A Serpente. Antigo Culto
«(…) Na História, a veneração à serpente
remonta aos tempos dos gregos, romanos, egípcios e até sumérios. O culto às
cobras pode ser encontrado em lugares tão distantes entre si quanto a
Austrália, a Europa, a América do Sul e o continente africano. Esse culto está
presente em quase todos os planos de qualquer cultura conhecida. Na África, a
cobra era pregada a uma cruz ou árvore como oferenda sacrifical, do mesmo modo
que Jesus foi crucificado, segundo o Novo Testamento. Moisés também ergueu a
Serpente de Bronze e pregou-a no que se acredita ter sido uma cruz tau [em forma de T].
A cruz tau finalmente passou a significar tesouro oculto; à medida que
prosseguirmos na nossa jornada de iniciantes, perceberemos que esse simbolismo
deve-se ao conhecimento oculto manifestado no símbolo da serpente crucificada
que se move para cima.
Num censo estatal realizado em
1896, foi registado que mais de 25 mil diferentes imagens de najas (a mítica
cobra indiana) predominavam na província noroeste da Índia, e muitos
especialistas acreditam que a adoração às cobras pode ter sua origem rasteada
desde a Índia até a Pérsia e Babilónia, assim como a outras diversas
civilizações anteriores. A cobra liga-se intricadamente com a magia e a mitologia
em quase todas as culturas. É vista como a personificação da sabedoria e da bondade,
e alternativamente como a personificação do mal, desse modo revelando a
dualidade que está implícita em sua natureza. Isso também está subentendido na
dualidade das serpentes de energia,
ida e pingala, que percorrem a
coluna vertebral e são conhecidas como
Kundalini na
tradição hindu. O Kundalini é comumente visto como um dos caminhos da
verdadeira sabedoria. Não existe acordo com relação ao simbolismo sexual da cobra.
Algumas pessoas acreditam que as cobras são masculinas, porque, quando uma
serpente fica em pé ao ser ameaçada, mostra uma natureza fálica. Ao mesmo
tempo, quando as cobras são associadas com a água, muitas vezes se atribui a
elas uma conotação feminina. Discordo de grande parte do que se pensa sobre
esse assunto. Coisas naturais não podem ser sempre atribuídas ou relacionadas à
sexualidade humana, embora haja definitivamente exemplos de relações entre
serpente, deus e falo. Algumas delas estão historicamente provadas, mas se
referem mais à união de opostos dentro de
nós do que a uma união sexual entre macho e fêmea. Essa união interior tem sido
retratada através da História como uma união sexual, embora não seja
implicitamente sexual na sua natureza. Muitas vezes é representada como uma
figura hermafrodita ou andrógina. Entretanto, é
importante lembrar que, apesar de haver uma associação do falo com a deusa
serpente, nem todas as cobras estão associadas desse modo. Pode muito bem ser
que o falo seja apenas um símbolo do poder e da fertilidade da cobra. Creio que
isso significa que a própria cobra (seja a cobra física, seja a serpente de
energia do hinduísmo e de outras religiões) era uma portadora da fertilidade e não apenas um símbolo da fertilidade.
Alguns
especialistas acreditam que os povos da Antiguidade consideravam as cavernas,
os poços e outras aberturas semelhantes na terra como entradas para o útero da
Deusa, do qual toda a vida irrompia e dentro do qual todas as coisas eram
depositadas na morte. Diz-se que a cobra vive dentro da terra, a qual muitas
vezes simboliza o corpo da Deusa. Desse modo, a cobra é conhecedora de todos os
segredos e sabedoria da Deusa, inclusive os relacionados à vida, à morte e ao
renascimento. Essa é uma indicação do motivo de a cobra ser vista como falo e
uma alusão à potência sexual do macho, assim como ao espírito feminino da
sabedoria, serpentino e aquático. É a união do poder e da sabedoria. A água tem
sido encarada como sagrada por várias culturas, e muitos templos foram
construídos em locais próximos a ela. Mais tarde, esses locais evoluíram e se
transformaram em todas as formas de igrejas, templos e mesquitas, sendo
dirigidos por diversas organizações religiosas. Ao longo do tempo, muitos mitos
ligados à serpente ou ao dragão permaneceram associados a esses lugares
sagrados, inclusive as histórias envolvendo a família Sinclair, agora relacionadas
mais com a propriedade da Capela Rosslyn, na Escócia. A família Sinclair (que
está intrinsecamente envolvida com os mitos do Graal templário) tem a sua
origem na Escandinávia. Essas regiões do norte não conseguem fugir de seu passado
serpentino. Tanto os vândalos quanto os lombardos eram adeptos da adoração à
serpente. Olaus Magnus, escritor e historiador eclesiástico sueco, informa-nos
que as cobras comiam, dormiam e brincavam com as pessoas comuns nas suas
próprias casas. Esse culto à serpente fica óbvio ao se olhar para os emblemas
com dragões dos dinamarqueses e
vikings. Esses dragões
foram mais tarde levados para o País de Gales e introduzidos na lenda do rei
Arthur pelos invasores nórdicos. Em
The Worship of the Serpent,
John Bathurst Deane nos deixa penetrar no segredo por trás do vaso sagrado
dinamarquês e a sua idolatria primitiva. A relíquia é uma célebre cornucópia
encontrada por uma camponesa perto de Tundera, na Dinamarca, no ano de 1639.
Diz-se que o recipiente é de ouro, ornado em relevo com círculos paralelos, em
número de sete. No primeiro círculo, há uma mulher nua ajoelhada com os braços
estendidos, de cada lado, figuras de serpentes. No segundo círculo, a mulher
dirige uma prece à serpente; enquanto no círculo três, ela está conversando com
a cobra. Esse deve ser um graal, uma cornucópia da prosperidade, uma cornucópia
para oferendas à cobra sagrada e recepção de suas dádivas». In Philip Gardiner,
Gnose, O Segredo do Templo de Salomão Revelado, 2005, Editorial Estampa, ISBN
978-972-332-431-0.
Cortesia de EEstampa/JDACT
JDACT, Philip Gardiner, Religião, Literatura, Esoterismo,