terça-feira, 26 de maio de 2020

O Livro do Amor. Kathleen Mcgowan. «… da promessa dela de procurar um livro secreto que Ele escrevera com a própria divina mão, O livro do amor»

Cortesia de wikipedia e jdact

Rosso. La Beauce. França. 390 d. C.
«(…) Um guarda que estava do outro lado do cepo se aproximou para posicionar os prisioneiros. Modesta fez uma pergunta bem alto para que todos pudessem ouvir. Senhores, podem-nos permitir alguns minutos para rezarmos juntos? Os guardas olharam para onde estava o maligno irmão Timóteo, ansioso, prevendo o espectáculo que estava prestes a acontecer. Ele fora apanhado numa armadilha Como homem da Igreja não podia negar o pedido de oração. A Igreja é misericordiosa e permitirá uma breve oração se os hereges desejam arrepender-se.
Modesta foi para perto do marido e o encarou pela última vez. Naquele instante não havia cadafalso, nem machado, nem a terrível injustiça. Havia apenas amor quando repetiram a oração mais sagrada do seu povo, em uníssono.

Eu te amei no passado,
Eu te amo no presente,
E te amarei novamente.
O tempo retorna.

Modesta tocou os lábios do amado com os seus, num último beijo suave. Basta!
A ira do irmão Timóteo desfez o momento. Irritados, os guardas separaram o casal e os fizeram ajoelhar com empurrões, lado a lado, diante do bloco de madeira. Com a profunda calma que nasce de saber que apenas Deus os espera, Modesta e Potentian abaixaram a cabeça sobre o cepo. Continuaram a rezar baixinho e a uma só voz enquanto o primeiro machado desceu com uma pancada nauseante. O segundo caiu logo depois. A multidão não se manifestou. A sensação de luto e de tragédia pesava na atmosfera. Não foi a comemorada execução de hereges que irmão Timóteo esperava. E ele transmitiu sua visão impopular em alto e bom som. Que isso sirva de aviso para todos. A heresia não será tolerada no Sacro Império Romano!
O povo da cidade se dispersou no rasto desse aviso impiedoso, com expressões sérias e mais do que temerosas. Irmão Timóteo ignorou todos. Aproximou-se do cepo de madeira para falar com os carrascos. Não deixem nenhuma relíquia dos mártires para os hereges lamentarem. Joguem os dois no fundo do poço. É o mais próximo que posso chegar de mandá-los para o inferno eu mesmo. Irmão Timóteo olhou longamente e com satisfação para o corpo mutilado de Modesta quando os carrascos começaram a cumprir a sua tarefa mórbida. Obsessão tomou conta do rosto dele quando tirou escondido alguma coisa do bolso. Era um cacho do cabelo vermelho e brilhante de Modesta. Com a pastora morta, seria fácil controlar os carneiros. Ele guardou o fetiche de volta no bolso e passou por cima da poça de sangue de Modesta sem olhar para trás.

Cidade de Nova York, agora
Maureen Paschal, refestelada no luxo de lençóis e travesseiros de puro algodão, no quarto do hotel em Manhattan, reservado pela sua editora, se debatia na cama enorme. Tão agitada no sono, como era acordada, Maureen não dormia a noite inteira havia quase dois anos. Desde os acontecimentos sobrenaturais que levaram-na a descobrir o Evangelho de Maria Madalena, Maureen era uma mulher perturbada, no seu sono e nas horas de vigília. Quando tinha a sorte de cochichar algumas horas consecutivas, era perseguida por sonhos fortemente simbólicos ou aparentemente vívidos e literais. Desses sonhos recorrentes o mais perturbador era aquele em que ela encontrava Jesus Cristo e Ele falava misteriosamente da promessa dela de procurar um livro secreto que Ele escrevera com a própria divina mão, O livro do amor. Quando estava desperta, Maureen era atormentada por essas experiências oníricas; mas O livro do amor até ao momento continuava o mais completo mistério. Não havia como encontrar referências históricas de tal documento além de um punhado de lendas muito vagas que surgiram na França na Idade Média, antes de desaparecer por completo. Ela não tinha ideia de onde começar a procura para cumprir a sua promessa e encontrar esse espectro. Não tinha nem muita certeza do que era. E até aquele dia, o Senhor não lhe dera pista alguma para ajudá-la nessa busca. Maureen rezava fervorosamente todas as noites para não falhar na missão que lhe fora confiada e para obter alguma orientação e encontrar o ponto de partida para essa viagem estranha. Os acontecimentos sobrenaturais da sua vida, nos últimos anos, eram a prova que bastava para saber que aquela magia divinamente inspirada existia por toda parte. Só teria de ser paciente na sua fé, e esperar». In Kathleen Mcgowan, O Livro do Amor, O Legado de Maria Madalena, Rocco, 2009, ISBN 978-853-252-513-0.

Cortesia de ERocco/JDACT