Cortesia de edicoescolibri
«Após a evacuação de Portalegre e das posições junto à serra de São Mamede, as tropas portuguesas procederam a uma retirada geral em direcção ao Tejo, acabando por se instalar junto a Gavião. A descrição minuciosa feita pelo Brigadeiro de Engenheiros José Maria das Neves Costa permite-nos acompanhar em pormenor essas movimentações. A 31 de Maio de 1801, já as forças lusas acampavam junto a Gavião, partindo no dia seguinte o Marquês de Tancos para Abrantes, acompanhado pelo desembargador João Ferreira Batalha, encarregado da logística, a fim de orientar a chegada das provisões destinadas a um exército onde o ânimo atingia níveis que rivalizavam com a penúria de alimentos. A infantaria foi colocada nas alturas a sul de Gavião, formando as unidades de emigrados franceses a segunda linha. O parque de artilharia ficou junto à vila e a cavalaria num vale estreito a sul da mesma, ocupando uma posição impossível de defender uma vez que era dominada por elevações que os portugueses não controlavam.
Cortesia de edicoescolibri
O desastre de Arronches não servira de lição ao comando português. Num vale tão exíguo, em caso de ataque inimigo, a coordenação entre infantaria e cavalaria seria impraticável. Por outro lado, o terreno situado entre a vila e o rio Tejo não estava ocupado militarmente nem sequer nele foram colocadas vigias, confiando os chefes militares portugueses na inacessibilidade do terreno. Neves Costa, o mais rigoroso crítico da campanha e dos chefes militares portugueses, verberou asperamente tal excesso de confiança nas defesas naturais, sublinhando que, se essas margens eram, de facto, avessas a qualquer força de cavalaria ou de artilharia, uma «infantaria atrevidamente conduzida podia por ali avançar e rodear a nossa esquerda e fazer-nos por isso perder uma batalha».
A opção pelas terras junto a Gavião para acantonar o exército português provocou, por outro lado, a perda de comunicações com outras localidades da província, com o consequente desconhecimento dos movimentos inimigos. Nem sequer se conservaram partidas de observação nos caminhos de Alpalhão e Portalegre que mantivessem o comando português informado da evolução das tropas espanholas.
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A 2 de Junho chegou ao campo do Gavião a notícia da entrada dos espanhóis em Portalegre. Mas, sobre a situação de Campo Maior, nada se sabia. Consciente dessa falta, o Duque de Lafões incumbiu o general John Forbes Skellater de estabelecer postos avançados que dominassem as regiões circunvizinhas do acampamento, e de proceder ao levantamento topográfico do terreno onde o exército se encontrava bivacado e suas imediações, «com a individualização necessária das ribeiras, fontes, estradas, eminências e de tudo o que convém reconhecer para as disposições de defesa». O dispositivo montado estava, porém, longe do ideal. Os postos eram insuficientes e na sua maior parte situavam-se a curta distância do acampamento, o que impediria um aviso atempado em caso de ataque inimigo. Os flancos estavam desprotegidos e as patrulhas enviadas em reconhecimento pelo caminho de Gáfete raramente se atreviam a sair da estrada para se internarem no campo.
Outra situação ilustrativa da debilidade do campo do Gavião - sem falar nas deserções constantes - e da forma apressada e caótica como a retirada se efectuara, foi o facto de, embora Alpalhão, Nisa, Crato e outras localidades tenham sido abandonadas pelas tropas portuguesas, ali se conservarem importantes armazéns de víveres e apetrechos, completamente indefesos à mercê do inimigo. Restava determinar se era viável reparar o mal... Dada a proximidade daquelas localidades em relação às linhas espanholas, cuja localização continuava a ser ignorada, seria impossível o envio de tropas para defenderem os armazéns, a não ser que pudessem contar com poderosos efectivos, que, em boa verdade, não existiam». In António Ventura, O Combate de Flor da Rosa, Conflito Luso-Espanhol de 1801, Edições Colibri, C. M. do Crato, 1996, ISBN 972-8288-23-9.
Cortesia de Edições Colibri/JDACT