sábado, 6 de junho de 2015

Um Olhar sobre as Antigas Viaturas dos Bombeiros Privativos da Fábrica Robinson. Portalegre. Armando Quintas. «A primeira intervenção em conjunto de que há conhecimento teve lugar a 2 de Setembro ainda antes da efectiva legalização da corporação Robinson, num incêndio que se deu num olival da estrada da serra»

jdact

A Corporação dos Bombeiros Voluntários de Portalegre
«(…) A Corporação permaneceu naquele espaço até 1916, altura em que George Milner Robinson cedeu as instalações em que a mesma estava ao l.º Batalhão de Infantaria 22, cujo quartel ia entrar em obras, continuando ali a casa escola até pelo menos 1932. Nos anos seguintes os bombeiros voluntários de Portalegre não tiveram os meios necessários para modernizar o seu equipamento e, em 1933, o Álbum Alentejano depois de tecer grandes elogios à Corporação referia que a mesma se mantinha na retaguarda no que diz respeito ao material de combate, pois, ainda conservava as suas antigas viaturas, não dispondo de viaturas motorizadas suficientes numa cidade onde existiam importantes fábricas e edifícios de valor.

A corporação dos Bombeiros Robinson
Esta corporação foi criada a 14 de Setembro de 1908, ficando a dever-se à necessidade de uma equipa permanente que vigiasse e acudisse de imediato ao mais pequeno indício de incêndio na fábrica, devido aos riscos elevados por conta da quantidade e do valor da matéria-prima armazenada. Constituída sobretudo por trabalhadores da fábrica, alguns deles bombeiros nos Voluntários de Portalegre de onde saíram para integrarem a nova corporação. Começou com 25 elementos, tendo como primeiro comandante Francisco António Ceia. Contou de início com diverso material que estava há anos cedido aos Voluntários de Portalegre, entre o qual constavam duas bombas de extinção de incêndios, que passaram para a Fábrica Robinson, continuando no entanto à disposição daquela Corporação. A primeira intervenção em conjunto de que há conhecimento teve lugar a 2 de Setembro ainda antes da efectiva legalização da corporação Robinson, num incêndio que se deu num olival da estrada da serra. Ambas as corporações tinham instituído práticas de entre-ajuda para melhor gerir o combate aos incêndios. Uma dessas práticas, previa que se o incêndio fosse na cidade todos os bombeiros se pusessem sob a alçada do comandante dos Bombeiros Voluntários de Portalegre, outra estabelecia que uma das companhias permanecesse na cidade, enquanto a outra se dirigia ao local do fogo, comunicando previamente tal situação, prática que ainda se encontrava em vigor em 1933. Na comemoração dos 25 anos da corporação dos Bombeiros da Robinson, o jornal A Rabeca de Outubro de 1932, descreve as várias iniciativas com que se comemorou esse dia: alvorada com içar da bandeira, um exercício de bombeiros na Fábrica Robinson, bem como uma romagem ao cemitério e um sarau dançante. Em 1990, a corporação, tendo como comandante José Maria Ramos e contando com 20 elementos activos e 4 auxiliares, é integrada no Serviço Nacional de Bombeiros.

As antigas viaturas da corporação dos Bombeiros Privativos Robinson
A documentação disponível, para além de não ser abundante, nada refere de concreto sobre as viaturas, distinguindo-as apenas pela sua função durante os fogos entre bombas ou viaturas auxiliares. Para além de algumas referências a viaturas que pertenciam a empresas da cidade ou mesmo ao município, não é conhecido o seu número exacto e muito menos as suas características e proveniência, excepto para a bomba já mencioada que George Robinson mandou vir de Inglaterra para oferecer aos Bombeiros Voluntários de Portalegre. Quanto aos meios com que se iniciou a corporação, António Ventura refere a existência de 4 veículos não motorizados, um destinado ao transporte de lances de mangueiras e agulhetas, outro para lances de escadas e os dois restantes equipados com bombas braçais. Dois destes veículos seriam as já mencionadas bombas que foram devolvidas pelos Voluntários de Portalegre, às quais se juntaria o restante material da Fábrica Robinson e tendo em conta as quatro viaturas que chegaram aos nossos dias, três delas poderão constituir o núcleo original das viaturas Robinson.
Estas viaturas eram movidas a força humana, pois além de não existirem nem referências ao uso de animais nem peças de atrelagem, possuem uma barra dianteira revestida de corda, o quepermitia que fossem empurradas por dois homens. São construídas em madeira, com algumas peças em metal, pintadas de vermelho com um pequeno símbolo a negro (dois machados cruzados tendo por baixo as iniciais B.R., de Bombeiros Robinson quer na dianteira, quer face lateral das viaturas. Em relação à primeira viatura trata-se de uma bomba de extinção de incêndios, cujos cilindros de cobre, activados pela força braçal, constituíam uma câmara-de-ar que funcionava através do princípio do vácuo, puxando assim a água de poços ou fontes». In Armando Quintas, Um Olhar sobre as Antigas Viaturas dos Bombeiros Privativos da Fábrica Robinson, Portalegre, Publicações da Fundação Robinson, Portalegre, nº 28, p.22-33, 2014, ISSN 1646-7116.

Cortesia da FRobinson/JDACT