segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Dan Brown. O Símbolo Perdido. «Ao redor dele, prosseguiu Langdon, podem ver uma estranha e anacrónica série de personagens: deuses antigos oferecendo aos nossos pais fundadores um conhecimento avançado. Podemos ver Minerva…»

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«Tanto Anderson quanto Sato pareciam surpresos. Actualmente, o único indício de que ali já houvera uma chama acesa era a estrela de quatro pontas que representa a rosa dos ventos gravada no piso da cripta um andar abaixo de onde eles estavam, símbolo da chama eterna dos Estados Unidos que um dia havia irradiado sua luz para os quatro cantos do Novo Mundo.

Então, professor, disse Sato, sua tese é a de que o homem que deixou a mão de Peter aqui sabia de tudo isso? Está claro que sim. E sabia muito, muito mais. Esta sala está cheia de símbolos que reflectem a crença nos Antigos Mistérios. Um saber secreto, disse Sato, com um tom de voz que fazia mais do que sugerir sarcasmo. Um conhecimento que permite aos homens adquirir poderes comparáveis aos de um deus? Sim, senhora. Isso não se encaixa muito bem nos fundamentos cristãos deste país. Aparentemente não, mas é verdade. Essa transformação do homem em deus se chama apoteose. Quer a senhora saiba disso ou não, esse tema é o elemento central do simbolismo desta Rotunda. Apoteose? Anderson se virou para ele com uma expressão espantada de reconhecimento.

Sim. Anderson trabalha aqui. Ele sabe. A palavra apoteose significa literalmente transformação divina: o homem que se torna deus. Vem do grego antigo: apo, que aqui significa tornar-se, e theos, deus. Anderson parecia pasmo. Apoteose quer dizer virar deus? Eu não fazia a menor ideia. Do que vocês estão falando?, indagou Sato. Minha senhora, disse Langdon, o maior quadro deste prédio se chama A Apoteose de Washington. E ele mostra claramente George Washington sendo transformado em deus.

Sato fez cara de céptica. Eu nunca vi nada desse tipo. Na verdade, tenho certeza de que viu, sim. Langdon ergueu o indicador e apontou para cima. – Está bem acima da sua cabeça.

A Apoteose de Washington

Um fresco de 433 metros quadrados que adorna a cúpula da Rotunda do Capitólio, foi concluída em 1865 por Constantino Brumidi. Conhecido como Michelangelo do Capitólio, Brumidi deixou sua marca na Rotunda do mesmo modo que Michelangelo deixou a sua na Capela Sistina: pintando um fresco na tela mais sublime do recinto, o tecto. Assim como Michelangelo, Brumidi fizera alguns de seus melhores trabalhos dentro do Vaticano. No entanto, ao emigrar para os Estados Unidos em 1852, ele havia trocado o maior altar de Deus por um novo altar, o Capitólio dos Estados Unidos, que agora reluzia com exemplos de sua arte,  do trompe l’oeil dos Corredores de Brumidi aos frisos do tecto da Sala do Vice-presidente. Mas era a gigantesca imagem que pairava sobre a Rotunda do Capitólio que a maioria dos historiadores considerava a sua obra-prima. Robert Langdon ergueu os olhos para o enorme fresco que cobria o tecto. Em geral ele apreciava as reacções espantadas de seus alunos às bizarras imagens da pintura, mas, naquele momento, sentia-se apenas preso em um pesadelo que ainda precisava entender.

A directora Sato estava parada ao seu lado com as mãos nos quadris, as sobrancelhas franzidas para o tecto distante. Langdon sentiu que ela estava tendo a mesma reacção que muitos tinham na primeira vez em que paravam para observar a pintura no coração de seu país. Perplexidade total. A senhora não é a única, pensou Langdon. Para a maioria das pessoas, quanto mais se olhava para A Apoteose de Washington, mais estranha a pintura ficava. Aquele ali no painel central é George Washington, disse Langdon, apontando para o meio da cúpula quase 60 metros acima. Como a senhora pode ver, ele está usando vestes brancas e, com o auxílio de 13 donzelas, ergue-se acima dos mortais sobre uma nuvem. Esse é o instante da sua apoteose... da sua transformação em deus. Sato e Anderson não disseram nada.

Ao redor dele, prosseguiu Langdon, podem ver uma estranha e anacrónica série de personagens: deuses antigos oferecendo aos nossos pais fundadores um conhecimento avançado. Podemos ver Minerva concedendo inspiração tecnológica aos grandes inventores de nosso país: Ben Franklin, Robert Fulton, Samuel Morse. Langdon os apontou um a um. E ali temos Vulcano nos ajudando a construir um motor a vapor. Ao seu lado temos Ceres, deusa dos grãos e raiz etimológica de nossa palavra cereal; ela está sentada sobre a debulhadeira McCormick, a inovação agrícola que permitiu a este país se tornar líder mundial em produção de alimentos. Do lado oposto está Neptuno, demonstrando como instalar o cabo transatlântico. O fresco retrata de forma bastante clara os nossos pais fundadores recebendo um grande saber dos deuses. Ele baixou a cabeça e olhou para Sato. Conhecimento é poder, e o conhecimento certo permite ao homem realizar tarefas milagrosas, quase divinas». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

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