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de wikipedia e jdact
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Esta viagem pela península itálica que levou o conde de Ourém até Basileia
permitiu-lhe contactar com um ambiente completamente diferente daquele que
tinha visto na Flandres. Frequentemente, o relato assinala conflitos latentes e
situações de insegurança, demonstrativos do ambiente instável que se vivia
nalgumas cidades-estado. E esta luta travava-se não só no campo de batalha, mas
também nos edifícios públicos de reunião e administração comunal, cuja
construção era promovida e paga pelas associações comerciais e/ou artesanais, e
nos que o senhor patrocinava, paços, capelas privadas ou outras
construções, ricamente decoradas com pinturas e esculturas. Naqueles
territórios, no início do século XV, uma cultura mecenática estava em germinação
e dava já passos seguros no sentido de uma atitude de valorização e
enriquecimento cultural e artístico que foi levada a cabo, a partir do início
do século XV, por inúmeros encomendadores privados, naquela zona tão particular
da Europa mediterrânica.
Tudo
o que ficou assinalado nos textos e que expressamente é referenciado, constitui
um conjunto bastante interessante de obras de arquitectura que o conde de Ourém
viu: vários paços régios e outros de natureza mais modesta, estaus, castelos e
alcáçovas e edifícios de carácter religioso: Catedral de Tarragona, Mosteiro de
Montserrat em Barcelona, Catedral e Baptistério de Pisa, Catedral, Torre e
Baptistério de Florença, Basílica de S. Petrónio em Bolonha, Catedral de Milão,
Mosteiro de São Bernardo nos Alpes e as catedrais de Basileia, Ruão,
Estrasburgo, Colónia e Mosteiro de São Francisco e das Onze Mil Virgens, na
mesma cidade. Mas, certamente, outros edifícios igualmente importantes e que o
texto não assinala, devem ter sido observados. Esta afirmação fundamenta-se no
facto de, sendo as estadas do 4º Conde de Ourém por vezes prolongadas e sendo
aqueles edifícios marcos significativos nas cidades, decerto foram vistos.
Podemos afirmar que em Valencia, Afonso terá, pelo menos, visto a respectiva
Catedral, construída entre meados do século XIV e o início do seguinte, que já
apresentava o seu campanário, el Miquelete, uma torre octogonal que se
erguia a mais de 51m, concluída em 1429.
Barcelona
onde esteve seis semanas não seria uma novidade para ele. O relato assinala o
local onde terá ficado instalado: ... na praçaa de Santa Anna, que era a
paa[r] donde pousava o Conde ... No actualmente denominado Bairro Gótico, a
toponímia regista uma Rua de Santa Ana, junto à Praça da Catalunha. Decerto
esta é uma designação recente, pelo que se apresenta provável que Afonso tenha
pousado num edifício desta praça, que no século XV deveria evocar o nome da mãe
de Nossa Senhora. O relato descreve com pormenor os encontros que Afonso teve com
a rainha de Castela que estava acompanhada da irmã, no paço onde pousavam. O
texto não assinalou o nome pelo qual era conhecido, mas pela importância e
posição de quem nele se hospedou só poderia tratar-se do palácio real,
localizado próximo da catedral, confirmando assim que Afonso conheceu, com
algum detalhe (a passagem do relato do encontro descreve-o demorado) este
importante paço de Barcelona e teve oportunidade de admirar novamente a
magnífica arquitectura gótica daquela cidade. Relativamente à estada em
Florença que ocorreu entre 8 e 21 de Julho, julgamos que se terá revelado muito
significativa, não tanto pelas questões relacionadas com a missão diplomática
do conde de Ourém mas porque nesta tão importante cidade da Toscânia se vivia
um singular momento: no final do mês seguinte ou seja a 30 de Agosto de 1436
seria sagrada a cúpula do Duomo, ainda não rematada pelo lanternim que mais
tarde a coroou, em 1461. Por estes tempos, a fama de Brunelleschi deveria ecoar
pela cidade e com ela a renovação da arquitectura florentina. Sabemos que o
estaleiro da catedral, onde estariam algumas das máquinas concebidas/inventadas
por aquele arquitecto e que possibilitaram o fecho da cúpula, passados mais de
sessenta anos sobre a conclusão das obras, ainda era ponto de atracção e
passagem obrigatória de viajantes curiosos. O que não seria em 1436 a um mês da
inauguração da grande obra?» In Alexandra Leal Barradas, D. Afonso, 4º
conde de Ourém, Revista Medievalista, director Vasconcelos Sousa, Ano 2, Nº 2,
Instituto de Estudos Medievais, FCSH-UNL, FCT, 2006, ISSN 1646-740X.
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