Maia. 22 de Junho de 2007
«(…) Desta vez, Maia, eu trouxe
um presente muito especial. Tem uma irmã, ele sorriu para mim e me ergueu nos
seus braços. Agora não vai mais se sentir solitária quando eu precisar viajar. Depois
disso, a vida mudou. A enfermeira que Pa trouxe, desapareceu algumas semanas
mais tarde, e Marina assumiu os cuidados com minha irmã. Eu não conseguia
entender como aquela coisa vermelha que não parava de berrar, frequentemente
fedia e tirava a atenção de mim poderia ser um presente. Até certa manhã, quando
Alcyone, baptizada com o nome da segunda estrela das Sete Irmãs, sorriu para
mim da sua cadeira durante o café da manhã. Ela sabe quem eu sou, falei,
admirada, para Marina, que a estava a alimentar. Claro que sabe, querida Maia.
Você é a irmã mais velha, o modelo que ela vai seguir. Será sua responsabilidade
ensinar a ela muitas das coisas que já sabe. Enquanto crescia, ela se tornou
minha sombra, me seguindo para todo o lugar, o que me agradava e me irritava
igualmente. Maia, espera!, exigia enquanto tropeçava atrás de mim. Na verdade,
ainda que Ally, o apelido que lhe dei, fosse originalmente um acréscimo
indesejado à minha existência onírica em Atlantis, eu não poderia ter desejado
uma companheira mais doce e adorável. Ela raramente chorava e não fazia birra,
como muitas crianças da sua idade. Com seus cachinhos louro-avermelhados e
grandes olhos azuis, Ally tinha um charme natural que atraía as pessoas,
incluindo o nosso pai.
Em certas ocasiões em que Pa Salt
estava em casa depois de uma das suas longas viagens ao exterior, eu notava
como seus olhos brilhavam quando ele a olhava, de um jeito que eu sabia que não
brilhavam por mim. Enquanto eu era tímida e reticente com estranhos, Ally tinha
uma franqueza e uma confiança que conquistavam todos. Ela também era uma
daquelas crianças que pareciam destacar-se em tudo, particularmente música e desportos
aquáticos. Eu me lembro de Pa nos ensinando a nadar na nossa piscina enorme, e,
enquanto eu lutava para aprender a técnica para boiar e detestava ficar em baixo
d’agua, minha irmãzinha parecia uma sereia. Enquanto eu tinha dificuldade para
encontrar o equilíbrio num barco, mesmo no Titan, o iate gigantesco e
maravilhoso de Pa Salt quando estava em casa, Ally implorava que ele a levasse
para velejar na Laser que ele tinha aportado no nosso píer particular.
Eu me agachava na pequena popa do barco enquanto Pa e Ally assumiam o controle
e nós acelerávamos pelas águas transparentes. Essa paixão que compartilhavam por
velejar os unia de um jeito que eu jamais poderia imitar. Apesar de Ally ter
estudado música no Conservatoire de Musique de Genève e ser uma flautista
talentosa, que poderia ter agraciado uma orquestra profissional, ela escolheu
seguir a carreira de velejadora assim que deixou a escola de música.
Agora, competia em regatas
regularmente e já havia representado a Suíça numa série de ocasiões. Então,
quando Ally tinha quase três anos, Pa chegou em casa com nossa nova irmã,
chamada Asterope, em homenagem à terceira estrela das Sete Irmãs. Mas vamos
chamá-la de Star. Pa sorriu para Marina, para Ally e para mim enquanto
estudávamos o novo acréscimo à família, deitado no seu moisés. Mas, agora eu
estava frequentando aulas todas as manhãs com um professor particular, então a
chegada da minha nova irmã me afectou menos que a chegada de Ally. Assim como,
apenas seis meses depois, outra bebé com doze semanas de vida, chamada Celeano,
a quem Ally imediatamente começou a chamar de CeCe. Havia apenas três meses de
diferença entre Star e CeCe, e, desde que consigo me lembrar, as duas formaram
um vínculo estreito. Eram como gémeas, conversando na sua própria linguagem
infantil, que às vezes ainda usam para se comunicar. Elas habitavam um mundo
particular, excluindo todas nós. Até agora, com mais de vinte anos de idade,
nada mudou». In Lucinda Riley, As Sete Irmãs, 2014, Editora In, 2017, ISBN
978-989-648-906-9.
Cortesia de EIn/JDACT
JDACT, Lucinda Riley, Literatura,