quinta-feira, 26 de abril de 2018

A Verdadeira História. Margaret George. «Por um momento, surpreendeu-a que Sara, dois anos mais velha que ela, e Raquel, ainda mais velha, acatassem a sua ideia, mas ficou contente que assim fosse»

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A Mulher que Amou Jesus
«(…) Era verdade que ela queria saber tudo sobre Deus e suas exigências, mas não pretendia passar o tempo todo mergulhada em documentos, como os escribas e pesquisadores que conheciam em Magdala, que, apesar de perigosamente influentes junto à comunidade, também eram cómicos. Nem o próprio Eli queria juntar-se a eles. Não é bem isso..., começou a explicar. Mas o que havia para adorar num templo vazio?, era o que realmente queria perguntar a Silvanus. Mas talvez ele não compreendesse.
A viagem de volta parecia mais rápida. Assim que se reuniu, no alto da colina acima de Jerusalém, e depois de seus líderes terem contado as famílias, para se certificarem de que se encontravam todos ali, a enorme caravana partiu. Com um sinal, as carruagens começaram a mover-se na direcção norte, rumo à Galileia. Alguns iriam, depois, para Jope e outros, na direcção leste, para Jericó, mas a família de Maria iria directamente para o mar da Galileia. As coisas agora pareciam mais confusas. A família de Maria e as cinco outras famílias religiosas de Magdala passaram a ficar mais próximas umas das outras, mas Maria sempre procurava um jeito de escapar. Sentia curiosidade de ver seus vizinhos do lago, e esta era a sua oportunidade. Já sabia os nomes das cidades: Cafarnaum e Betsaida; outras, como Nazaré, ficavam bem mais longe. Queria conhecer as pessoas que moravam nesses lugares. No seu grupo de Magdala, não havia outras crianças, além das suas primas distantes, Sara e Raquel, que também estavam ansiosas por novidades. Vamos dar uma escapada!, sussurrou para elas. Vamos juntar-nos a um dos outros grupos! Vamos!
Por um momento, surpreendeu-a que Sara, dois anos mais velha que ela, e Raquel, ainda mais velha, acatassem a sua ideia, mas ficou contente que assim fosse. Foram com ela, e isso é que importava. Abaixaram-se, junto às rodas das carruagens, que rangiam, e à respiração ofegante dos jumentos. Pouco depois, encontraram o grupo de Cafarnaum. Era o maior de todos, composto de pessoas já idosas e adultos, que caminhavam com dificuldade, suspirando. Havia poucas crianças no grupo e Maria e as suas primas não ficaram por ali. Cafarnaum era a maior cidade do mar da Galileia, situada no extremo norte do lago, mas se fosse como eram os seus peregrinos, deveria ser um lugar sério e aborrecido. O grupo de Betsaida parecia ser composto, na sua maioria, por pessoas devotas, afinal, fora desse grupo que surgira o rabino que destruíra os ídolos, e também não suscitou grande interesse para as crianças.
Pulando entre os grupos, o pequeno bando de exploradoras aproximou-se de um grupo totalmente desconhecido, o que não deixava de ser emocionante, quando Maria percebeu que uma menina, mais ou menos da sua idade, as vinha seguindo. Virou-se e, na sua frente, estava uma garota com uma massa de cabelos ruivos, amarrados sem muito sucesso por laços. Quem é?, perguntou. Deveria ter sido Raquel ou Sara, que eram as mais velhas, a fazer a pergunta, mas, como ficaram caladas, ela mesma o fez. Quezia, respondeu, em voz forte. Significa cássia, a flor do cinamomo. Maria olhou para ela. Era um tipo exótico, com o seu cabelo vermelho-escuro encaracolado e os olhos castanho-dourados. Cássia era um bom nome para ela. De onde é? De Magdala, respondeu. Magdala! E seu pai? Benjamim, disse.
Mas a sua família nunca mencionara Benjamim. E não estavam viajando com as outras seis famílias. Isso significava que não deveriam ser pessoas devotas, e, portanto, seriam inadequadas para a sua companhia. Havia tanta coisa em Magdala que ela não conhecia, e agora sentia vontade de conhecer. E onde é que mora? Moramos na parte norte da cidade, na subida que leva à estrada... Na parte nova da cidade. Na zona onde se reuniam os novos-ricos, amigos dos romanos. Mas..., se tinham feito a viagem como peregrinos, não poderiam ser totalmente amigos dos romanos. Quezia, disse, com a solenidade que uma criança de 7 anos podia ter, seja bem-vinda. Obrigada! E a menina balançou a sua bela cabeleira, fazendo Maria sentir um tiquinho de inveja. Se eu tivesse um cabelo desses, minha mãe ia orgulhar-se de mim. Mas do jeito que ele é, ela só acha que é banal. O próprio cabelo dela é mais espesso e brilhante que o meu. Mas se eu tivesse o cabelo de Quezia...» In Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.

Cortesia de SdeEmergência/JDACT