Cortesia de mc
A Arte Portuguesa do Século XIX (1850-1910)
Curadoria de Maria de Aires Silveira
Até ao pf dia 12 de Junho de 2011, Piso 2A
«Arte Portuguesa do Século XIX (1850-1910) é a primeira de três grandes exposições que inauguram o ano do Centenário do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, criado por decreto da República em 26 de Maio de 1911.
Perante a impossibilidade de revelar a verdadeira dimensão e a diversidade do acervo numa única exposição, optou-se por apresentar os três períodos da colecção (1850-1910, 1910-1960 e 1960-2011) em três momentos expositivos sucessivos, que cobrem toda a história da arte portuguesa, de 1850 até à actualidade.
A primeira destas exposições corresponde ao núcleo fundador da colecção que, historicamente, antecede a criação do MNAC. Através de 100 obras fundamentais dos maiores artistas deste período, exploram-se as rupturas e permanências da arte portuguesa do século XIX (1850-1910), em seis núcleos temáticos que traduzem o espírito da geração romântica e as novidades das propostas naturalistas, entre a descoberta da luz e das atmosferas, a paisagem e os costumes, a afirmação da figura popular, o retrato, o intimismo e os simbolismos de finais de século. H.B.
Artistas Representados.
Simões de Almeida, Alfredo de Andrade, Tomás da Anunciação, Carlos de Bragança, José de Brito, António Carneiro, José Ferreira Chaves, Ernesto Condeixa, Luciano Freire, Adriano de Sousa Lopes, Teixeira Lopes, Alfredo Keil, Artur Loureiro, Miguel Ângelo Lupi, Duarte Faria e Maia, José Malhoa, Luís de Menezes, Francisco Metrass, Marques de Oliveira, António José Patrício, Columbano Bordalo Pinheiro, Sousa Pinto, Silva Porto, Henrique Pousão, António Ramalho, Carlos Reis, José Veloso Salgado, Francisco dos Santos, João Cristino da Silva, Aurélia de Sousa, Soares dos Reis, João Vaz.
Cortesia de mc
A Descoberta do Natural, da Luz e das Atmosferas
Praia de banhos, Marques de Oliveira
Em 1879, Marques de Oliveira e Silva Porto introduzem uma moderna captação da luz na paisagem, na sequência da sua aprendizagem em Paris como bolseiros, observadores atentos das práticas ar-livristas da Escola de Barbizon. Praia de banhos referencia vanguardas internacionais como Manet ou Boudin, e, em conjunto com Chrarneca de Belas, revela novos entendimentos naturalistas focados em atmosferas luminosas.
Já a geração romântica, tardiamente anunciada, sublinhava a importância da pintura captada “do natural”, filtrada por uma luz local, em paisagens que se assumem na sua plenitude dramática e sentimental (Cristino da Silva e Alfredo de Andrade) mas introdutórias e condicionantes dos formulários naturalistas, tendencialmente rurais.
Na viragem do século, destacam-se as esculturas de Soares dos Reis, síntese dos valores românticos, assim como de inovadoras propostas naturalistas, e, nos inícios do século XX, António Carneiro e Henrique Pousão marcam o desfasamento de cenários pitorescos pela autonomia do pictórico, construindo monocromias e composições estruturadas em mancha que traduzem ousadas propostas de modernidade. M.A.S.
A Paisagem e os Costumes, A Cidade e as Serras
Volta do mercado, Silva Porto
A “revolução tranquila” de meados do século XIX, proposta pela pintura de paisagem de Tomás da Anunciação, correspondia ao apelo de Almeida Garrett, em Viagens na minha Terra, de descoberta do país e do povo. Cinco artistas em Sintra, de Cristino da Silva, sintetiza esta ideia e apresenta nesta pintura os vectores fundamentais das preocupações românticas portuguesas, entre o retrato, a paisagem, os costumes e a importância do local, enquanto que Paisagem, vista tirada de entremuros, observa, através de um “óculo romântico”, enquadrado por ramos e folhagem, o movimento de figuras populares num termo urbano.
Silva Porto transfere as suas propostas de quadros modernos para um universo pitoresco, descobrindo permanências narrativas em processos veristas de “penetração do real”, já apontados pela geração romântica e por Alfredo Keil, em realismos incertos. São imagens de uma encantatória casticidade ensolarada da vida simples dos trabalhadores rurais que convivem com a representação dos costumes das burguesias urbanas, em encontros elegantes e à beira-mar, numa associação que expressa a relação dicotómica cidade/campo, também caracterizada no romance de Eça de Queirós, A cidade e as serras, escrito em 1892 e publicado em 1901. M. A.S.
