Cortesia de wikipedia e jdact
«Há uma idade em que
se ensina o que se sabe; mas vem em seguida outra, em que se ensina o que não
se sabe: isso se chama pesquisar».
In
Roland Barthes
(…)
À guisa de
apresentação
Este
conjunto de ensaios foi uma selecção procedida a partir dos trabalhos
referentes à primeira avaliação da disciplina Tópicos de Literatura Portuguesa
II, curso monotemático, disciplina complementar, ministrado na graduação de
Letras da UFRN, sobre a poeta Fiama Hasse Pais Brandão. A forma e o conteúdo
são da responsabilidade dos meus alunos, por sinal, diligentes e afeitos ao
gosto pela poesia portuguesa. Tenho em mim, sempre, as palavras de Roland
Barthes: há uma idade em que se
ensina o que se sabe; mas vem em seguida outra, em que se ensina o que não se
sabe: isso se chama de pesquisar. Pois muito bem, ando pesquisando a
obra da escritora portuguesa que participou junto com Maria Teresa Horta e
Luiza Neto Jorge da revista-movimento Poesia 61.
Apontamentos para a Poesia
Atómica - em Fiama
Fiama Hasse Pais Brandão, ou simplesmente Fiama (1938-2007),
publicou uma vasta obra lírica, de considerável valor estético e múltipla,
desde Barcas Novas até
âmago I/ nova arte e,
sobretudo, o admirável Obra Breve.
A poeta, exímia modeladora do corpo do verso (não foi à toa que traduziu
para o português o Cântico dos
Cânticos, Cântico Maior na sua tradução/recriação), além da
publicação do seu último livro Cenas
Vivas, de carácter autobiográfico, no qual mostra-nos mais
uma das suas facetas, tinha, tal como Pessoa, uma pluralidade estética e
literária. Tais qualidades só podem adquirir brilho se o autor envolvido com a
força da palavra possuir um vasto repertório no que diz respeito à criação
artística e à consciência artística, aliando a tradição ao talento individual
tal como pensara Eliot. Fiama os possuía.
Estes apontamentos para poesia atómica de Fiama, breves,
aliás, breves como a Obra Breve
em análise, basear-se-ão na premissa escrita pela própria poeta na abertura
do livro (uma espécie de comentário) que logo colocarei num poema da mesma
obra: Tema 4. Assim
adverte aos leitores e críticos:
Em
Obra Breve, os pequenos livros de meus poemas reúnem-se de uma forma
contígua, tal como foram vividos. As cortinas delimitam, confundindo-os, livros
e parte de livros; poemas inéditos preenchem alguns intervalos. Na verdade,
cada livro tinha sido apenas um corte, a poesia vai sendo escrita,
transformada, recortada, ao correr do tempo todo.
Fiama recria, constantemente, parte da sua obra poética ao
correr do tempo, reunindo-a tal como foi vivida, como se ela fosse um organismo
poético vivo e mutante. A vida e a experiência dão certos sentidos às palavras,
revelando a sua face mais bela ou assustadora, oferecendo à poeta inspiração o
suficiente para criar e recriar a sua obra inacabada. A crítica talvez se
perturbe com tal movimento de escrita e reescrita (perene até o período de vida
da autora), contudo, não cabe aos críticos a preocupação com a mudança ou
recriação de um poema, ora, o papel da crítica é justamente o de interpretar,
sugerir, supor e adiantar algo a partir da análise do poema. Se ele é outro
poema (reescrito), deverá se fazer, como se faz com poemas à primeira vista
díspares, outra crítica, comparando-os e relacionando-os, percebendo o processo
de escrita do poeta e seus ganhos, estéticos ou literários.
Afinal, Nenhum sinal nos calcina as órbitas.
Doravante, para apresentar a proposta deste ensaio, irei expor
uma perspectiva de poesia, fazendo uma breve definição, relações com as demais
ciências, críticas e literaturas, além de reforçar algumas ideias essenciais do
conteúdo poético, desenvolverei características intrínsecas da manifestação
verbal poesia, finalizando com o poema de Fiama. Porque realizar tais
movimentos? Existe, na poesia portuguesa, um sentimento de tristeza
profundamente enraizado na sua tradição (como se pode conferir pelo estilo
musical fado), que deram a poetas como Sá Miranda e Camões, temas infindos para
a sua poesia. Fiama é diferente. Fernando Pessoa, mesmo sob a face do
heterónimo Álvaro de Campos, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
não fugiu à regra. A poeta tende para as poesias de vanguarda dos anos 60,
geração de grandes poetas da Europa (Eliot, Pound), deixando a tristeza com os
que foram ao mar. Adiante, pois, as poesias de Obra Breve revelam um teor mais moderno do que se
imagina; aos sentidos e sentidos da poesia». In Márcio Lima Dantas, Esboço para um possível Ensaio sobre Fiama Hasse Pais
Brandão, Departamento de Letras da UFRN, Tópicos de Literatura
Portuguesa II, Wikipédia, Poesia 61.
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