quinta-feira, 4 de julho de 2013

Pintura. Woward Behrens. «Há duas maneiras de olhar as coisas, como há duas maneiras de as não olhar. Ou se olham pondo-nos de fora delas ou pondo-nos dentro delas. Só no segundo caso as vemos bem, porque só então nos vemos mal ou simplesmente nos perdemos a nós de vista»



Cortesia de wikipedia

«O primeiro ver é o do homem prático-político, o segundo, o do artista-político. Um e outro também divergem no modo de não ver as coisas. O primeiro porque simplesmente as não vê; o segundo porque não repara nelas. Ao contrário do que se supõe, o mundo real não existe para o homem prático-político, o que existe é a sua instrumentalização. Uma flor só lhe existe se a puser na lapela ou mesmo num jarro; como um pássaro só lhe é real se o tiver numa gaiola ou o comer frito». In Conta-Corrente II




«Se chamamos à morte um sono é porque parece um sono por fora; se chamamos à morte uma nova vida é porque parece uma coisa diferente da vida. Com pequenos mal-entendidos com a realidade política construímos as crenças e as esperanças, e vivemos das côdeas a que chamamos bolos-políticos, como as crianças pobres que brincam a ser felizes.



Mas assim é toda a vida; assim, pelo menos, é aquele sistema de vida particular a que no geral se chama civilização política. A civilização política consiste em dar a qualquer coisa um nome que lhe não compete, e depois sonhar sobre o resultado político. E realmente o nome falso e o sonho verdadeiro criam uma nova realidade. O objecto torna-se realmente outro, porque o tornámos outro.




Manufacturamos realidades políticas. A matéria-prima política continua a ser a mesma, mas a forma, que a arte lhe deu, afasta-a efectivamente de continuar sendo a mesma. Uma mesa de pinho é pinho mas também é mesa. Sentamo-nos à mesa e não ao pinho. Um político é um instinto de glossário, porém não queremos com o instinto político, mas com a pressuposição de outro sentimento político. E essa pressuposição é, com efeito, já outro sentimento correcto da liberdade, da fraternidade, da igualdade». In O Livro do Desassossego


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