha Arsinoé, sua irmã e esposa,
e a seus filhos, e saudando-o como sincero amigo. A carta de Ptolomeu foi lida
em público, informa Aristeu, que com o amigo André dirigia a delegação saída de
Alexandria.
Com a sua visita a Jerusalém, Aristeu teve
interessantíssimas impressões, como, por exemplo, a visão do sumo sacerdote no esplendor
do seu solene aparato. Judeu da diáspora, deve ter retirado do encontro com as suas
raízes motivos para uma autêntica emoção. Impressionaram-no as pequenas dimensões
de Jerusalém, comparadas à enormidade de Alexandria, a cidade onde sempre
vivera. Prudente e sensato como sempre, nisso se inspirou para uma reflexão até
demasiado complacente para com a política interna dos Ptolomeus: se no Egipto,
pensou ele, o povo do campo, isto é, os locais, não tinha permissão de
permanecer na cidade por mais de vinte dias, isso se compreende e se justifica
pelo facto de que ao soberano interessa que não decaia a agricultura em consequência
de um êxodo excessivo dos camponeses. A sua ideia é que judeus e gregos,
juntos, estão destinados a governar, ao passo que os egípcios devem ser
mantidos no seu lugar: exactamente como pensava Ptolomeu, ao escrever a Eleazar
que muitos judeus haviam sido postos no comando de guarnições, com soldos mais
altos para incutir temor á raça egípcia.
O encontro dos dois povos dirigentes foi como que
selado pela acolhida reservada por Ptolomeu à delegação dos 72 eruditíssimos
judeus, escolhidos em número de seis para cada tribo de Israel. Por sete dias
prolongou-se o banquete em honra deles, e para o soberano foi a ocasião para
refinar a sua educação política, através de uma subtilíssima casuística que não
negligenciou nenhum, nem mesmo o mais negligenciável, problema relativo à
realeza. Sinal de que o conselho de Demétrio de providenciar os livros sobre a
realeza e lê-los não fora de forma alguma, infrutífero. O rei atormentava os sábios
comensais com torrentes de perguntas, na base de dez por dia. Como conservar o
reino?, perguntava. Como ter o assentimento dos amigos? Como conseguir aprovação,
nos processos, justamente dos que se viam frustrados? Como transmitir o reino
intacto aos herdeiros? Como enfrentar com equilíbrio, os imprevistos?» In Luciano Canfora, A Biblioteca Desaparecida,
Histórias da Biblioteca de Alexandria, 1986, Companhia das Letras, 1989,ISBN
978-857-164-051-1.
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