«A descida ao Hades é a mesma a partir de todos os lugares». In Anaxágoras, filósofo grego, 500-428 a.C.
«Depois de perder a grande Batalha do Céu, Lúcifer, o Filho do Amanhecer, e os seus anjos rebeldes foram expulsos do Paraíso, proscritos por toda a eternidade para o mundo das trevas. Obcecado pelo ódio e o desejo de vingança, Lúcifer, que passou a ser conhecido como Satã, maquinou o seu primeiro acto de vingança contra Deus, a tentação de Adão e Eva. Vendo que o Homem era vulnerável, e munido com o conhecimento de que todos os humanos podiam ser tentados, Satã deu início a uma guerra para impedir que as almas entrassem no Reino do Céu. A cada Era do Homem, ele inventava métodos cada vez mais elaborados para induzir a ingénua psique humana a repetir o pecado original de Adão. Para tanto, a Fraternidade dos Caídos de Satã e os seus descendentes, os Nephilim, varreram a Terra em busca de presas, aumentando a sua lista cada vez mais extensa de almas para sempre condenadas às mesmas trevas nas quais o Mal prosperava. Uma única alma compartilhava a sua linhagem sanguínea, mas não a sua danação. Sozinha, ela impedia Satã de alcançar o seu derradeiro objectivo: arrebanhar todas as almas da Terra para o seu Império das Trevas. Ele tinha a capacidade de tentar o Homem, mas ela tinha a força de vontade para detê-lo. Ela era Cotten Stone, a filha do único Anjo Caído perdoado. Deus fizera uma aliança com o pai dela, Furmiel, o Anjo da Décima Primeira Hora. Por ele ter-se arrependido, Deus concedeu a Furmiel a mortalidade e ele teve duas filhas, gémeas. Uma vez que Furmiel não poderia jamais retornar ao Paraíso, Deus levou uma das filhas recém-nascidas para ocupar o lugar do pai no Céu, mas a segunda filha teria de viver na Terra. Assim, ela foi convocada por Deus para lutar em Seu nome. Cotten Stone descobrira o seu legado ao ficar frente a frente com o Filho do Amanhecer. O ódio que ele nutria por ela aumentava a cada confronto. Ela impedira o plano dele de realizar um Segundo Advento profano, e ao compreender que Deus dera o livre-arbítrio ao Homem, a capacidade de criar a sua própria realidade, ela frustrara a tentativa de Lúcifer de levar o Homem a cometer o pecado supremo contra Deus, o suicídio. Ao decifrar uma mensagem inscrita pela mão de Deus sobre uma antiga placa de cristal, ela conduziu os que escolheram viver uma vida pautada no bem para um novo mundo de paz e alegria. Num gesto de abnegação, Cotten Stone então retornou ao velho mundo para continuar a lutar contra o seu inimigo eterno, um mundo onde o bem e o mal estariam sempre em guerra. A cada nova batalha que travava, o Fim dos Tempos ficava cada vez mais próximo. Agora, formavam-se dois exércitos: o Rubi, liderado pelo Grande Impostor; e o Índigo, liderado pela filha de um anjo. Muito em breve, uma nova batalha contra as Forças do Mal seria deflagrada e Cotten Stone seria de novo posta à prova.
Rizben Mace estava de pé no centro do pentagrama entalhado no piso de pedra, as cinco pontas se projectando como lâminas de uma arma antiga. Seis crianças com túnicas pretas estavam ajoelhadas à sua frente, os rostos escondidos por baixo dos capuzes. Trajando uma túnica vermelho-rubi, Mace segurava um cálice dourado numa das mãos e uma adaga incrustada de pedras preciosas na outra. Eu invoco Samael, o Guardião do Portal, disse. Samael, as crianças entoaram em uníssono. Em resposta ao encantamento, um dedo de nuvens densas de vapor flutuou diante da Lua, que brilhava como um pálido holofote. As velas tremeluziam no ar nocturno, as chamas protegidas pelos muros altos, envolvendo o ritual com uma névoa alaranjada. Figuras escuras, vestidas de preto e segurando tochas, circundavam o grande pátio. Eu invoco Azazel, o Guardião da Chama, disse Mace, a Centelha no Olho das Grandes Trevas. De novo, as vozes infantis ecoaram: azazel. Ante a invocação, as tochas se avivaram. Eu invoco a Luz do Ar, o Filho do Amanhecer. Filho do Amanhecer, repetiram as crianças. Uma rajada de vento quente agitou e envolveu as túnicas sobre as formas dos personagens nas sombras. Mace manteve a adaga e o cálice dourado com os braços estendidos. As chamas reflectiram-se no metal polido fazendo parecer que um fogo ardia no seu interior. Ele levou o cálice aos lábios e sorveu um gole. O vinho o aqueceu. Tinha aguardado ansiosamente o momento da cerimônia, a iniciação, a apresentação oficial dos jovens guerreiros a Lúcifer, o Filho do Amanhecer. Eles eram os descendentes dos Anjos Caídos, os mais recentes soldados Nephilim alistados nas fileiras do Exército Rubi, reunidos em torno dos preparativos para o Conflito Final. Uma onda de orgulho correu pelas suas veias enquanto elevava o cálice para que todos vissem. Em nome da vossa espada poderosa e da essência vital abundante que vos confere o poder da conquista, penetrai as mentes, os corações e as almas destes jovens guerreiros e enchei-os da vossa força terrível e esmagadora.
Mace ergueu bem alto os braços e
as crianças se levantaram, formando uma fila única. Uma a uma, beijaram a lâmina
da adaga e beberam um gole do cálice. Depois que todas foram servidas, elas voltaram
para os seus lugares e puxaram os capuzes para trás, revelando os rostos
juvenis. Mace abriu os braços num gesto majestoso. Ó grandioso Filho do
Amanhecer, contemple os mais novos soldados do vosso triunfante Exército Rubi. Mace
saiu do edifício e desceu os três níveis de degraus estreitos até à calçada.
Era sempre uma transição desagradável, pensou ele, passar do salão medieval
escondido no subsolo central do edifício para a claridade ofuscante da iluminação
das ruas de Washington, e da sua túnica cerimonial de volta para o casaco e
gravata». In Lynn Sholes e Joe Moore, O Projecto Hades, 2007, Publicações Europa-América, 2008, ISBN 978-972-105-888-0.
Cortesia de EPEuropa-América/JDACT
Lynn Sholes, Joe Moore, JDACT, Mistério, Conhecimento,