quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Os Arquivos Secretos do Vaticano. Sérgio P. Couto. «A exemplo de muitos outros inquisidores, inclusive do polémico Savonarola, foi poderoso, temido e respeitado dentro e fora do ambiente eclesiástico por defender seus ideais com ferocidade»

Cortesia de wikipedia e jdact

As Principais Correntes Hereges

«(…) Puritanismo: Concepção da fé cristã desenvolvida na Inglaterra por uma comunidade de protestantes radicais depois da Reforma. Pretendia purificar a Igreja Anglicana, ao retirar os resíduos do Catolicismo, de modo a tornar a sua liturgia mais próxima à do Calvinismo.

Monarquianismo: Série de crenças que enfatizam a Unidade Absoluta de Deus. A crença conflitua com a doutrina da Trindade, que vê em Deus uma unidade composta pelo Pai, Filho e Espírito Santo. O adicionismo, uma de suas correntes, diz que Deus é um único ser, superior a tudo e completamente indivisível. Assim, o Filho não foi co-eterno com o Pai, mas sim revestido (ou adoptado) de Deus para pôr em prática seus desígnios.

Maniqueísmo: Fundada pelo profeta persa Mani ou Manes no século III, na Pérsia ou na Babilónia. Divide o mundo entre Bem, ou o Deus bom, e o Mal, ou o Deus mal. A matéria é intrinsecamente má, por isso o espírito é intrinsecamente bom e, ao tomar um corpo físico, deixa-se corromper.

Arianismo: Visão sustentada pelos seguidores de Arius, bispo de Alexandria nos primeiros tempos da Igreja primitiva. Esse movimento negava a existência da consubstancialidade (ou seja, que possui a mesma substância) entre Jesus e Deus. O Cristo seria preexistente, uma criatura mais excelsa, que encarnara em Jesus de Nazaré. Este seria, por sua vez, um subordinado de Deus, e não o próprio. Ário afirmava que só existe um Deus e que Jesus seria apenas seu filho, e não o próprio.

Nestorianismo: Doutrina do século V que afirma que há em Jesus Cristo duas pessoas distintas: uma humana e outra divina, completas de tal forma que constituem dois entes independentes. Essa doutrina surgiu em Antioquia e manteve forte influência na Síria. É sustentada ainda hoje por correntes ligadas ao movimento Rosacruz e à Gnose.

A Inquisição (maldita) Medieval

A versão medieval da Inquisição (maldita) começou suas actividades em 1184, na famosa região do Languedoc, no sul da França, lugar polémico por ser acusado de ser o berço de movimentos heréticos, como o dos cátaros ou albigenses. Os cátaros acreditavam em dois deuses: um bom e espiritual e outro mau e físico. Segundo sua crença, Cristo teria sido enviado para salvar as almas boas, que iriam para o céu, enquanto as más voltariam por meio da reencarnação. Isso fez com que os clérigos criassem uma Inquisição (maldita) para avaliar a propagação de tais ideias em 1183, quando delegados papais descobriram essa vertente e a consideraram heresia no Concílio de Verona, em 1184, com o nome de Tribunal da Inquisição (maldito). Tal criação se deu por meio de duas bulas papais, assinadas por Gregório IX em Abril de 1233. A partir de então, a instituição julgou e condenou vários propagadores de heresias, mas também absolveu muitos, o que é pouquíssimo divulgado. O texto seguinte é parte da bula Licet ad capiendos, de 1233, que marca o início da Inquisição (maldita) e é dirigida aos dominicanos inquisidores. Vejamos o que diz:

Onde quer que os ocorra pregar, estais facultados, se os pecadores persistem em defender a heresia apesar das advertências, a privá-los para sempre de seus benefícios espirituais e proceder contra eles e todos os outros, sem apelação, solicitando em caso necessário a ajuda das autoridades seculares e vencendo sua oposição, se isto for necessário, por meio de censuras eclesiásticas inapeláveis. Vale lembrar que os dominicanos eram chamados originalmente de Ordem dos Pregadores. Têm como objectivo pregar a mensagem de Jesus e a conversão ao cristianismo. Essa ordem foi fundada em Toulouse, na França, em 1216, por São Domingos de Gusmão, um sacerdote espanhol originário da Caleruega. Os religiosos dessa ordem viviam em conventos próximos a grandes cidades e realizavam votos de pobreza, obediência e castidade, o que os tornava religiosos não monges.

Não é à toa que Humberto Eco escolheu Bernardo Gui, justamente um dominicano, para caracterizar seu inquisidor impiedoso. Essa figura histórica foi o bispo de Lodève, na região do Languedoc, e é considerado como um dos escritores mais produtivos da época.

A exemplo de muitos outros inquisidores, inclusive do polémico Savonarola, foi poderoso, temido e respeitado dentro e fora do ambiente eclesiástico por defender seus ideais com ferocidade. Foi um dos que mais atacou os cátaros, presidindo julgamentos entre 1307 e 1323». In Sérgio P. Couto, Os Arquivos Secretos do Vaticano, da Inquisiçãoà renúncia de Bento XVI, Editora Gutenberg, 2013, ISBN 978-856-538-385-1.

 Cortesia de EGutenberg/JDACT

JDACT, Sérgio P. Couto, Vaticano, Religião, Conhecimento,