quarta-feira, 17 de abril de 2013

Os Templários na Formação de Portugal. Paulo Loução. «Vencem as tropas dos barões portucalenses sob o comando do jovem infante, futuro rei dos portugueses, Afonso Henriques. Esta batalha marca simbolicamente o início de Portugal, “sendo considerada a primeira tarde portuguesa”»

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«As razões que levaram ao nascimento de Portugal, a nação europeia que mais cedo demarcou as suas fronteiras definitivas, têm sido estudadas minuciosamente por muitos autores. Chegou-se à conclusão clara de que Portugal não resulta de condições geográficas específicas, como uma ilha, por exemplo; nem é o renascer de uma etnia, pois é formado pela fusão de muitas. Desta forma, terá sido uma elite política que construiu a nação e só com os séculos se foi cristalizando o sentimento de ser português no povo. Dentro desta linha inclui-se o pensamento de José Mattoso. Assim sendo, temos de destacar o carácter da elite que formou o país dado que, após oito séculos, não tem um único foco desintegrador. Nesta elite, como é historicamente indiscutível, os cavaleiros do Templo tiveram uma enorme influência.
Uma coisa é certa: todas estas análises têm demonstrado um elevado grau de mistério na origem de Portugal. Este mistério mantém-se, pois não existe ainda hoje uma resposta satisfatória para que todos os restantes estados da Península (Castela, Aragão, Navarra ...) se tenham reunido, com o tempo, na federação da Espanha e Portugal tenha ficado de fora. Basta olhar para o mapa para nos apercebermos do mistério. Não é nossa intenção desvendar este mistério, mas somente dar um pequeno contributo para a percepção do mesmo.
A partir do século IX, época do conde Vímara Peres, vai-se desenvolvendo na zona entre o Douro e o Minho uma certa identidade, de tal forma que existem documentos pré-nacionais em que os portucalenses designam os habitantes da Galiza como estrangeiros. Por que razão esta identidade se foi formando, não se sabe. O conde Henrique, dois séculos após Vímara Peres, criaria um laço forte com os senhores da região. Após a sua morte, D. Teresa, ao aliar-se ao galego conde de Trava, corta com esse laço e cria o mal-estar nas forças vivas da região, que vão conseguir ter no infante Afonso o seu melhor aliado. Os dois blocos defrontam-se na célebre Batalha de S. Mamede, no dia 24 de Junho de 1128, dia de São João Baptista. Vencem as tropas dos barões portucalenses sob o comando do jovem infante, futuro rei dos portugueses, Afonso Henriques. Esta batalha marca simbolicamente o início de Portugal, sendo considerada a primeira tarde portuguesa. Havia no condado portucalense um forte desejo de independência, tanto em relação à Galiza, como face a Afonso VII de Castela. Este rei era muito mais poderoso que o pequeno condado, razão pela qual, anos antes, D. Teresa tinha sido obrigada a confirmar-lhe vassalagem. Segundo tudo indica, o governo de D. Teresa foi activo e empreendedor. Entre muitas outras medidas, acolheu os Templários por volta de 1125, doando-lhes primeiro a vila de Fonte Arcada (Penafiel) e depois o castelo de Soure, com ampla extensão territorial para defesa da fronteira sul do condado. Contudo, quando um povo sente dentro de si um forte apelo de independência e tem líderes capazes, que entregam a sua alma a essa missão, não se conforma enquanto não alcançar os seus desígnios. Foi o que aconteceu. D. Teresa foi ultrapassada pelos acontecimentos e o seu filho surgiu, como um raio, aos 17 anos, nesta antiga Terra de Santa Maria».


In Paulo Alexandre Loução, Os Templários na Formação de Portugal, Edições Esquilo, 9ª edição 2004, ISBN 972-97760-8-3.

continua
Cortesia de Esquilo/JDACT