«As razões que levaram ao nascimento de Portugal, a nação europeia
que mais cedo demarcou as suas fronteiras definitivas, têm sido estudadas minuciosamente
por muitos autores. Chegou-se à conclusão clara de que Portugal não resulta de condições
geográficas específicas, como uma ilha, por exemplo; nem é o renascer de uma
etnia, pois é formado pela fusão de muitas. Desta forma, terá sido uma elite
política que construiu a nação e só com os séculos se foi cristalizando o
sentimento de ser português no povo. Dentro desta linha inclui-se o pensamento de
José Mattoso. Assim sendo, temos de destacar o carácter da elite que
formou o país dado que, após oito séculos, não tem um único foco desintegrador.
Nesta elite, como é historicamente indiscutível, os cavaleiros do Templo tiveram
uma enorme influência.
Uma coisa é certa: todas estas análises têm demonstrado um elevado
grau de mistério na origem de Portugal. Este mistério mantém-se, pois não
existe ainda hoje uma resposta satisfatória para que todos os restantes estados
da Península (Castela, Aragão, Navarra ...) se tenham reunido, com o tempo, na federação
da Espanha e Portugal tenha ficado de fora. Basta olhar para o mapa para nos
apercebermos do mistério. Não é nossa intenção desvendar este mistério, mas
somente dar um pequeno contributo para a percepção do mesmo.
A partir do século IX, época do conde Vímara Peres,
vai-se desenvolvendo na zona entre o Douro e o Minho uma certa identidade, de
tal forma que existem documentos pré-nacionais em que os portucalenses designam
os habitantes da Galiza como estrangeiros. Por que razão esta identidade se foi
formando, não se sabe. O conde Henrique, dois séculos após Vímara
Peres, criaria um laço forte com os senhores da região. Após a sua morte, D.
Teresa, ao aliar-se ao galego conde de Trava, corta com esse laço e
cria o mal-estar nas forças vivas da região, que vão conseguir ter no infante Afonso
o seu melhor aliado. Os dois blocos defrontam-se na célebre Batalha de S. Mamede,
no dia 24 de Junho de 1128, dia de São
João Baptista. Vencem as tropas dos barões portucalenses sob o comando
do jovem infante, futuro rei dos portugueses, Afonso Henriques. Esta
batalha marca simbolicamente o início de Portugal, sendo considerada a primeira tarde portuguesa. Havia no condado
portucalense um forte desejo de independência, tanto em relação à Galiza, como
face a Afonso VII de Castela. Este rei era muito mais poderoso que o pequeno condado,
razão pela qual, anos antes, D. Teresa tinha sido obrigada a
confirmar-lhe vassalagem. Segundo tudo
indica, o governo de D. Teresa foi activo e empreendedor. Entre muitas outras
medidas, acolheu os Templários por volta de 1125, doando-lhes primeiro a vila de Fonte Arcada (Penafiel)
e depois o castelo de Soure, com ampla extensão territorial para defesa
da fronteira sul do condado. Contudo, quando um povo sente dentro de si um
forte apelo de independência e tem líderes capazes, que entregam a sua alma a
essa missão, não se conforma enquanto não alcançar os seus desígnios. Foi o
que aconteceu. D. Teresa foi ultrapassada
pelos acontecimentos e o seu filho surgiu, como um raio, aos 17 anos, nesta antiga
Terra de Santa Maria».
In Paulo Alexandre Loução, Os Templários na Formação de Portugal,
Edições Esquilo, 9ª edição 2004, ISBN 972-97760-8-3.
continua
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