sábado, 7 de abril de 2018

Alterações urbanísticas em Faro e Olivença na 2.a metade do seculo XV. Amândio Barros. «Todos conhecemos as dificuldades de conseguir estimativas demográficas exactas para o período medieval. Também neste caso não podemos determinar com segurança qual seria o quantitativo populacional de Olivença e Faro em 1464…»


Cortesia de wikipedia e jdact

Nota: Comunicação apresentada às III Jornadas de História Medieval do Algarve e Andaluzia, realizadas em Loulé, entre 25 e 27 de Novembro de 1987

«A partir da segunda metade do século XIV, e principalmente durante todo o século XV, Portugal conheceu, no dizer de Oliveira Marques, um considerável surto urbana, em certa medida correspondente ao crescimento das cidades da Europa Ocidental nos séculos XI a XIII. Este surto urbano, atestado desde a segunda metade do século XIV pela construção de novas muralhas e consequente alargamento da área urbanizada, e particularmente notório um século depois, graças antes de mais ao inicio da recuperação demográfica e ao desenvolvimento do comércio externo e inter-regional. É por esta altura que se começam a destacar as cidades costeiras, voltadas sobretudo para o comércio marítimo internacional e para todas as actividades com ele relacionadas: os exemplos mais significativos serão, porventura, o Porto, Tavira e Setubal. No entanto, tal nem sempre acontecera. Ate finais do reinado de Dinis I, as cidades do interior, viradas para o comércio interno, para o comércio com Castela, para a produção agro-pecuária e para a administração eclesiástica e militar, achavam-se ainda bem situadas na hierarquia urbana. Como exemplos ilustrativos desta situação podemos apontar os casos de Braga, Bragança, Coimbra e Portalegre. Aliás deve referir-se que, durante o século XIV, os principais centros do Pais, exceptuando Lisboa, localizavam-se no interior (como Santarém, Évora, Coimbra, Braga).
A maioria destes núcleos urbanos, em especial os centros transmontanos e as povoações beirãs, entrara num acentuado processo de decadência com a deslocação dos interesses económicos para as cidades costeiras, no decurso do século XV. De qualquer modo, o surto do comércio externo com os diversos reinos ao longo desta centúria, acompanhado pelo crescimento dos contactos comerciais com o reino vizinho, testemunhado pelo movimento alfandegário e dos portos-secos evitou a decadência completa de povoações como Bragança, e confirmou, no panorama urbanístico nacional, a importância dos centros alentejanos. Por seu turno, o Algarve irá beneficiar desta expansão das actividades marítimas, assistindo-se, então, ao crescimento espectacular de Tavira, Faro ou Lagos. Beneficiando de uma localização privilegiada, quer do ponto de vista comercial, quer em termos militares, estes centros começam a opôr-se à sede do bispado (Silves), tendo em vista a obtenção da supremacia regional. No entanto, apesar do evidente progresso das vilas algarvias em relação à cidade de Silves (em decadência devido ao assoreamento do rio Arade e aos surtos de malária), a sede do bispado somente será transferida para Faro em 1577.
Deste modo, fica desenhado, em traços muitos gerais, o quadro onde integraremos as povoações objecto do nosso estudo: Olivença e Faro. Como vimos, enquadram-se em duas regiões que conhecem, em termos urbanos, pelo menos desde o século XIV, uma fase de expansão, e que têm, de resto, uma forte tradição urbanística, pois o Alentejo, especialmente a parte oriental, e o Algarve, parecem ter mantido, desde a antiguidade, ininterrupta ou renovada, uma tradição urbana.
Todos conhecemos as dificuldades de conseguir estimativas demográficas exactas para o período medieval. Também neste caso não podemos determinar com segurança qual seria o quantitativo populacional de Olivença e Faro em 1464, ano em que o rei Afonso V autoriza que se faça nelas um certo número de obras municipais. No entanto, algumas informações conhecidas poderão dar-nos uma ideia aproximada. Para Olivença, o rol dos besteiros do conto (de cerca de 1422), com as reservas que se impõem neste tipo de indicações assinala 40 besteiros, colocando-a ao mesmo nível do Porto, de Leiria, de Estremoz e de Mértola. Ainda relativamente ao ano de 1422 um outro investigador refere que Olivença e o seu termo deviam ter uma população aproximada de 8 500 pessoas.
O Itinerário de Fernando Colombo (filho do descobridor da América) que no início do século XVI percorreu a vila, indica 1500 vizinhos e observa ainda uma certa prosperidade económica. Esta cifra deverá ser confrontada com a que nos é fornecida pelo numeramento geral do Reino, de 1527 que nos dá para Olivença 1053 fogos». In Amândio Barros, Alterações urbanísticas em Faro e Olivença na 2.a metade do seculo XV, mestrado de História Medieval, FLUP, Comunicação apresentada às III Jornadas de História Medieval do Algarve e Andaluzia, realizadas em Loulé, entre 25 e 27 de Novembro de 1987.

Cortesia de FLUP/JDACT