Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) O alto mar abre-se
definitivamente à navegação. Isto leva também a uma diminuição das escalas e
das paragens mais ou menos forçadas em portos por vezes hostis e problemáticos.
Embora mais célere do que o terrestre, o comércio de cabotagem era tudo menos
rápido. Diminuindo-se as escalas minoravam-se problemas com autoridades locais,
com o pagamento de impostos, e mesmo com a apreensão de carga quando ela era
necessária no porto onde se arribava (sobretudo quando a paragem é forçada
pelos elementos, estamos a lembrar-nos de casas ocorridos no Porto com navios de
trigo que aqui vêm ter devido ao mau tempo e, como a cidade está sempre em
dificuldades com o abastecimento desse produto, confisca-o originando assim uma
série de protestos par parte dos seus donos e mesmo por parte de pessoas de
importância social; um desses casos envolveu a célebre princesa Santa Joana,
filha de Afonso V, que escreve de Aveiro em favor de armadores locais aqui
importunados por um caso dessa natureza. Na missiva de 4 de Outubro de 1487 a
senhora daquela vila referia que huum nauio chamado cadramoz, carregado
de trigo da ilha da Madeira, ora com tempo nom pode auer a barra da dita
minha villa E fay emtrar no Rio desa çidade O que segundo sam enformada nom lhe
querees leixar trazer o dito pam e lho querees hy vender). O mercador
podia começar a fazer uma previsão mais exacta
dos custos da viagem pois sabia, de forma muito mais correcta e salvo alguns
imprevistos, quanto tempo a jornada poderia demorar.
A Baixa Idade Média assistirá à participação dos centros costeiros portugueses neste contexto
geral europeu. A meio caminho entre as zonas mais dinâmicas e economicamente avançadas da
Europa, os portugueses irão beneficiar do contacto com os mercadores e
marinheiros estrangeiros, italianos e flamengos sobretudo, adquirindo experiência
e competências. É altura de
assinalar a vitalidade dos mercadores nacionais. O seu espirito de iniciativa deve
ser realçado, tanto mais que os nossos
produtos, até ao seculo XVI, não se distinguem do grosso dos produtos
transaccionados pelo comércio internacional. Nem o aparelho produtivo português
e concorrencial. O reino não produzia lãs, cereais, matérias-primas ou produtos
manufacturados em quantidade e qualidade suficientes para garantir aos seus comerciantes
uma posição de força
nas
grandes áreas mercantis europeias.
Registem-se,
contudo, algumas excepções. Como o peixe,
seco e salgado, o sal e os couros que terão mercado nos povoados costeiros
andaluzes, murcianos e catalães, e em alguns centros mediterrânicos como
Génova, a partir de finais do século XIV, beneficiando de duas ordens de
factores. Por um lado, do desenvolvimento da actividade das comunidades piscatórias
nacionais e de um corpo de mercadores bem relacionado com as zonas produtivas do
reino, garantindo um fluxo de mercadorias que lhes permite encher os barcos. E,
por outro lado, explorando as debilidades conjunturais das áreas económicas
referidas. As exigências próprias de um estado consolidado em crescimento e com
um sector produtivo deficiente, motivaram o surgimento de um grupo de
comerciantes e de uma frota capazes de garantirem noutras paragens os artigos
em falta. Na cidade do Porto esse processo é particularmente nítido no período
considerado. Sobretudo em direcção aos competitivos
mercados hanseático, flamengo, bretão ou inglês. Mas também tendo como destino
áreas económicas que podemos classificar como secundárias, tais como a
Irlanda ou a Biscaia». In Amândio M. Barros, O Porto contra os
Corsários, bolseiro da Fundação para a Ciência e
Tecnologia, Revista da Faculdade de
Letras, História, Porto, III
Serie, 2000».
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