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A mobilidade interna na Ordem de Avis
(século XII-XIV)
«(…) A proximidade existente entre monarquia e Ordem militar, se
bem que matizada com confrontações esporádicas motivadas por assuntos de
carácter variado e pontual, está também patenteada na presença do mestre (e provavelmente
de mais alguns cavaleiros) na corte régia e na sua participação na política
geral do reino. Se comparativamente a outras ordens militares a presença na
corte e a colaboração da Ordem de Avis na política externa do reino se possa
considerar no mínimo, bastante discreta, ela certamente terá existido, tanto
mais que se tratava de uma milícia ligada a outra sediada no reino de Castela.
Já nos referimos a este aspecto em trabalho anterior, a propósito da ocupação
do Algarve por Afonso III em meados do século XIII: na luta então travada entre
os monarcas português e castelhano pela jurisdição do Algarve, a Ordem de Avis
desempenhou um papel nuclear, ao aceitar a doação do castelo de Albufeira tanto
das mãos de Afonso III de Portugal (em 1250) como das de Afonso X de Castela
(em 1257). Como tivemos oportunidade de realçar, a Ordem de Avis mostrou-se
então disponível para demonstrar que tinham viabilidade as soluções propostas
pela monarquia castelhana para resolver aquele que era, na altura, o ponto
nevrálgico das relações diplomáticas entre os dois reinos (i.e., a quem
pertenceria o reino do Algarve, recentemente reconquistado).
Mas se, por um
lado, a ligação a uma ordem militar castelhana podia tornar a Ordem de Avis uma
peça essencial nas relações entre os monarcas de ambos os reinos, como acabamos
de ver, por outro ela pode explicar a (aparentemente) reduzida actividade
diplomática da milícia, ao serviço dos reis de Portugal. De facto, é possível
que a sensibilidade pró-castelhana que desde cedo se encontra em Avis tenha
contribuído para um clima de alguma desconfiança dos monarcas relativamente à
Ordem. Contudo, não podemos deixar de colocar a hipótese dos diferentes reis
terem colocado essa mesma sensibilidade ao seu serviço. Já aludimos à questão
do Algarve. Cerca de 100 anos mais tarde, a participação de fr. Gonçalo Vaz,
mestre de Avis, numa embaixada solene a Castela (em 1335), com o objectivo de
pedir ao infante João Manuel a mão de sua filha, dona Constança, para o filho
do monarca português, pode ter esse significado.
Do ponto de vista da
mobilidade dos membros da Ordem de Avis, parece-nos de realçar que a relação
entre monarquia e milícia terá forçosamente implicado deslocações dos cavaleiros,
sobretudo dentro do reino, embora raramente tenhamos provas concretas de tal
facto ter acontecido, nomeadamente depois de terminada a Reconquista. O fim do
anúncio das testemunhas e confirmantes nos diplomas régios, bem como a
organização mais complexa da administração central que se verifica ao longo do
século XIV (patente no teor diplomático dos actos), não nos permite aferir da
presença dos mestres de Avis, ou dos seus procuradores, na Corte.
Tendo em conta o
processo de formação da Ordem de Avis e do seu património, facilmente se
entende que desde sempre os seus membros tenham conhecido alguma mobilidade
interna: a doação de castelos e lugares à Ordem por parte dos primeiros
monarcas portugueses, em resultado do auxílio militar prestado na Reconquista,
obrigou à própria dispersão dos freires. De facto, a defesa das praças obrigava
naturalmente à presença nesses locais de um contingente de cavaleiros da
milícia, pelo que, logo desde os seus primórdios alguns freires foram afastados
do convento central. Por outro lado, a necessidade de organizar o património
que, sobretudo ao longo dos séculos XIII e XIV, a ordem foi adquirindo
(nomeadamente através de doações, régias e de particulares, mas também de
compras), levou à criação de comendas que se estendiam de Norte a Sul do País.
À frente de cada um destes territórios, estava naturalmente, um comendador,
que, segundo a regra, aí devia residir». In Maria Cristina A. Cunha, Estudos sobre a
Ordem de Avis, séculos XII-XV, Faculdade de Letras, Biblioteca Digital, Porto,
2009.
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