quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Philip Gardiner. Gnose. «Pense nessas percepções como pequenas centelhas de iluminação, e estará bem próximo da verdade. Em resumo, estaremos nos movendo pelos diversos estágios…»

Cortesia de wikipedia e jdact

A Serpente

«(…) Para compreender completamente o que é gnose, precisamos primeiro entender o cenário de fundo e a história desse mundo oculto. Precisamos chegar a aceitar a ideia de que a nossa história ortodoxa actual está basicamente errada. Ao longo dos últimos séculos tem havido uma contínua revisão da História por pessoas que ocupam o poder, tanto o eclesiástico quanto o político. Como qualquer historiador vai dizer-lhe, a história do mundo tem sido escrita pelos vencedores. A vitória tanto pode ser uma conquista militar, uma campanha política ou um movimento religioso, de qualquer modo, os perdedores são silenciados e erradicados dos livros. Algumas vezes são apresentados como tolos, ou mesmo difamados. Quando os livros de História nos dizem que a guerra foi vencida pelo bom e glorioso, precisamos ficar atentos. A história normalmente é contada de modo exagerado pelos vitoriosos e não se trata de uma versão acurada da verdade. Isso é especialmente verdadeiro quando se trata das vitórias do cristianismo. Por exemplo, o relato comum é que Patrício foi para a Irlanda e venceu as serpentes, livrando a ilha de todas as cobras nativas. Essa é uma mentira gritante, já que na Irlanda nunca houve cobras. Os factos relativos a esse caso nos foram ocultados por aqueles em posição de autoridade, isto é, a Igreja Católica Apostólica Romana. O que acontece é uma declaração simbólica em múltiplas camadas. Na verdade, essa história é uma alegoria, cujo significado está no facto de Patrício ter livrado a Irlanda de todos os adoradores do diabo. (A cobra ou serpente normalmente era associada aos adoradores pagãos.) Essa história prova a existência de um culto à adoração da serpente na Irlanda, que foi substituído pelo novo culto do cristianismo, e que está ligado ao culto daquilo que descobriremos ser a sabedoria da serpente. Refere-se também ao facto de que Patrício superou o poder da serpente e, em seguida, subjugou-a. Como revelei no meu livro anterior, The Serpent Grail o culto à serpente prevalecia por todo o globo nos tempos antigos. Com frequência as cobras têm um maravilhoso e natural elixir da vida no seu veneno. O veneno é envolto em proteínas que contêm propriedades benéficas, cientificamente comprovadas, que realmente ajudam a prolongar a vida e melhoram a saúde. Revelei como os antigos sabiam disso, utilizavam-no e incluíram muitas referências a ele em seus textos, na sua arte e estruturas. Afinal, a mistura de sangue e veneno de serpente num cálice ritualizado deu origem ao cálice sagrado que conhecemos hoje como o Santo Graal. A serpente simboliza a sabedoria, muitas vezes chamada de suprema sabedoria. Porque uma cobra escorregadia, que se move sinuosamente pelo chão, come as suas vítimas e se desfaz de sua pele, poderia ser vista como o símbolo do supremo conhecimento?

Em O Graal da Serpente, eu declarei que a veneração à serpente era predominante em todo o mundo nos tempos antigos, e ela, na verdade, deu origem às muitas e distintas religiões e culturas da humanidade. Nas passagens seguintes, faço uma recapitulação rápida de alguns elementos da mitologia e da adoração à serpente que acredito serem relevantes. Não vou, contudo, explicar as razões que estão por trás de cada acon­tecimento ou texto estranho, já que esse é um processo simples, mas freqüentemente lento, de gotejar informações na mente, deixando que as lembranças retidas saltem ocasionalmente para fora assim que novas percepções sejam obtidas. Pense nessas percepções como pequenas centelhas de iluminação, e estará bem próximo da verdade. Em resumo, estaremos nos movendo pelos diversos estágios como se fôssemos iniciantes nos mistérios do gnosticismo». In Philip Gardiner, Gnose, O Segredo do Templo de Salomão Revelado, 2005, Editorial Estampa, ISBN 978-972-332-431-0.

Cortesia de EEstampa/JDACT

JDACT, Philip Gardiner, Religião, Literatura, Esoterismo,