A Afirmação da Figura Popular
Clara, José Malhoa
Tal como Garrett, também Ramalho Ortigão, em 1872, apontava para a necessidade de um pintor de costumes e intérprete da realidade humana, sugerindo a importância da representação realista de pitorescos cenários e que encontra em José Malhoa, desde finais do século XIX a meados do século XX, o representante destes sucessivos apelos, tornando-se aplaudido autor de uma “odisseia rústica nacional” (Fialho de Almeida) em tipologias figurativas consideradas caracteristicamente portuguesas.
Depois das críticas às novas propostas naturalistas de tratamento da paisagem, do sucesso e aceitação da pintura de costumes, também sugerida e observada nas temáticas literárias, a figura popular, inicialmente indefinida na paisagem, absorve o espaço da composição. Adapta-se ao sentimentalismo e dramatismo da geração romântica, ao realismo de Miguel Ângelo Lupi e a uma visibilidade e afirmação figurativa, com o retrato de uma aguadeira que a visão de Malhoa amplia e promove através de um determinante gosto narrativo e de uma comunicação imediatista das idealizadas vivências rurais. M.A.S.
O Retrato
Retrato de D. Helena Dulac Pinto de Miranda, António Ramalho
O retrato expressa a afirmação do indivíduo e uma humanização do retratado que corresponde aos ideais propostos pela geração romântica, à preocupação pelo subjectivismo e a uma necessária referência do estatuto social e artístico, numa situação de projecção das burguesias na Lisboa do Fontismo. O realismo de finais de século, a descrição pormenorizada e a fidelidade ao retratado de Miguel-Ângelo Lupi antecede uma abordagem naturalista que aposta na expressividade, nos cromatismos exuberantes de António Ramalho ou nos destacados rostos de observação psicológica de Columbano, construídos em torno da importância do poder da imagem e da emergência de uma elite intelectual.
Também uma galeria autoral de interiorizadas composições em poses narcísicas, desde a melancolia da geração romântica a uma assumida e orgulhosa representação de uma atitude artística, revela o auto-retrato dos principais artistas intervenientes nos processos de mudança, tal como os conjuntos de retratos mostram as principais alterações da sociedade portuguesa através da eleição das personalidades retratadas. M.A.S.
O Intimismo
Concerto de amadores, de Columbano Bordalo Pinheiro
O interesse suscitado pelas vivências quotidianas, ligado a conceitos de civilidade e a um desejo de afirmação das burguesias, não só através do retrato, mas também da revelação dos seus espaços, transmite, em finais de oitocentos, a importância da captação de momentos diários. Leitura de uma carta, de Alfredo Keil, estudado em atelier a partir de fotografia, precioso auxiliar mecânico para a observação realista de gestos e atitudes, regista uma cena de convívio íntimo e familiar.
Interiores de salão, ambíguos cenários de intimismo e retrato focam o acontecimento banal e projectam-no a uma escala sobredimensionada em Concerto de amadores, de Columbano, reunião musical de amigos numa temática impressiva, sensitiva e de pintura em mancha, amplamente desenvolvida por este autor. Surgem naturezas mortas, interiores de um não-lugar, indefinido pela expressão de uma realidade pressentida do interior e que combina um realismo estrutural com uma subjectividade ajustada a uma visão sensível e imaginária do real. M.A.S.
Simbolismos
Amor e psyché, Veloso Salgado
O Simbolismo anunciou-se na pintura portuguesa através da obra pioneira do portuense Joaquim Vitorino Ribeiro (1849-1928), que deixou uma notícia Pré-Rafaelita inédita, de teor literário. Num meio onde o Naturalismo se converteu em fenómeno dominante, ele desenvolveu-se narrativamente no trabalho de José de Brito, e amadureceu literariamente com Veloso Salgado.
Esta narrativa literária de signos encadeados modernizou-se com Sousa Lopes e culminou num pendor sobretudo decorativo, visível na obra de Luciano Feire, uma das raríssimas pinturas Arte Nova portuguesas.
R.A.S.
Cortesia do Museu do Chiado/Maria Aires Silveira/JDACT