(1685-1724)
Santos, Brasil
Cortesia de wikipédia
Bartolomeu Lourenço de Gusmão, foi um sacerdote secular, cientista e inventor nascido no Brasil, famoso por ter inventado o primeiro aeróstato operacional. Cognominado o Padre Voador, é uma das maiores figuras da história da aeronáutica mundial. Bartolomeu de Gusmão foi o quarto filho de Francisco Lourenço e Maria Álvares. O casal teria tido ao todo doze descendentes, seis homens e seis mulheres, um dos quais, Alexandre de Gusmão, viria a tornar-se importante diplomata no reinado de D. João V. Já a maioria dos seus irmãos optou ou foi orientada pelos pais a devotar-se à vida eclesiástica, dentre esses, Bartolomeu. A primeira ideia digna de nota, deu-se no seminário, uma edificação situada num monte de 100 metros de altura. Possuíndo precário abastecimento de água, que tinha que ser captada e transportada em vasos a partir de um brejo subjacente. Bartolomeu, inteligentemente planejou e construiu um maquinismo para levar a água do brejo até ao seminário por meio de um cano. O invento, testado com absoluto sucesso, foi considerado admirável e de grande utilidade. Terminado o curso no Seminário de Belém em 1699, Bartolomeu transferiu-se para Salvador, capital do Brasil à época, e ingressou na Companhia de Jesus, de onde saiu antes de ser ordenado, em 1701.
Em 1702, Bartolomeu deu início ao processo de sua ordenação sacerdotal. Três anos depois requereu a patente para o aparelho inventado anos antes, «invento para fazer subir água a toda a distância e altura que se quiser levar». A patente foi expedida em 23 de Março de 1707 pelo rei D. João V. Foi essa a primeira patente de invenção outorgada a um brasileiro.
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Na capital portuguesa o padre Bartolomeu de Gusmão pediu patente para um «instrumento para se andar pelo ar», que se revelaria ser, mais tarde, o que hoje se conhece por aeróstato ou balão, a qual foi concedida no dia 19 de Abril de 1709. O facto causou admiração na cidade e a notícia rapidamente se espalhou por alguns reinos europeus. O invento, divulgado por meia Europa em estampas fantasiosas que, em geral, o retratavam como uma barca com formato de pássaro, ficou conhecido como «Passarola».
Gravura austríaca de 1709
Cortesia de dererummundi
As primeiras ilustrações da Passarola foram elaboradas pelo filho primogênito do 3º Marquês de Fontes, com a conivência de Bartolomeu. O 8º Conde de Penaguião e futuro 2º Marquês de Abrantes contava 14 anos em 1709 e era aluno de matemática do padre. Sendo a única pessoa à qual ele permitia livre acesso ao recinto em que o engenho voador era guardado. Como o rapaz vivesse assediado por curiosos, que constantemente lhe faziam indagações acerca da invenção, resolveu ele, para deixar de ser importunado, elaborar o exótico desenho da Passarola, em que tudo era propositadamente falseado. E para preservar o verdadeiro princípio da invenção, o Princípio de Arquimedes, atribuiu a ascensão da engenhoca ao magnetismo, que era então a resposta para quase todos os mistérios científicos. Esperava dessa maneira melhor proteger o segredo confiado à sua guarda e ludibriar os bisbilhoteiros. Comunicou o plano a Bartolomeu, que o aprovou, e fingiu deixar o desenho escapar por descuido. A Passarola, inspirada ao que parece na fauna fabulosa de algumas lendas do Brasil, acabou sendo rapidamente copiada, logo se espalhando pela Europa em várias versões, para grande riso dos dois embusteiros.
(RÓMULO DE CARVALHO,«Os desenhos da Passarola do Padre Voador»)
Toda essa trama seria descoberta anos depois por um poeta italiano, Pier Jacopo Martello (1625-1727), e revelada por ele na edição de 1723 do livro Versi e prose, em que fazia um longo e meticuloso histórico das tentativas do homem para voar, das mais antigas às mais recentes daquele tempo.
