quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Os Pilares da Terra. Ken Follett. «Estava ansioso e um pouco assustado. O fora-da-lei era um homem menor que ele, mas seus movimentos eram rápidos e perversos, como demonstrara ao bater em Martha e roubar o porco»

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«Tom virou-se depressa para que o homem não o visse. Agora tinha que decidir como resolver aquilo. Estava furioso o bastante para derrubar o fora-da-lei com um soco e pegar sua bolsa. Mas a multidão não o deixaria fugir. Precisaria explicar-se, não só a quem estava ali, como também ao xerife. Tom estava dentro do seu direito, e o facto de o ladrão ser um fora-da-lei significava que não teria ninguém para testemunhar pela sua honestidade; enquanto Tom evidentemente era um homem respeitável e um pedreiro. Provar tudo isso, porém, levaria tempo, talvez semanas, se acontecesse de o xerife estar em outra parte do condado; e poderia ainda haver uma acusação de romper a paz do rei, se houvesse uma briga.

Não, seria mais sábio pegar o ladrão sozinho. Era possível que o homem não fosse passar a noite na cidade, pois não tinha casa ali e talvez não conseguisse hospedagem se não pudesse, de um modo qualquer, provar ser um homem respeitável. Assim sendo, precisava ir embora antes que os portões fechassem, ao cair da noite. E havia apenas dois portões. Ele provavelmente voltará por onde veio, disse Tom dirigindo-se a Agnes. Vou esperar lá fora, junto do portão leste. Alfred cuida do portão oeste. Você fica na cidade e vê o que o ladrão faz. Conserve Martha ao seu lado, mas não deixe que ele a veja. Se precisar mandar um recado para mim ou para Alfred, mande-o pela menina.

Certo, concordou Agnes, tensa. O que devo fazer se o ladrão vier na minha direção?, perguntou Alfred, que parecia excitado. Nada, respondeu o pai com firmeza. Veja que estrada ele segue e espere. Martha irá me buscar e cuidaremos dele juntos. Alfred pareceu ficar desapontado, e Tom acrescentou: Faça o que digo. Não quero perder meu filho, como também não quero perder meu porco. Alfred aquiesceu, relutante. Vamos nos separar, antes que ele note nossa presença aqui. Vamos.

Tom saiu imediatamente, sem olhar para trás. Podia confiar em Agnes para levar a cabo o plano. Dirigiu-se rapidamente para o portão leste e deixou a cidade, atravessando a oscilante ponte de madeira onde empurrara o carro de boi naquela manhã. Bem na sua frente ficava a estrada de Winchester, no rumo leste, sempre recta, como um longo tapete desenrolado sobre colinas e vales. À esquerda, a estrada pela qual ele, e presumivelmente também o ladrão tinha chegado a Salisbury, a Portway, fazia uma curva sobre uma colina e desaparecia. O ladrão certamente iria pela Portway. Tom desceu a colina e passou pelas casas que se agrupavam na encruzilhada, tomando por fim a Portway. Precisava se esconder. Caminhou pela estrada, procurando um lugar adequado. Seguiu adiante umas duzentas jardas sem encontrar nada. Olhando para trás, viu que tinha ido muito longe: não podia mais distinguir as feições das pessoas na encruzilhada, de modo que não saberia se o homem sem lábios havia saído da cidade e tomado a estrada de Winchester. Examinou a paisagem novamente. A estrada era margeada de ambos os lados por valas, que teriam servido de esconderijo com tempo seco, mas que nesse dia estavam cheias de água. Logo depois de cada vala, a terra se amontoava. No campo, do lado sul da estrada, algumas vacas pastavam o restolho do capim. Tom notou que uma delas estava deitada na extremidade do pasto, uma elevação que dominava a estrada, e era parcialmente escondida pelo monte de terra que acompanhava a vala. Com um suspiro, refez os passos. Saltou a vala e deu um pontapé na vaca, que se levantou e foi embora. Deitou-se no lugar seco e quente que ela deixara. Puxou o capuz sobre o rosto e se acomodou para esperar, desejando que tivesse tido a ideia de comprar um pedaço de pão antes de sair da cidade.

Estava ansioso e um pouco assustado. O fora-da-lei era um homem menor que ele, mas seus movimentos eram rápidos e perversos, como demonstrara ao bater em Martha e roubar o porco. Tom tinha um pouco de medo de se machucar, mas se preocupava muito mais em ficar sem seu dinheiro. Esperava que a mulher e a filha estivessem bem. Agnes podia se cuidar, ele sabia; e mesmo que o fora-da-lei a reconhecesse, o que poderia fazer? Ficaria apenas em guarda, mais nada. De onde estava deitado, Tom podia ver as torres da catedral. Quisera ter tido um momento para dar uma olhada por dentro. Estava curioso acerca do tratamento dado às pilastras da arcada. Normalmente eram pilares grossos, com os arcos nascendo do topo de cada um deles: dois na direcção norte e sul, para a ligação com os pilares vizinhos na arcada; e um na direcção leste ou oeste, cruzando a nave lateral». In Ken Follett, Os Pilares da Terra, 1989, Editorial Presença, 2007, ISBN 978-972-233-788-5

Cortesia de EPresença/JDACT

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