Cortesia de palimage
Não são «estórias». É História rigorosamente documentada!
«Também o «Roteiro Arqueológico da Região de Turismo Dão Lafões», publicado em 1994, referindo-se às Termas, na página 141, diz que ali «teria estado» D. Afonso Henriques. A forma verbal usada é imprópria, porque parece pressupor alguma dúvida. O reparo aqui fica. Possa ele servir para que, em futura edição, se substitua «teria estado» por «esteve».
Ocorre perguntar onde se terão alojado o régio visitante e a sua comitiva e que obras terão sido feitas.
Já se viu que o Rei terá mandado reconstruir a gafaria e a albergaria. Segundo a tradição, teria, ainda, mandado construir uns «estaus» e, diz Oliveira Mascarenhas, «um largo cazarão de banhos com uma piscina unica onde, na mesma água, entravam 40 e mais pessoas a um tempo, affectadas de differentes enfermidades!».
Alguns dados fornecidos por Mascarenhas deixam dúvidas ou, como já vimos, são mesmo incorrectos. Sobre a piscina, escreve Pires da Sylva:
- «Dado que os Romanos, ou antes delles os antigos Lusitanos fossem authores da fundação primeva, não deixamos de deve ao nosso primeiro Rey o Senhor D. Affonso Henriques, a do edifício, que hoje (1696) se vê nos banhos de Alafoens, e correria com a obra D. Fernando Pedro. Assim o testificão huns letreiros de letra Gotica, que em muitas pedras se achão, e todos vem a dizer, Affonso I, e Fernando Pedro (...) e alguns signaes de Cruz; o que tudo mostra ser a obra já de christãos, e dos sobreditos; e se a obra não mostra ser real em ficar por acabar, he, porq as guerras, em que então estava o novo Reyno, não davão lugar a se aperfeiçoar».
Piscina D. Afonso Henriques
Cortesia de palimage
Na realidade, esses sinais lá estão em vários lugares. Qualquer observador atento poderá descobri-los. Mas, ainda que admitíssemos que a piscina foi construída por D. Afonso Henriques, e não foi, a hipótese de tais sinais significarem Fernando Pedro não tem consistência, porquanto este Senhor de Lafões não aparece em qualquer dos documentos de 1169, porque, nessa data, já era morto. Também nada têm a ver esses sinais com um Pedro Fernandes, mordomo de D. Sancho, que aparece em diplomas lavrados no Banho, nomeadamente na carta de couto de Oliveira de Frades.
Baptista de Sousa analisou minuciosamente esses sinais, que encontrou também noutros locais, designadamente em pedras dos arcos da ponte. Reprodu-los e considera que não se trata de monogramas. De facto, dificilmente se poderiam considerar como tal. Seriam, antes, marcas usadas pelos lavrantes e de numeração das pedras. Depois de várias considerações, conclui:
- «Não servem pois de fundamento, para se acreditar, que foi o nosso primeiro Rei o Fundador do Hospital; nem era de crer, que El-Rei no estado de precisão, em que se achava, esperasse que se fizesse hum edifício tal, para hir nelle pousar, havendo na parte do Reino, que elle possuia, mais Caldas, posto que menos energicas».
Cortesia de palimage
Eduardo dos Santos, a este respeito, limita-se a repetir Sousa, mas conclui, a nosso ver, menos bem, que, «embora faltem provas a favor também as não há contra a opinião de ter sido D. Afonso Henriques quem começou o velho edifício». Esta opinião está hoje ultrapassada. Há provas de que não foi. Já vimos que a Arqueologia revela que o edifício termal é obra dos romanos e que a piscina que mais tarde tomou o nome do rei foi por eles construída, em substituição de uma outra desactivada, aquando das grandes alterações introduzidas nas Termas, no século I. posteriormente e ao longo dos séculos, novas remodelações foram feitas e, sendo natural que, para receber tão importante personagem, se tenham feito obras de beneficiação, certo é que a piscina onde o 1º Rei de Portugal tomou banhos vinha dos romanos.
Não é certo que o Rei tenha mandado construir um paço para sua habitação. Pires da Sylva não o diz, antes diz que o Rei se aposentou na casa que, ao seu tempo, dele, Pires da Sylva, era designada por «casa de D. Joseph», por nela residir, em tempo de banhos, D. José de Meneses, senhor do reguengo de Calvos.
Cortesia de palimage
Segundo outros, o Rei ter-se-ia hospedado em casa de D. Fernando Pedro, que, diz o foral do Banho, «governava toda a terra de Lafões». É bem possível que o Rei tenha ficado naquela casa, mas, a ter sido assim, há que fazer uma correcção ao que se tem escrito. Deverá, então dizer-se que ficou na casa que fora de D. Fernando Pedro, porque este, como vimos, já era morto em 1169 e, nesta data, no «comando» de Lafões, aparece um tal Sancho Nunes, como pode ver-se, na já citada carta de couto de oliveira de Frades. Tinham passado 17 anos, após a concessão do foral. Pelo facto de, ao longo do tempo, continuar a chamar-se «Calçada do Paço», a uma rua das Termas, conclui Mascarenhas que o Rei mandou construir um paço. Pouco vale a razão invocada. Bastava a circunstância de ter habitado uma qualquer casa para que lhe chamassem paço. De facto, ainda hoje é conhecida por calçada do paço, a rua que passa nas traseiras da Pensão Avenida e chamam «paço» a uma casa ali existente.
Mais nos dizem que a entrada dessa casa teria gravada uma data muito antiga, que, se não desapareceu, estará coberta pela caliça. Pretendem alguns relacionar essa data com a presença de D. Afonso Henriques». In Ana Nazaré Oliveira, Termas de S. Pedro do Sul (Antigas Caldas de Lafões), 2002, Palimage Editores, ISBN 972.8575-38-6.
Com a amizade de MR.
Cortesia de Palimage/JDACT