Cortesia
de wikipedia e jdact
Londres.
1817
«É uma ideia fascinante, não? Jonas Maxim verteu a água
cuidadosamente sobre o coador e observou como o torrão de açúcar se dissolvia.
O esverdeado liquido de seu copo se turvou lentamente.O quarto de um dos clubes
mais exclusivos de Londres ficou absolutamente silencioso depois de sua
escandalosa proposta. Revelar nossa façanha sexual mais atrevida?, seu irmão
Colin, que estava confortavelmente sentado em uma poltrona estofada com suas
longas pernas estendidas respondeu finalmente com uma risada baixa. Somente você
poderia ter uma ideia semelhante.Mesmo assim, conte comigo.Todos somos velhos
amigos, assinalou Jonas de forma pratica, e já que nos reunimos aqui a cada mês
para desfrutar de nossa amizade e de umas taças, penso que seria um
entretenimento interessante. Gavin St. John, loiro e magro,arqueou as
sobrancelhas. Também somos homens e suponho que gostamos de uma boa história
que trate de um de nossos temas favoritos, o sexo, quero dizer, acredito que a
ideia tem seus méritos. Levantando seu copo, Ross Benson, o visconde Winterton,
disse secamente. Acredito que todos sabem que estou de acordo, já tenho uma
história memorável quando chegar a minha vez. O duque de Bellingham parecia
divertido, como era de se esperar. Seu irmão mais jovem, Christian, também sorriu.
Sentado à mesa, o conde de Grayson segurava o copo languidamente entre os dedos
e sorriu. Parece-me bem, de facto, se não se importam, eu gostaria de ser o
primeiro, acredito que tenho uma história que interessará a todos. Jonas se
reclinou em sua cadeira. Somos todo ouvidos.
O salão onde o receberam era grande, um fraco e
exótico aroma de tabaco e especiarias flutuava no ar. Robert St. Claire inalou
devagar e tentou parecer completamente tranquilo e relaxado, embora a situação
o tenha deixado um pouco desconcertado. Não era o caso de não estar acostumado
à formalidade e a opulência do palácio, simplesmente não estava certo do que se
esperava dele neste encontro em particular. A política era complicada entre
dois países tão diferentes, e sabia que não queria causar mais problemas. Era
um convidado, e não um embaixador da Inglaterra. Milord Grayson. O homem lhe
fez uma reverência, e ele imitou o educado gesto. Sinto o atraso, disse Abdul,
o cônsul do sultão, por favor, sente-se. Desejava falar a respeito de algum
tipo de tratado entre nossos países, ministro? Robert disse, indagando com
cautela, e sentando-se outra vez. Temo que não seja um diplomata, e portanto
não estou autorizado a falar em nome de meu governo sobre nenhum acordo. O
outro homem sorriu. Era magro, com o cabelo escuro, e surpreendentemente não
vestia o traje típico de seu país. Em vez disso, vestia-se de forma similar à
sua. Vestir roupas europeias era, sem dúvida, uma deferência para com seu
hóspede, para fazê-lo sentir-se menos estrangeiro e fomentar as boas relações.
Abdul negou com a cabeça levemente. Usei essa desculpa para obter uma audiência
particular com você, me perdoe, por favor. É amigo do filho de meu senhor, mas
também é inglês, e por isso desejava vê-lo. Ainda desconcertado, Robert se
perguntou por que o homem que tratava dos assuntos políticos do poderoso sultão
queria vê-lo. Já vejo. Por que o subterfúgio, posso perguntar? Abdul falou
lentamente, com seus olhos negros fixos nele. Você conheceu Ali em Cambridge, e
vocês dois, tão diferentes mas intelectualmente compatíveis, tornaram-se
grandes amigos, não é? São da mesma idade e ambos de sangue nobre. A família de
Ali ocupa uma posição mais elevada, mas seu país é mais poderoso. Em resumo,
milord, os dois são príncipes, por título e riqueza. O sultão o aprecia porque
seu filho gosta de você. Os escuros olhos de Abdul o observaram de forma
especulativa. Em resposta a suas observações, Robert disse: Ali tinha um
pequeno problema com o críquete, e como não é alguém que aceite perder por
causa da ignorância, ajudei-o um pouco treinando seus lançamentos, e suponho
que apesar da cor de nossa pele, reconhecemos um ao outro quanto a nossa
natureza competitiva, e assim cresceu a amizade entre nós. O ministro juntou as
mãos em seu colo. E o convidou a vir aqui. Demorei alguns anos para poder
aceitar, mas estou muito honrado por sua hospitalidade. Possivelmente a mão de
Alá interveio na escolha da data. Robert arqueou a sobrancelha em uma
interrogação silenciosa, agarrando sua taça. Achou o doce e quente café um
pouco enjoativo, mas uma vez mais, estava em um lugar muito diferente das
verdes colinas inglesas. Meu senhor deseja lhe oferecer um presente, disse
Abdul com brutalidade, uma mulher para encher suas noites de prazer enquanto
estiver connosco. Foi comprada recentemente e destinada ao seu harém, mas tomei
a liberdade de sugerir que você sentiria uma grande atracção por uma pálida e
loira mulher de seu país natal. Robert se esticou ligeiramente, suas botas se
moveram sobre o tapete de vivas cores sob seus pés. Há uma mulher inglesa aqui?
