segunda-feira, 8 de agosto de 2016

A Conspiração Colombo. Steve Berry. «… forte como um leão para cumprir a vontade de seu Pai que está no Céu. Sábias palavras. Venham, disse ele para os outros. Rezemos para que o segredo deste dia permaneça escondido por muito tempo»

jdact e wikipedia

1504. Jamaica
«(…) De Torres já tinha lhe dito que não arriscaria ser descoberto por nenhum examinador espanhol. Ele não voltaria para a Europa. Sua intenção era se estabelecer em Cuba, uma ilha muito maior ao norte. Os outros dois homens, com espadas em punho, mais jovens e ávidos, também já haviam decidido permanecer. Colombo deveria ficar também, mas seu lugar não era aqui, embora desejasse que as coisas fossem diferentes. Ele baixou o olhar. Os ingleses e os holandeses me chamam de Colombus. Os franceses, Columb. Os portugueses, Colom. Espanhóis me conhecem como Colón. Mas nenhum desses é meu nome verdadeiro. Infelizmente, você nunca irá conhecê-lo e não fará nenhum relatório para seus chefes na Espanha. Após um gesto, De Torres enfiou a espada no peito do homem. O prisioneiro nem teve tempo de reagir. A lâmina foi retirada, emitindo um som nojento, e o corpo ajoelhado caiu para a frente, batendo com o rosto no chão. Uma crescente poça de sangue manchou a terra. Ele cuspiu no corpo, assim como os outros. Esperava que esse fosse o último homem que veria morrer. Estava cansado de matar. Como logo voltaria para seu navio e deixaria esta terra para sempre, não haveria repercussões com o cacique pelas seis mortes. Outros pagariam esse preço, mas isso não era da sua conta. Todos eles eram seus inimigos, aos quais ele não desejava nada além de sofrimento. Ele se virou e finalmente analisou o lugar onde estava, encontrando cada detalhe que fora descrito. Sabe, almirante, disse De Torres, é como se o próprio Deus tivesse nos guiado até aqui. Seu velho amigo estava certo. Parecia mesmo. Seja corajoso como um leopardo, leve como uma águia, rápido como uma gazela e forte como um leão para cumprir a vontade de seu Pai que está no Céu. Sábias palavras. Venham, disse ele para os outros. Rezemos para que o segredo deste dia permaneça escondido por muito tempo.

Presente
Tom Sagan segurou a arma. Vinha pensando neste momento havia um ano, debatendo os prós e os contras e finalmente decidindo que um pró superava todos os contras. Simplesmente não queria mais viver. Tinha trabalhado como repórter do Los Angeles Times, recebendo um sólido salário anual de seis dígitos, com seu nome presente em muitas matérias de primeira página, uma após a outra. Trabalhara por todo o mundo: Sarajevo, Pequim, Johanesburgo, Belgrado e Moscovo. Mas o Médio Oriente se tornou sua especialidade, um lugar que ele passara a conhecer intimamente, onde sua reputação tinha sido criada. Seus arquivos confidenciais estiveram recheados de fontes dispostas a ajudá-lo, pessoas que sabiam que ele as protegeria a todo custo. Ele provara isso quando passou 11 dias em uma prisão em Washington por não revelar sua fonte em uma matéria sobre um deputado corrupto da Pensilvânia. Esse homem foi preso. Tom recebeu sua terceira indicação ao Pulitzer. Havia 21 categorias premiadas, uma delas destinada a reportagem investigativa notável feita por um indivíduo ou equipe, publicada como uma única matéria de jornal ou uma série. Os vencedores ganhavam um certificado, dez mil dólares e a honra de acrescentar quatro palavras preciosas aos seus nomes: vencedor do prémio Pulitzer. Ele ganhara um. Mas eles o tomaram. O que parecia ser a história de sua vida. Tudo tinha sido tirado dele. Sua carreira, sua reputação, sua credibilidade, até seu autorrespeito. No final, ele se tornou um fracassado como filho, pai, marido, repórter e amigo. Algumas semanas atrás, fizera um gráfico em forma de espiral em um bloco, identificando que tudo isso começou quando tinha 25 anos, recém-saído da Universidade da Flórida, entre os três melhores alunos da turma, com um diploma de jornalismo nas mãos. Então, seu pai lhe renegou. Abiram Sagan fora implacável. Todos fazemos escolhas. Boas. Ruins. Indiferentes. Você já é adulto, Tom, e fez a sua. Agora tenho de fazer a minha. E ele fez. Naquele mesmo bloco, Tom anotou os altos e baixos. Alguns como editor do jornal de seu colégio durante o ensino médio e como repórter do campus na faculdade. A maioria mais tarde. Sua ascensão de assistente para a equipe de reportagem, para correspondente internacional sénior. Os prémios. Os elogios. O respeito de seus colegas. Como um observador descrevera seu estilo? Reportagem abrangente e ousada conduzida com visão e risco. Depois, seu divórcio. O afastamento de sua única filha. Decisões de investimentos ruins. Decisões de vida piores ainda. Finalmente, sua demissão. Oito anos atrás. E a vida aparentemente vazia desde então. A maioria de seus amigos tinha desaparecido. Mas isso era tanto culpa sua quanto deles. Conforme sua depressão foi se intensificando, ele se fechou. Era surpreendente não ter buscado o álcool nem as drogas, mas isso nunca lhe atraiu. Autopiedade era sua droga. Olhou para o interior da casa. Ele decidira morrer ali, na casa de seus pais». In Steve Berry, A Conspiração Colombo, 2012, Maria B. Medina, Editora Record, 2014, ISBN 978-850-140-380-3.

Cortesia de ERecord/JDACT