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Das Origens ao Triunfo
«A loja inglesa de Lisboa recebeu formalmente o nº 135. Mas, em 1740, uma nova atribuição de números trocou-o pelo nº 120. Com este se manteve até 1755, data em que foi abatida ao quadro oficial das lojas. Quer isto dizer que, ou não trabalhava já desde havia algum tempo, porque concessões e revogações de patentes costumam efectuar-se com grande prudência e estudo demorado de situações, ou passara a trabalhar de forma a não merecer a confiança da Grande Loja londrina. A primeira hipótese é a mais provável, tanto mais que raras notícias das suas actividades chegaram até nós. Não se cumprira a profecia optimista do Evening Post.
A loja inglesa de Lisboa era quase exclusivamente formada por protestantes, o que lhe valeu a alcunha, por que passou à História, de «Loja dos Hereges Mercantes». É provável que, em termos étnico-culturais, fosse constituída predominantemente por ingleses e escoceses. Isto explica que o outro grupo britânico residente e muito numeroso em Portugal, o dos católicos irlandeses, aspirasse a fundar uma loja que lhe estivesse mais afim. A Maçonaria setecentista tinha um cunho marcadamente religioso e as diferenças entre credos cristãos haviam de reflectir-se, mesmo que tenuamente, nas orações rezadas em loja. Além disso, irlandeses e ingleses não gostavam de conviver, por muito fraternos que fossem. E, por fim, começavam a exercer-se de vários lados pressões de outros estrangeiros e até de portugueses, solicitando admissão na nova e já, afamada Ordem. Ora a loja existente era ciosamente britânica e poucas aberturas ao exterior admitiria.
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Justificava-se, assim, a instalação em Lisboa de mais lojas. E a iniciativa da primeira destas havia de sair, como saiu, da comunidade irlandesa católica. A loja irlandesa surgiu entre 1733 e 1735, provavelmente antes mesmo de ter sido regularizada a loja inglesa. Contudo, o papel de George Gordon foi também relevante na sua origem, segundo diferentes testemunhos, poucos anos passados. Como agente da Maçonaria britânica, estava interessado na multiplicação de lojas no estrangeiro que fossem, a um tempo, elementos da propagação maçónica e elementos da influência do seu país. Àssim, já algum tempo antes da chegada da poderosa frota, Gordon promovera reuniões com maçons irlandeses, ingleses e escoceses, provavelmente católicos em sua maioria, tendentes à erecção de nova oficina.
Em 1735, esta loja achava-se já em plena actividade, continuando a prosperar até à sua forçada dissolução, três anos depois, pelas razões que veremos. Chamou-se, oficialmente, «Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia». Em 1738, passado que fora o tempo de observação, Gordon recebeu da Grande Loja de Londres os necessárior poderes para instalar oficialmente esta segunda loja de Lisboa. Mas os acontecimentos desse ano puseram prematuro fim aos trabalhos da oficina, sem lhe dar tempo a que fosse regularizada.
Esta loja, que agrupou uns 24 maçons aproximadamente, era irlandesa e católica em 75% dos casos. As minorias respeitavam, quanto à religião, a protestantes (mas sendo dois destes irlandeses também) e, quanto às nacionalidades, a ingleses, escoceses e um húngaro súbdito do Império, o famoso arquitecto Carlos Mardel. Os trabalhos da loja decorreriam, pois, em inglês. Quanto às profissões, predominavam os homens de negócio (sete), seguidos pelos marítimos (quatro), os sacerdotes e os oficiais do Exército (três de cada grupo), os médicos (dois), os professores de dança (dois), um de profissão desconhecida e o matemático Gordon.
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Relativamente à loja inglesa e se a supusermos de comerciantes quase somente, a loja irlandesa apresentava grandes vantagens do ponto de vista maçónico: congregava «irmãos» de profissões variadas e até, pelo peso que, ainda assim, tinham os protestantes, conseguia reunir com eficácia cristãos de mais de uma confissão. A «Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia» tinha reuniões ordinárias na primeira quarta-feira de cada mês, à tarde, podendo reunir extraordinariamente para proceder a iniciações ou para tratar de algum assunto anormal. Na boa tradição britânica, reunia nos fundos de uma casa de pasto situada a S. Paulo e pertencente a um dos «irmãos». A maior parte das sessões consistia em ágapes, acompanhados de música e canto, onde se comia e bebia com moderação. Também eram feitas palestras sobre temas científicos, especificando-se a Matemática (Mardel e Gordol seriam porventura os palestrantes), a Medicina e a Arquitectura. No espírito das constituições de Anderson, era proibido discutir política ou religião. Também se interdiziam o falar mal de alguém, o murmurar e o praguejar. Os livros rituais eram todos em inglês.
Em todo o globo, o crescimento da Maçonaria ia-se mostrando espectacular. De fenómeno circunscrito às Ilhas Britânicas e limitado a algumas lojas, a ordem Maçónica alcançara, em 1738, mais de 270 oficinas, das quais cerca de uma quinta parte espalhadas por três continentes. Havia lojas em praticamente todos os Estados da Europa». In A. H. Oliveira Marques, História da Maçonaria em Portugal, das Origens ao Triunfo, Editorial Presença, 1990, Depósito legal nº 34986/90.
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