segunda-feira, 18 de maio de 2020

O Diamante de Jerusalém. Noah Gordon. «Outros foram recrutados. Quando se reuniram seu número era duas vezes sete e por isso talvez a sua boa sorte fosse dupla, mas Baruch receava que fossem demais. Um informante podia destruí-los»

Cortesia de wikipedia e jdact

A Perda
Genizah
«Baruch acordava todas as manhãs esperando ser preso. A folha enrolada, em branco, era feita de cobre de boa qualidade, laminada a mão e alisada até ficar fina como pele. Eles a puseram num saco e levaram às escondidas, como ladrões que eram, para uma pequena caverna num campo árido e deserto. Era escuro dentro da caverna, apesar do céu completamente azul lá fora. Ele encheu de óleo a lâmpada, acendeu e a pôs sobre a rocha plana. Três dos jovens conspiradores ficaram no lado de fora com olhos atentos e um odre de pele cheio de shekar, fingindo que estavam bêbados. O homem mais velho quase não ouvia as vozes deles. A dor no seu peito tinha voltado e suas mãos tremiam quando apanhou a marreta e a sovela. As palavras de Baruch, filho de Neriah ben Maasiah dos sacerdotes que estavam na Antioquia na terra de Benjamin, a quem a ordem de guardar os tesouros do Senhor havia chegado por intermédio de Jeremiah o filho de Hilkiahu, o Kohen, no tempo de Zedekiah, filho de Josiah, rei de Judá, no ano nove do seu reino.
Isso foi tudo que Baruch escreveu no primeiro dia. Quando o documento estivesse terminado, essas palavras iniciais seriam uma confissão que significava morte se o documento fosse descoberto antes da chegada dos invasores. Mas ele sentiu que precisava deixar registado que não eram criminosos comuns. Jeremiah havia dito a ele o que o Senhor queria que fizessem. No fim, Baruch compreendeu que o amigo estava dizendo que deviam roubar do templo, objectos consagrados do lugar sagrado. Nabucodonosor está brincando com o Faraó-necoh. Quando suas hordas terminarem o saque no Egipto, virão para cá. O templo será queimado e os objectos levados ou destruídos. A ordem do Senhor é para que os objectos sagrados sejam retirados e escondidos até o tempo em que possam ser usados outra vez para adorá-Lo. Diga aos sacerdotes. Já disse. Quando é que a casa de Bukki ouve a palavra do Senhor? Baruch se afastou claudicando, tão depressa quanto permitia a sua perna aleijada. Ele estava morrendo, por isso seus dias eram mais preciosos do que nunca. O risco o enchia de terror.
Ele conseguiu afastar as palavras da mente até ao dia em que os nómadas selvagens, que geralmente passavam muito longe da cidade, chegaram aos portões e pediram protecção. Algumas horas mais tarde, as estradas para Jerusalém estavam repletas de refugiados fugindo desesperadamente do mais terrível exército. Jeremiah o encontrou. Baruch viu a luz nos olhos do profeta que alguns diziam ser de loucura e outros diziam que era a iluminação do Senhor. Agora eu ouço a voz Dele. O tempo todo. Não pode esconder-se? Eu tentei. Ele me encontra. Baruch ergueu a mão e tocou a barba do profeta, tão branca quanto a sua e sentiu partir o seu coração. O que Ele quer que eu faça?, perguntou.
Outros foram recrutados. Quando se reuniram seu número era duas vezes sete e por isso talvez a sua boa sorte fosse dupla, mas Baruch receava que fossem demais. Um informante podia destruí-los. Ficou atónito com alguns conspiradores, vendo que eram contra a casa de Bukki, a família de sacerdotes que controlava o Templo. Shimor, o Levita, chefe da casa de Adijah, era o guardião do tesouro. Hilak, seu filho, era encarregado do inventário e da preservação dos objectos sagrados. Hezekiah controlava os guardas do Templo, Zecheraia comandava os guardas do portão e Haggai cuidava dos animais de carga. Outros foram levados por Jeremiah porque eram jovens, pela sua força. Logo chegaram a um acordo sobre um pequeno número de objectos que deviam ser escondidos. As tábuas da lei. A arca e o manto que a cobria. O querubim de ouro. Mas depois disso, discutiram acaloradamente.
Alguns dos melhores objectos deviam ser abandonados. Objectos maciços estavam condenados. A Menorah. O altar do sacrifício. O mar derretido com seus maravilhosos touros de cobre, e os pilares cor de bronze, ornamentados com lírios e romãs de bronze. Resolveram esconder o Tabernáculo. Era transportável e mantido desmontado, pronto para a mudança. E as fechaduras e pregos do tabernáculo, todos de ouro, feitos há novecentos anos pelo artesão do Senhor, Bezalel ben Uri. O peitoral do Sumo Sacerdote, adornado com doze pedras preciosas, cada uma doada por uma tribo. As trombetas de ouro que haviam chamado os israelitas. A tapeçaria antiga maravilhosamente confeccionada, que cobria o Portão do Sol». In Noah Gordon, O Diamante de Jerusalém, 1979, Bertrand Editora, 1998, ISBN 978-972-251-041-7.

Cortesia de BertrandE/JDACT