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Em Agosto, finalmente, Bartolomeu de Gusmão fez perante a corte portuguesa cinco experiências com balões de pequenas dimensões construídos por ele:
- Na primeira, realizada no dia 3 na Casa do Forte (Palácio Real), o protótipo utilizado pegou fogo antes de subir;
- Na segunda, feita no dia 5 noutra dependência do palácio, a Casa Real, o balão, provido no fundo duma tigela com álcool em combustão, elevou-se a 4 metros, quando começou a arder ainda no ar, sendo imediatamente derrubado por dois serviçais armados de paus, receosos dum incêndio aos cortinados do recinto;
- Na terceira, feita no dia 6 novamente na Casa do Forte, o balão, contendo no interior uma vela acesa, logrou fazer um vôo curto, mas queimou-se no pouso;
- Na quarta, feita no dia 7 no Terreiro do Paço, o balonete elevou-se a grande altura, pousando lentamente minutos depois;
- Na quinta, feita no dia 8 na Sala das Audiências, no interior do Palácio Real, o globo subiu até ao tecto do aposento, aí se demorando, quando enfim desceu com suavidade.
Em 3 de Outubro de 1709, na ponte da Casa da Índia, o padre fez nova demonstração do invento. O aparelho utilizado era maior que os anteriores, mas ainda incapaz de carregar um homem. A experiência teve êxito absoluto:
- o balão subiu alto, flutuou por um tempo não medido e pousou sem estrépito.
Cinco testemunhas registraram essas experiências, o cardeal italiano Miquelângelo Conti, eleito papa em 1721 sob o nome de Inocêncio XIII, os escritores Francisco Leitão Ferreira e José Soares da Silva, nomeados membros da Academia Real de História Portuguesa em 1720, o diplomata José da Cunha Brochado e o cronista Salvador Antônio Ferreira, portugueses.
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Em 1843 o escritor Francisco Freire de Carvalho disse haver tomado conhecimento, por intermédio de um ancião chamado Timóteo Lecussan Verdier, de uma outra experiência aerostática, assistida pelo diplomata português Bernardo Simões Pessoa, em que o balão partiu da Torre de São Roque e caiu junto à costa da Cotovia por detrás de S. Pedro d’Alcântara. Segundo Carvalho, Verdier, por sua vez, assegurava que o relato da ascensão lhe fora transmitido pelo próprio Pessoa em tempos muito anteriores ao ano de 1783, quando dos primeiros voos de balões na França.
Lamentavelmente, todas essas experiências, embora assistidas por ilustres personalidades da sociedade portuguesa da época, não foram suficientes para a popularização do invento. Os pequenos balões exibidos, além de não haverem sido encarados como inovação importante ou útil, por serem desprovidos de qualquer tipo de controle, eram levados pelo vento, foram considerados perigosos, pois podiam, como se vira, provocar incêndios. Esses factores desestimularam a construção de um modelo grande, tripulável.
Entre 1713 e 1716 viajou pela Europa. Em 1713 registrou na Holanda o invento de uma «máquina para a drenagem da água alagadora das embarcações de alto mar» patente que só veio a público em 2004 graças a pesquisas realizadas pelo arquivista e escritor brasileiro Rodrigo Moura Visoni.
Viveu em Paris, trabalhando como ervanário para se sustentar, até que encontrou o seu irmão Alexandre, secretário do embaixador de Portugal na França.
O padre Bartolomeu de Gusmão voltou a Portugal, mas foi vítima de insidiosa campanha de difamação. Acusado pela Inquisição de simpatizar com cristãos-novos, foi obrigado a fugir para a Espanha, no final de Setembro de 1724, com um seu irmão mais novo, Frei João Álvares.
Segundo o testemunho que, mais tarde, João Álvares daria à Inquisição espanhola, Bartolomeu de Gusmão ter-se-ia convertido ao judaísmo, em 1722, depois de atravessar uma crise religiosa. O relato de João Álvares ao Santo Ofício, ainda que deva ser considerado com cautela, mostra, segundo Joaquim Fernandes, aspectos místicos, messiânicos e megalômanos do «Padre Voador».
Cortesia de dererummundi
Em Toledo (Espanha), Bartolomeu adoece gravemente, recolhendo-se ao Hospital da Misericórdia daquela cidade, onde veio a falecer em 18 de novembro de 1724, aos 38 anos. Antes de morrer, porém, confessou-se e recebeu a comunhão, conforme o rito católico, e assim foi sepultado na Igreja de São Romão, em Toledo. Foram feitas, ao longo de décadas, várias tentativas para localizar a sua tumba, o que só ocorreu em 1856. Parte dos restos mortais foi transportada para o Brasil e se encontra, desde 2004, na Catedral Metropolitana de São Paulo.
O irmão Alexandre chegou a ocupar o cargo de secretário do rei D. João V e tornou-se conhecido como o negociador que consolidou as fronteiras brasileiras expandidas para oeste pelos bandeirantes.
Figura como uma das personagens centrais de Memorial do Convento, romance de José Saramago.
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