«Os pitagóricos iniciavam as cartas aos seus irmãos com o desenho de uma
estrela de cinco pontas. Para Julius Evola o pentagrama, que figura num túmulo templário, é um sinal tradicional da
soberania sobrenatural, é precisamente o herói do Graal que o recebe como
emblema e que, noutros textos do mesmo ciclo, ele consagra a Espada do Graal,
para que se não quebre e para que a sua virtude fique intacta. Todos estes
factos, em concomitância com a tradição segundo a qual os Templários entraram
em contacto com iniciados do Oriente, evidenciam que pelo menos uma parte
daquela sabedoria de origem atlante tornada secreta foi transmitida aos
cavaleiros do círculo interno. Assim, é muito provável que lhes fosse
comunicado o conhecimento da existência do conhecimento da América, assim como
da possibilidade da circum-navegação da África. Este último, como vimos, foi um
conhecimento perfeitamente adquirido e experimentado pelos fenícios, que
também poderão ter conhecido o continente americano.
Voltando à relação entre o
sagrado e o movimento da história, é curioso constatarmos que a
actividade bancária dos nossos dias teve a sua semente fundamental numa ordem
de cavalaria altamente religiosa como foi a Templária. As suas letras de câmbio
são pioneiras dos nossos cheques. Esta organização também já foi considerada a primeira
multinacional com um sistema de gestão eficiente, só que se tratava de uma
multinacional do espírito. E, relativamente à história dos Descobrimentos
Portugueses, não se tem levado em conta que os Templários desenvolveram
uma potente frota multinacional tendo portos no Mediterrâneo, em Portugal e no
litoral do Norte de França. Por outro lado, existe a tradição oral segundo a
qual alguns navios templários terão chegado a terras americanas. Se assim foi,
o que é compreensível nesta perspectiva, embora estejamos apenas a aventar a
hipótese, também foram precursores não apenas teóricos mas efectivos da saga dos
Descobrimentos.
O Espírito de Cavalaria
«À semelhança dos sete planetas, que são corpos celestiais e governam e
ordenam os corpos terrenos, dividimos este livro de cavalaria em sete partes,
para demonstrar que os cavaleiros têm honra e senhorio sobre o povo para o ordenar
e defender». In Raimundo Lulo (1235-1315),
Livro da Ordem de Cavalaria
Após a queda do Império Romano começa a erguer-se na Europa a sociedade
cavaleiresca, um modelo de sociedade com raízes remotas. Os povos germânicos
expandem-se por toda a Europa e, simultaneamente, dá-se um renascimento
progressivo da cultura céltica com origem nas ilhas Britânicas. Renasce a
Europa mítica e telúrica das eras pré-romanas, um mundo celto-germano de clara
raiz indo-europeia.
Georges Dumézil asseverou na sua tese referente à ideologia indo-europeia
das três funções, sacerdotal, guerreira e produtora, que as sociedades indo-europeias, sobretudo nas
suas origens, estavam estruturadas segundo estas três funções, tendo cada uma
das castas as suas divindades específicas. Daí resultou a estruturação da sociedade
medieval em clero, nobreza e povo. No progresso natural das sociedades indo-europeias emerge
uma nova casta, a burguesia, que detém a função comercial. As três castas relacionadas directamente
com a trifuncionalidade indo-europeia, mais a casta daqueles que cumprem a função comercial, formam o
conjunto dos quatro tipos de vida humana que, segundo Platão e os antigos
sábios hindus, são necessários para a formação de uma sociedade integral.
Platão, na República, recorrendo a uma
linguagem simbólica como é seu apanágio sempre que divulga a sabedoria
tradicional, refere-se a vários tipos de natureza humana. Porém, distintamente
dos animais, os sub-reinos da Humanidade não são perceptíveis pelo exterior (cor
da pele, origem do nascimento, etc.), nem isso importa para o caso, mas sim
pelo seu tipo de vida interior.
Assim, em termos simbólicos, existirão os homens de ferro vocacionados para a
função produtora, os artesãos, agricultores e pastores das sociedades antigas;
ambicionam a liberdade exterior e a sua virtude específica é o bom senso». In
Paulo Alexandre Loução, Dos Templários à nova Demanda do Graal, O Espírito dos
Descobrimentos Portugueses, Ésquilo, Lisboa, 2005, ISBN 972-8605-26-9.
continua
Cortesia de Ésquilo/JDACT