Nota: Comunicação
apresentada às III Jornadas de História Medieval do Algarve e Andaluzia,
realizadas em Loulé, entre 25 e 27 de Novembro de 1987
«(…) Assim, podemos concluir que,
na segunda metade do século XV, inícios do século XVI, a população de
Olivença andaria à volta de umas 4000
almas, número reduzido para uma cidade de média grandeza a nível europeu, mas que a colocava como um
significativo centro urbano no Portugal de então. Se no caso de Olivença, a
sua posição estratégica junto à fronteira com o reino de Castela,
zona das mais sensíveis no que toca a perturbações da mais diversa índole, justificou
a preocupação dos monarcas portugueses quanto a manutenção do seu
povoamento, concedendo-lhe bens e privilégios, já a evolução da vila algarvia
de Faro conheceu um processo diferente. Faro era ultrapassada por Tavira
(melhor povoada e economicamente mais
próspera) mas superiorizara-se a Silves.
De qualquer modo, a sua situação
geográfica, com ligações por terra aos
principais centros do interior, fez com que o seu excelente porto de
mar, acessível a navios de qualquer calado, se tornasse um ponto fundamental no
escoamento da produção agrícola algarvia. Por este motivo, ao longo da segunda
metade do século XV e, em especial durante o século XVI, Faro irá obter alguma
supremacia económica sobre Tavira (que
se especializa como o centro piscatório mais importante) e supremacia
administrativa e religiosa quando, em 1577, for ai instalada a sede da igreja
algarvia, transferida da cidade de Silves.
Segundo o rol dos besteiros, em
1385, Faro possuía 33 (contra 34 de Tavira). Em 1422 esse número diminuía para
30 (tal como em Tavira), diminuição essa que se enquadra na bem documentada
baixa geral da população portuguesa durante este período. Em 1527 Faro tem na
vila 873 fogos (contra 1567 de Tavira), e 572 no termo (no termo de Tavira,
478) ou seja, um total de 1445 fogos contra 2045. Mas em 1621, no interior da
vila, Faro possui já 1700 fogos (Tavira tem 1474) e no termo 783 (contra 682 em
Tavira), um total de 2483 para Faro e de 2187 para Tavira.
No âmbito deste trabalho optamos
pelo estudo de Olivença e de Faro por duas razões. Sendo povoações
geograficamente não demasiado distantes, os dois documentos da chancelaria de
Afonso V que analisamos são cronologicamente muito próximos. O primeiro, uns
capítulos da vila de Faro, foi dado em Elvas em 11 de Junho de 1464, e o
segundo, um pedido de autorização para construir hüas casas na vila de
Olivença, foi dado na mesma vila alentejana de Elvas a 19 deste mesmo mês. Em
segundo lugar, trata-se de modificações no traçado urbano de duas vilas, o que
poderá indicar, senão uma expansão das mesmas, pelo menos a intenção de reorganizar o seu espaço interno.
A primeira grande transformação
fisionómica da vila de Olivença (e seguimos o rigoroso estudo de José Marques; Afonso IV e a
construção do castelo de Olivença, separata da Revista
da Faculdade de Letras-História», II serie, vol. II, Porto, 1985), dá-se
com o início da construção do seu castelo, em 1309 por ordem do rei Dinis I,
sendo no entanto, o principal responsável pelo grosso dos trabalhos e sua conclusão, o rei Afonso IV. Assim, a vila
transformava-se e a sua importância estratégica, económica e social ia
crescendo». In Amândio Barros, Alterações urbanísticas em Faro e Olivença na 2.a
metade do seculo XV, mestrado de História Medieval, FLUP, Comunicação
apresentada às III Jornadas de História Medieval do Algarve e Andaluzia,
realizadas em Loulé, entre 25 e 27 de Novembro de 1987.
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