O outro homem assentiu, sua taça de café permanecia sem tocar na delicada mesa
que havia entre eles. Não tivemos nada a ver com sua captura, entenda, há
homens que fazem isso ao longo de toda esta costa, homens que tomam
prisioneiros e os vendem, especialmente mulheres bonitas. Quando as trazem
aqui, se forem traentes e puras, meu senhor, se o agradarem, compra-as. Abdul
sorriu sucintamente. Pensa que é algo bárbaro, seu rosto o demonstra, mas não é
muito diferente da maneira como sua sociedade vende suas jovens filhas em
casamentos de conveniência pelo dote e a posição social. Um pouco diferente,
alegou Robert em silêncio, mostrando em seu rosto uma expressão impessoal, mas
possivelmente não tão diferente se alguém pensasse bem. E comentou. Não estou
aqui para julgar seus costumes, ministro. Deseja que fale com Ali, para ver se
pode pedir a seu pai que liberte a garota? De maneira nenhuma, a resposta foi
enfaticamente cortante. Já falei com sua alteza, contando que a mulher diz ser
da nobreza, e que sua família tem influência e dinheiro e que desejariam sua
liberdade, mesmo se isso significasse que os navios de guerra ingleses atraquem
em nossas costas. O cônsul inglês tem espiões aqui e cedo ou tarde descobrirá
que está encerrada no palácio, é somente uma questão de tempo. Quem é ela? Diz
que é a filha do duque de Rushton. Robert digeriu a informação com
consternação. Bom Deus. A filha mais jovem, recordou. Era considerada a jovem
mais bela da sociedade de Londres. Nunca foram apresentados já que ela era uma
ingénua debutante e ele esteve em viagens por muito tempo, mas seu nome
aparecia na secção de sociedade de vários periódicos que sua mãe enviava
regularmente. Como demónios, perguntou-se, tinha caído nas mãos de criminosos
errantes em busca de mulheres para vender ilicitamente no mercado do sexo nesta
remota parte do mundo? Conheço seu pai, disse Robert, e ela pode estar certa,
tem uma grande influencia em meu país, e também é muito rico, possivelmente
deveria pedir um resgate por ela, seu pai pagaria bem para recuperar sua filha.
Infelizmente, meu senhor não precisa de dinheiro, e não entende que uma mulher
possa ter tanto valor para que um país empreenda uma guerra para libertá-la.
Abdul acrescentou pacientemente. Não é nossa maneira de ver as coisas. As
mulheres são propriedades, entende? Meu senhor não é cruel, e Ali basicamente é
um bom homem, mas nenhum dos dois atenderá seu pedido de libertar uma simples
mulher. Para eles, ela é insignificante. Ora, replicou Robert, quando a
conversa tornou-se mais clara. Estudei seus costumes a fundo antes de vir. Eu
sou um pouco diferente, minha mãe era de sua raça, o sultão descartou a ameaça
de uma possível represália, mas eu não estou tão certo. Abdul titubeou
brincando com a asa de sua taça. Sugeri a ela como o presente que deseja lhe
oferecer, isso é algo que ele entende. A declaração de que você preferiria uma
mulher de sua própria raça é algo que faz sentido para ele». In Emma
Wildes, A Pérola das Arábias, Siren Publishing, Wikipedia,
Luciana Veit, versão espanhola, ISBN 978-141-168-430-0.
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