sábado, 13 de abril de 2013

Linda Inês. O Episódio Inesiano n’ Os Lusíadas. Luís de Camões. «Afonso IV pai do infante Pedro, tem a dimensão de uma personagem de tragédia clássica, pois por razões de Estado teve de mandar degolar a mulher amada de seu filho, que era mãe de três dos seus netos»

Fonte dos Amores
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Portugal no século XIV
«O Povo Português já tinha os seus direitos mais ou menos salvaguardados pela lei. Por intermédio de representantes seus podia afirmar-se nas cortes, assembleias consultivas ocasionalmente convocadas pelo rei, ao lado dos representantes da Nobreza e do Clero. Enfim, embora houvesse dissensões, abusos, conflitos e lamentáveis guerras civis, vivia-se nessa altura em Portugal tão bem ou melhor do que na maioria dos países da Europa. Intrigas e guerras entre os outros reinos peninsulares afectavam muitas vezes o decorrer dos acontecimentos em Portugal, mas tanto o rei Dinis como o seu filho Afonso IV, o avô e o pai do infante Pedro, procuraram sempre esquivar-se a tais problemas e fugir de se envolverem nesses conflitos, o que nem sempre lhes foi possível.
Um mal que na época afligia muitos reinos europeus era o caso dos problemas sucessórios, devido à existência de bastardos reais que ameaçavam o herdeiro legítimo na sucessão ao trono. Estas situações advinham de ser corrente entre reis medievais o terem filhos bastardos, tanto de damas de certo relevo da nobreza como de plebeias sem gota de sangue azul, filhos reconhecidos, dos quais se cuidava com muita atenção. Estas crianças, que nasciam fora do tálamo real, eram criadas com carinho e mimo, pois eram príncipes de sangue, e se por um lado seriam uma garantia para a sucessão nos casos de não haver um herdeiro legítimo ou esse herdeiro morrer sem descendência, por outro lado criavam ocasionalmente sérios problemas após o falecimento do pai.
Em algumas situações, o facto de usufruírem largas benesses legadas pela generosidade paterna, prejudicava o património da Coroa e levava o novo rei a ter de se bater para lhes retirar tais mordomias. Outras vezes esses bastardos tornavam-se poderosos, ameaçavam o poder do herdeiro legítimo, chegando até a disputar-lhes a coroa, aproveitando qualquer situação propícia a um tal feito.
O herdeiro do trono via-se muitas vezes obrigado a defender-se de irmãos bastardos e mesmo de irmãos legítimos, mais novos, cheios de ambição, que o queriam esbulhar da coroa, sob este ou aquele pretexto, apoiados por seguidores e apaniguados, situações que destruíam a paz e a ordem em consequência de desastrosas guerras civis. Estas guerras sangrentas eram temidas por todos em Portugal, com muita razão, e explicam os motivos da execução de D. Inês de Castro.

Protagonistas do drama
Um rei de tragédia
Afonso IV pai do infante Pedro, tem a dimensão de uma personagem de tragédia clássica, pois por razões de Estado teve de mandar degolar a mulher amada de seu filho, que era mãe de três dos seus netos. Este monarca teve uma vida atribulada. Ainda herdeiro do trono, envolveu-se em guerras com seu pai para se opor ao favoritismo que ele mostrava em relação a um filho bastardo, Afonso Sanches; mais tarde, já rei, voltou a guerrear esse seu irmão e depois teve de combater o rei de Castela; a seguir lutou ao lado de outros reis peninsulares contra os mouros, que ameaçavam conquistar de novo a Península e, por fim, teve de se defender do seu filho, o infante Pedro, que se revoltou contra ele por causa da morte de D. Inês de Castro. Além de mandar executar D. Inês de Castro, terá mandado decapitar um seu meio-irmão, o bastardo João Afonso, que saíra condenado num processo em que era acusado de alta traição. Foi um reinado pesado, mas mesmo assim Afonso IV foi-se preocupando com o sistema judicial». In Luís de Camões, Linda Inês, O Episódio Inesiano n’ Os Lusíadas, História de um Amor Fatídico, Introdução e Paráfrase de Jorge Tavares, Mel Editores, 2009, ISBN 978-989-635-069-7.

Cortesia de Mel Editores/JDACT