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O Teatro em 1871
«(…) Esse mesmo
interesse tê-lo-á movido, embora com resultados bem menos relevantes, a
escrever duas peças, ambas em verso, baseadas na vida de duas grandes figuras
literárias: Gil Vicente (Auto por Desafronta)
e Correia Garção (Poeta por Desgraça),
que em 1869 foram incluídas no volume de poesias Torrentes. A última fora representada em 1865, no Teatro
Académico de Coimbra, tendo Eça de Queirós interpretado o protagonista. Motivos
vicentinos inspiraram ainda a Teófilo o auto O Lobo da Madragoa, integrado no 2.º volume da colectânea Folhas Verdes, editada
igualmente em 1869. Tempos depois, em 1907, com os cinco actos, enquadrados por
um prólogo e um epílogo, de Gomes Freire,
reincidiria no drama histórico, que, invocando o Shakespeare de Júlio César e o Schiller de Guilherme Tell, contrapunha à
tragédia antiga, considerando-o a expressão teatral moderna por excelência, na
medida em que nos pode apresentar os altos caracteres, como tipos de imitação,
e dar-nos a lição objectiva dos grandes sucessos como uma animada experiência sociológica.
Um propósito semelhante animara Oliveira Martins (1845-1894) a conceber o
projecto de um ciclo de quatro peças históricas, que todavia nunca chegou a realizar
mas de que confidenciou a Teófilo Braga, numa carta datada de 1869, os títulos
e os temas: A Tragédia do Jogral,
em que aspirava a desenhar, dentro do movimento nacional português de
emancipação dos servos, o carácter da Idade-Média, pela formação da consciência
dentro do animal»; Afonso VI, tragédia
histórica, simbolizando o cair do direito divino e da autoridade política; O Abade, luta confusa de elementos
religiosos, políticos e económicos da sociedade actual; e O Mundo Novo, tragédia
ideal representando a fusão e compreensão do espírito com a carne, da ciência
com a consciência, o encerramento da Idade-Média, a continuação da antiguidade
alargada por todas as descobertas do mundo moral.
Mais activa seria a
participação de Guilherme Azevedo, (1839-1882), o poeta revolucionário da Alma Nova, que se reunira
ao grupo coimbrão quando este se deslocou para Lisboa entre 1870 e 1871: além
de uma tradução de Sardou. (Andréa,
1876) e de uma opereta francesa, escreveu uma comédia-drama em quatro actos, Rosalino, e, em colaboração
com Guerra Junqueiro, a revista do ano Viagem à Roda da Parvónia. A primeira, definida por
Rafael Bordalo Pinheiro como a expressão espirituosa da sensaboria lisboeta,
estreou-se no Teatro Nacional em 1877, mas foi hostilmente recebida pelo público
e pela crítica; mais tarde, o autor reduziu-a a três actos, eliminando a parte
dramática e refundindo a parte cómica, subindo então de novo à cena no Teatro
do Ginásio, mas desta vez com assinalado êxito. Neste mesmo Teatro se
representou, a 17 de Janeiro de 1879, a revista escrita de parceria com
Junqueiro, anunciada nos cartazes como relatório em quatro actos e seis quadros,
da autoria de Gil Vaz (comendador)», que seria pateada das dez à meia-noite e
proibida no Governo Civil à uma da madrugada. Dela falaremos mais desenvolvidamente
no capítulo dedicado ao teatro de revista, limitando-nos por agora a citar
Antero Quental (que em 1875 havia traduzido, com Jaime Batalha Reis, o libreto
da ópera-cómica O Degelo,
posta em música por Augusto Machado): numa das curiosas notas incluídas na
sua edição em livro, o autor dos Sonetos
caracterizou-a como a descrição da sociedade de Lisboa, na variedade
pitoresca das suas pequenas e não pequenas misérias morais e intelectuais, com
os seus ridículos e as suas baixezas, as suas pretensões e a sua ignorância, o
seu descaramento e o seu vazio». In Luiz Rebello, O Teatro Naturalista e
Neo-Romântico (1870-1910, Série Literatura, volume 16, Instituto de Cultura
Portuguesa, Livraria Bertrand, 1978, Centro Virtual Camões, Instituto Camões.
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