Cortesia de grupoescolar
«Será a globalização uma força promotora do bem geral? Dada a complexidade do fenómeno, a resposta não é simples. As pessoas que fazem a pergunta, e que culpam a globalização pelo aprofundamento das desigualdades entre países, estão geralmente a pensar apenas em termos de globalização económica e, dentro desta, na liberalização do comércio mundial. Ora, como é óbvio, a liberalização do comércio mundial não é um benefício ingénuo, especialmente quando estão em causa os países menos desenvolvidos. A abertura de um país, ou apenas de parte dele, ao comércio sem barreiras pode destruir a economia local de subsistência. Uma zona tornada dependente de uns quantos produtos negociados nos mercados mundiais torna-se muito vulnerável às flutuações dos preços, bem como às transformações tecnológicas.
O comércio internacional carece de um quadro institucional, o mesmo acontecendo com outros tipos de desenvolvimento económico. Os mercados não podem ser criados por meios puramente económicos, e o nível de exposição de uma determinada economia às vicissitudes do comércio mundial tem de depender de todo um leque de critérios. contudo, opor-se à globalização económica e optar pelo proteccionismo económico seria uma táctica desajustada tanto para os países ricos como para os pobres.
Cortesia de umsonhochamadomatilde
O proteccionismo pode ser uma estratégia necessária, mas só em determinadas alturas e em certos países. Mas formas mais permanentes de proteccionismo não serão uma ajuda ao desenvolvimento dos países pobres e, entre as nações ricas, podem conduzir à guerra entre blocos económicos. Será que os Estados-nações, e por consequência os líderes políticos nacionais, ainda são poderosos ou estão a tornar-se largamente irrelevantes para as forças que estão a transformar o mundo? Os Estados-nações são, com certeza, ainda poderosos e os líderes políticos ainda têm papéis importantes a desempenhar no mundo.
Mas, ao mesmo tempo, o Estado-nação está a transformar-se diante dos nossos olhos. A política económica nacional não consegue ser tão eficiente como já foi. E, ainda mais importante, agora que as velhas formas de geopolítica se estão a tornar obsoletas, as nações vêem-se obrigadas a repensar as próprias identidades.
Mais do que inimigos, os países actuais enfrentam riscos e perigos, uma transformação profunda da sua própria natureza. E estes comentários não se aplicam apenas aos países. para qualquer lado que olhemos, vemos instituições que, por fora, parecem as mesmas de sempre, até usam os mesmos nomes, mas, por dentro, modificaram-se completamente. Continuamos a falar da nação, da família, do trabalho, da tradição, da natureza, como se todas estas instituições se mantivessem iguais ao que eram.
Cortesia de portalwebmarketing
Mas isso não é verdade. A carapaça exterior mantém-se, mas no interior houve modificações. À medida que vão adquirindo massa suficiente, as instituições estão a criar algo que nunca existiu antes:
- uma sociedade cosmopolita global.
Somos a primeira geração a viver nesta sociedade, cujos contornos ainda mal conseguimos vislumbrar. É ela que está a agitar a nossa actual forma de viver, qualquer que seja o local em que habitamos. Ainda não se trata, pelo menos de momento, de uma ordem global conduzida por uma vontade humana colectiva. Em vez disso, está a emergir de forma anárquica, ao acaso, movida por uma mistura de influências.
Não está firme nem segura, carrega muitas angústias e está ferida por divisões profundas. Muitos de nós sentimo-nos agarrados por forças que não dominamos. Poderemos voltar a impor-lhes a nossa vontade? Creio que sim. A impotência que sentimos não é sinal de qualquer fracasso pessoal, reflecte apenas a incapacidade das nossas instituições. Precisamos de reconstruir as que temos, ou de as substituir por outras. Porque a globalização não é um incidente passageiro nas nossas vidas. É uma mudança das próprias circunstâncias em que vivemos. É a nossa maneira de viver actual». In Anthony Giddens, 1999, O Mundo na Era da Globalização, Editorial Presença, 2ª edição, 2000, ISBN 972-23-2573-6.
Cortesia de Editorial Presença/JDACT