quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Sociedade Medieval Portuguesa: Aspectos de Vida Quotidiana. «Os bons tecidos tinham de ser importados da Flandres e da Itália, como o eram também armaduras e munições, e uma infinidade de artigos manufacturados. Ao estrangeiro interessavam, além do vinho, da fruta e do sal, couros e um pequeno corpúsculo vermelho que crescia nas cascas dos carvalhos como parasita de um insecto, a grã ou cochonilha...»

Cortesia de fabiopestanaramos

«No Algarve, a actividade mais lucrativa era a venda de fruta - figos, uvas, amêndoas - que, devidamente seca e preparada, se expedia com proveito para a Flandres e para Inglaterra.
Indústria não existia. O próprio artesanato era reduzido e confinado às necessidades do consumo:
  • fabricavam-se artigos de vestuário,
  • calçado,
  • objectos de ferro,
  • madeira e barro,
  • alfaias domésticas, e agrícolas, e pouco mais.
Os bons tecidos tinham de ser importados da Flandres e da Itália, como o eram também armaduras e munições, e uma infinidade de artigos manufacturados.
Ao estrangeiro interessavam, além do vinho, da fruta e do sal, couros e um pequeno corpúsculo vermelho que crescia nas cascas dos carvalhos como parasita de um insecto, a grã ou cochonilha, preciosa matéria-prima para o fabrico de óptima tinta escarlate, utilizada nos tecidos mais ricos e caros.

Cortesia de valmirhistoria
Este comércio foi-se desenvolvendo, sobretudo a partir do século XIII, quando o intercâmbio marítimo com Portugal começou a substituir-se às viagens dos cruzados. Internamente, a estruturação de um estado implicou certo movimento de comércio, fomentado e desenvolvido através das feiras mas já prenunciado pelas relações mercantis de todo o território de Entre-Douro-e-Minho e das Beiras, com centros em Guimarães, Porto, Braga e Coimbra. A integração do meio-dia muçulmano, rico em núcleos populacionais de importância, onde imperava forte tradição de comércio e de artesanato, constituiu factor de relevo na criação de uma economia portuguesa.
Foi também com o século de Duzentos que a circulação monetária se estimulou. Todavia, as formas rudimentares que o comércio manteve sempre, em boa parte do território nacional, impediram a passagem completa de uma economia natural a uma economia monetária. Trocas e pagamentos de serviços em géneros continuaram a alimentar esse intercâmbio durante toda a Idade Média.

Cortesia de historia7beseq
O fenómeno traduzia-se, aliás, nas poucas espécies de numerário existentes no Portugal de então:
  • a moeda de ouro era rara e deixou de ser cunhada a partir dos meados do século XIII, só o voltando a ser em finais do XV;
  • a moeda de prata não existiu até meados da centúria seguinte;
  • só a moeda de bolhão com cerca de um grama de prata, além do numerário estrangeiro, teria por isso significado nas transacções.
Exceptuados alguns anos do reinado fernandino, a situação manter-se-ia sem grandes modificações até ao primeiro quartel do século XV. Neste Portugal vivia um milhão de pessoas hierarquizadas em classes, subclasses, grupos e subgrupos. Havia a nobreza, o clero e o povo.
Mas nobreza não traduzia uma única classe social:
  • ricos-homens,
  • infanções,
  • cavaleiros e escudeiros distinguiam-se com nítidez por códigos de comportamento, de direitos e de deveres bem diferenciados.
Breve se diluíram os infanções, se obliterou o termo de cavaleiro como grau tércio da classe superior, se esqueceu o significado primitivo de rico-homem. Nos fins do século XIV e no século XV, havia vassalos do
rei, havia cavaleiros e havia escudeiros. A expressão «fidalgo» aparece nos textos, e a linhagem, mais do que os feitos de armas ou os cargos recebidos, estava na base da autêntica nobreza. É que um novo perigo, o da infiltração da burguesia, ameaçava a integridade do sangue.

Cortesia de kleffersonfarias
O burguês, que era sobretudo o grande mercador, procurava libertar-se da categoria de vilão em que se encontrava, ascender à cavalaria ou, pelo menos, assumir lugar próprio e aparte». In A Sociedade Medieval Portuguesa, Aspectos de Vida Quotidiana, A. H. Oliveira Marques, Esfera dos Livros, 6ª edição 2010, ISBN 978-989-626-241-9.

Cortesia de Esfera dos Livros/JDACT