(1918-2011)
Lisboa
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Vitorino Barbosa de Magalhães Godinho foi considerado um dos mais notáveis académicos portugueses, sendo um dos nomes da corrente historiográfica que se começou a desenvolver em torno da «Revue des Annales», Annales d'histoire économique et sociale (Anais de História Económica e Social), fomentada pelos historiadores franceses Marc Bloch e Lucien Febvre, então da Universidade de Estrasburgo.
Foi Professor Catedrático da Universidade Nova de Lisboa, do Departamento de Sociologia da FCSH, sendo Doutor pela Sorbonne, Faculdade de Letras da Universidade de Paris, país onde sedimentou grande parte da sua vida académica e científica. O seu nome académico identifica-se, em grande parte, com a Universidade Nova de Lisboa:
- o Professor Vitorino Magalhães Godinho foi um dos pioneiros das Ciências Sociais em Portugal,
- fundador da Sociologia da Nova.
O seu espírito crítico, a sua capacidade de elaboração teórica constituíram-se como referência absoluta para a construção da instituição, onde existe uma fusão aprofundada entre a Historiografia e a Sociologia, muito na linha da segunda fase e da terceira fase da «Revue des Annales». Vitorino Magalhães Godinho foi o académico português que melhor representou essa corrente historiográfica, muito próxima da Sociologia.
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Começou os seus estudos pela Filosofia (Razão e História, Introdução a um problema, 1940; Esboço sobre alguns problemas da Lógica, 1943. E de imediato inicia pesquisas sobre a História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa. Duas são as linhas de investigação inicial:
- um minucioso trabalho erudito sobre as fontes (Documentos para a História da Expansão Portuguesa, 1943–1956) a partir de uma problemática muito ampla (A Expansão Quatrocentista portuguesa, 1944),
- uma tentativa de reconstituição das culturas e civilizações antes da chegada dos portugueses (História económica e social da Expansão Portuguesa, 1947;
- O «Mediterrâneo saariano» e as caravanas do ouro — séculos XI ao século XVI, 1956).
Só assim, na conjugação destas duas linhas de trabalho, se conseguirá proceder à construção da história portuguesa e do seu impacte no Mundo nos séculos XV e XVI. Prosseguiu os trabalhos na École Pratique des Hautes Études em Paris, junto de Lucien Febvre, Fernand Braudel e Ernest Labrousse , aí apresenta Prix et monnaies au Portugal: 1750–1850 (1955) e L’économie de l’empire portugais — XVème–XVIème siècles (1966), obra que foi tese de doutoramento (editada em português, com acrescentos, em 1963–1971, Os descobrimentos e a economia mundial, com edição definitiva em 1983–1984).
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Integra a corrente historiográfica que se desenvolve em torno da «Revue des Annales» (Escola dos Annales). Destacou-se pela resistência à ditadura (o que lhe valeu por duas vezes o afastamento da universidade portuguesa) e também pela sua intervenção cívica em democracia, de que resultaram várias publicações:
- O Socialismo e o futuro da Península (1970),
- Portugal. A Pátria bloqueada e a responsabilidade da cidadania (1985).
- Apresentou propostas originais para reforma do sistema educativo português: Um rumo para a educação (1974).
Deve-se-lhe a actualização e a renovação dos estudos de história da expansão portuguesa numa perspectiva mundial. Partindo das reflexões e investigações de Oliveira Martins, Jaime Cortesão e Duarte Leite consegue ir muito mais longe e construir explicações muito enriquecedoras. A economia dos descobrimentos henriquinos (1962) e Os descobrimentos e a economia mundial revelam essa largueza de preocupações, mostrando como se entrelaçam e conjugam aspectos vários das disciplinas das ciências sociais na investigação histórica.
Os Descobrimentos são o cadinho onde se forjam um tipo social novo, uma nova constelação social, uma reestruturação dos laços político-económicos, o Estado nacional mercantilista-nobiliárquico.
Também no domínio da História de Portugal, moderna e contemporânea, escreveu estudos fundamentais e promoveu investigações que refizeram muitas temáticas:
- A estrutura da antiga sociedade portuguesa (1971),
- Mito e mercadoria, utopia e prática de navegar, séculos XIII–XVIII (1990).
- Igualmente se lhe deve a indicação de novos temas e novos problemas para investigações e dissertações que dirigiu, em especial durante o seu magistério na Universidade Nova de Lisboa.
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Das suas lições de rigor erudito, de alargamento metodológico e da problematização das fontes como objecto cultural, de ensaio de quantificação e de cruzamento com as diferentes ciências sociais, de fundamentação teórica e de aplicação de uma visão histórica aos diferentes domínios do saber, de cidadania activa resultou uma notável renovação dos estudos de história em Portugal. Como escreveu numa das suas primeiras obras, «não é possível analisar os problemas da realidade portuguesa contemporânea sem os inserir na trama da evolução do nosso país, quer dizer, sem estudar as condições de formação do mundo em que vivemos, a génese da nossa cultura, da nossa sociedade, da estrutura político-económica de Portugal».
Levando longe a sua proposta de que a história deve ser pensada na dialéctica da globalidade e de que a história é uma forma de pensamento, fundamenta uma visão da contemporaneidade muito rica e estimulante.
Vitorino Magalhães Godinho foi considerado um dos historiadores portugueses mais notáveis de sempre e dos que tem o maior número de títulos publicados, com um tipo de abordagem sociológica da Historiografia, próxima da pura Sociologia, visto que, durante a «ditadura salazarista», publicou vários livros de pura Sociologia.
Considerado uma das referências académicas e científicas mais relevantes do Departamento de Sociologia da FCSH, para além de ter sido o principal académico que configurou a estrutura do Departamento e também da FCSH, onde fez alguns discípulos e influenciou a investigação sociológica de vários docentes do Departamento, como Moisés Espírito Santo e David Justino.
http://www.cnc.pt/Artigo.aspx?ID=650Considerado uma das referências académicas e científicas mais relevantes do Departamento de Sociologia da FCSH, para além de ter sido o principal académico que configurou a estrutura do Departamento e também da FCSH, onde fez alguns discípulos e influenciou a investigação sociológica de vários docentes do Departamento, como Moisés Espírito Santo e David Justino.
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