jdact
e wikipedia
Cambridge, Inglaterra
«(…) Óptimo, disse Marbury. Os
senhores receberam o meu bilhete. Eu não tinha a certeza de que estariam aqui no
tão curto prazo. Tudo aconteceu muito rápido. Quando nos comunicámos da última
vez, cerca de três semanas atrás... Shhh!, ordenou o homem do meio. Eu esperava
ver o rosto dos senhores desta vez, continuou calmamente o pastor, pois já
fizemos negócios antes. Senhor. O homem levantou-se. Por favor, chame-me
Samuel. Este é Isaiah, e pode chamar aquele de Daniel. O recém-chegado
permitiu-se um sorriso, que mal indicava uma decisão. Os homens mesquinhos
exultam na espionagem, pensou, falsos nomes que talvez julguem ser espertos, em
ridículos encontros como este. Talvez esses anglicanos sejam mais risíveis por
ansiar imitar os católicos. E por qual nome do Velho Testamento o senhor me
chamaria?, perguntou em voz baixa Marbury. Sente-se. Isaiah indicou uma cadeira.
Só concordámos em ajudá-lo porque a obra do nosso grande rei corre perigo. A
cadeira arranhou o duro chão como uma pá numa cova. E devemos ser breves. Samuel
tinha uma voz de corvo. Descobrimos um homem perfeito para as suas
necessidades. Falamos-lhe da morte do tradutor, Harrison. Ele concordou em
ajudá-lo. O homem, na verdade, é um ex-católico. Pela graça de Deus,
converteu-se à Igreja da Inglaterra cerca de vinte anos atrás, continuou, com
uma voz de chocalho.
Marbury pegou a cadeira e nada
disse. Num antro de ladrões, o silêncio era um aliado. Mas deslizou devagar a
mão direita manga acima e tocou o cabo da lâmina. Há vinte anos, disse, no dia
da rainha Elizabeth, um homem escolheu entre a conversão e a morte. Um
convertido por medo sempre seria suspeito. Naqueles anos, continuou Samuel,
ignorando-o, esse homem ajudou Philip Sidney com o seu opus magnum, Arcádia. A
propriedade de sir Philip o recomenda. Naquela época, porém, por motivos que é
melhor guardar em segredo em relação ao senhor, ele trabalhava sob outro nome.
Esse nome desapareceu de todos os registos. Como podemos ter certeza, então,
perguntou o pastor, recostando-se na cadeira, de que esse homem... Desapareceu
de todos os registos, completou Samuel, sem piscar por trás da máscara, e o
outro ficou com os lábios tensos. Entendo. O ministro protestante balançou uma
vez a cabeça. Espero que entenda, disse Samuel com voz áspera. Agora,
concluindo a história, levamos o nosso homem à família Sidney, em busca de uma
referência. Um antigo criado chamado Jacob, cuja memória para rostos sobreviveu
à capacidade de lembrar nomes, o conhecia. A família descobriu, em alguns
registos de pagamento, que o tal sujeito fora empregado de sir Philip,
relacionado apenas como monge. É o homem de que o senhor precisa. Podemos
apresentar determinados registos; ele tem certas qualidades... Quer dizer que
esse homem possui credenciais que eu poderia mostrar aos outros, perguntou
Marbury sem alterar a voz, mas que, em essência, são falsificadas? De certa
forma autênticas, mas sem que se possa localizá-las de modo algum. E suponho
que não me vão dizer o verdadeiro nome desse monge, nem nada sobre ele.
Não,
confirmou o outro. A não ser que ficou preso algum tempo na Itália, mas não é
criminoso. O senhor é um homem inteligente. Isso deve dizer-lhe tudo. A
Inquisição (maldita).
O
pastor cruzou as mãos e pensou que o sujeito a quem contrataria sofrerá a persuasão
de Elizabeth e as torturas da Inquisição (maldita). Seria um homem de ferro. Como o
senhor disse, insistiu Samuel, os papéis necessários foram forjados, documentos
foram assinados e homens fracos foram subornados. O nosso homem vai infiltrar-se
entre os tradutores e descobrir o assassino, como o senhor deseja. É possível,
mas preciso de um motivo oficial para a presença dele. Também eu, o senhor deve
entender, tenho documentos que precisam ser protegidos, pequenos funcionários a
aplacar». In Phillip Depoy, A Conspiração do rei James, Prumo, 2009, ISBN
978-857-927-022-2.
Cortesia de Prumo/JDACT